ARTIGO. Valdeci Oliveira e a eleição de Lourdes Dill presidente do Conselho de Segurança Alimentar
A determinação da Irmã Lourdes a serviço da segurança alimentar santa-mariense
Por VALDECI OLIVEIRA (*)
Dentre os dramas que temos vivido nos últimos meses, principalmente em nosso país, uma boa notícia chega para acalentar nossas expectativas e desejos por um Brasil melhor. Uma das nossas mais ilustres cidadãs santa-marienses e grande referência nacional quando tratamos de inclusão social, a Irmã Lourdes Dill passou a coordenar, nesta semana, como presidente, um segmento fundamental da sociedade civil organizada, o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Maria. Desde 2003, o Consea, em seu braço nacional, atua na elaboração e na construção de políticas públicas que buscam colocar em prática ações do sempre necessário combate à fome.
E isso não é pouca coisa neste momento. A FAO, organismo vinculado à ONU que se debruça sobre as questões ligadas à alimentação e à agricultura, vem disparando alertas de que as práticas do governo federal, pelo menos desde 2017 e agravadas a partir do ano passado, indicam que Brasil deverá voltar a ser incluído no indesejado Mapa da Fome, levantamento estatístico que mede a relação de países que possuem mais de 5% da sua população com acesso a índices calóricos inferiores ao que se entende como fundamental para a manutenção de uma vida minimamente digna. Desde 2014, após uma série de programas implementados nacionalmente, o país não figurava nesta famigerada lista. Mesmo que ainda existisse um longo caminho a ser percorrido, se tratava de um fantasma que não mais aterrorizava a parte marginalizada e excluída da nossa sociedade. Desnecessário sublinhar que a pandemia que estamos atravessando tende a piorar esse quadro.
O Consea – que a Irmã Lourdes irá coordenar em Santa Maria – tem uma bonita história, iniciada uma década antes de sua oficialização pelas mãos e desejo de outra bela figura humana, nosso saudoso Herbert de Souza, o Betinho, que articulou e lutou incansavelmente pela criação do movimento Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida. A ideia de Betinho, que dizia que “quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe foi negado”, ganharia corpo e maior capilaridade quando encampada pelo ex-presidente Lula e transformada no programa Fome Zero e posteriormente no Bolsa Família. Ou seja, a Irmã Lourdes, que também participou dessa construção, está no lugar certo e na hora certa.
Para aqueles que possuem pouca familiaridade com o tema, a importância do Consea pode ser medida – e resumida – pela reação do governo Bolsonaro à entidade. Tão inepto quanto contrário a tudo o que estiver relacionado a direitos sociais logo que tomou posse, ele editou uma medida provisória, a MP 870, extinguindo esse Conselho, assim como outros conselhos que contam com a participação efetiva da sociedade civil. Mas pelo bem coletivo, a insanidade governamental foi barrada pela justiça brasileira.
Coordenadora do projeto Esperança/Cooesperança da Diocese de Santa Maria e da Feicoop, que deu ao nosso município o justo título de capital internacional da Economia Solidária, ambas iniciativas construídas ao lado de outros lutadores sociais e de um dos seus mais nobres representantes, Dom Ivo Lorscheiter, a Irmã Lourdes já integrava o Conselho Municipal de Segurança Alimentar, onde imprimia uma batalha diária para que o poder público local fizesse a sua parte neste processo que mais do que uma questão política e de direito, é humanitária.
Uma interessante coincidência: Irmã Lourdes tomou posse no Consea pouco antes do Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado no dia 4 de julho (neste sábado), um tema que defende com o mesmo emprenho e dedicação que dispensa às suas ações em defesa dos mais vulneráveis, do meio ambiente, pela igualdade de direitos, pela solidariedade e pela distribuição justa da renda.
Para entender o trabalho de Irmã Lourdes, que muito nos inspira, reproduzo uma fala do Papa Francisco, utilizada por ela própria numa ocasião em que buscava explicar um pouco da sua visão de mundo: “Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. Não importa quão difícil seja… A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.”
Obrigado, Irmã Lourdes! E boa sorte no desafio do Consea! Mais uma vez, caminharemos juntos com você no enfrentamento pesado à fome e às desigualdades,
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287
Observação do editor: a foto (do articulista com a Irmã Lourdes Dill) é uma reprodução do Facebook.
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