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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e o que poderá vir após a pandemia de coronavírus e também a ‘isso daí’

Pós “issudaí”

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Em março, quando a pandemia nos pegou de surpresa, escrevi um texto cujo título era “O dia seguinte”, também publicado nesse espaço gentilmente cedido pelo Claudemir Pereira.

Relendo aquele pequeno artigo quatro meses depois, constato que, infelizmente, minhas previsões estavam corretas: por um lado, a emergência de uma crise econômica e social sem precedentes em tempos de paz, agravada pela precarização do mercado de trabalho e pelo desmonte dos instrumentos de inclusão e amparo social; por outro, uma enorme tragédia sanitária, potencializada pela verborragia de um governante que combina incapacidade e irracionalidade em quantidades equivalentes.

Setenta e sete mil mortos depois, o pessimismo do texto de março parece leve diante do que já aconteceu e do que, ao que parece, ainda está por vir. No país que não tem ministro da Saúde há 60 dias, quase não existe apoio efetivo às pequenas e médias empresas e as trapalhadas e falhas no auxílio emergencial abundam. Ao mesmo tempo, persiste o desprezo pela ciência e estoca-se cloroquina suficiente para 18 anos de consumo…

Se ainda não entramos em colapso social completo é porque, nesse quadro, também há valorosos e valorosas profissionais de saúde, especialmente no SUS, e fartos exemplos de solidariedade entre pessoas e comunidades. E porque persiste a bendita capacidade do povo brasileiro em improvisar para sobreviver, nossa maior fortaleza em tempos de crise.

Nessa distopia quotidiana em que mergulhamos, para que a esperança não morra é preciso resistir, por mais difícil que pareça. Resistir e agir, pois não há outras opções para quem se nega a abandonar a vida.

Com esse espírito, penso que resistência ao vírus e ao verme é, provavelmente, o maior desafio que nossas gerações enfrentarão. Se não conseguirmos vencer, os tempos subsequentes serão sombrios, a vida terá pouco valor e armas, muros e grades não serão suficientes para conter a explosão da barbárie.

Mas, se for possível vencê-los, será como concluir a travessia de um deserto muito árido, deixando para trás um mundo marcado pelo egoísmo criminoso das elites semiescravocratas. Transposto o obstáculo, poderemos iniciar outra etapa da vida, onde um pós-capitalismo sustentável e socialmente justo poderá emergir.

Provavelmente, não verei a plenitude desse novo momento da história humana e, talvez, ninguém que é adulto hoje a veja. A bem da verdade, é muito provável que essa utopia nunca seja plenamente alcançada.

Penso, porém, que nada disso importa, desde que haja um motivo para que continuemos a busca e, nesse movimento sem fim, façamos com que as coisas primeiro deixem de piorar para que, logo em seguida, voltem a melhorar. Não buscamos a perfeição, por certo, mas um mundo onde um mínimo de igualdade social, o respeito às diferenças humanas e a busca da felicidade estejam em equilíbrio. Algo tão elementar que, ao que parece, até as emas do Palácio da Alvorada apoiam a nossa luta.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a foto:  ema, ave típica do pampa e do cerrado, fotografada em Bagé.

 

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