BrasilCiênciaDestaque

COLUNA. José Mauro Batista faz a apaixonada defesa da ciência, discriminada, mas fundamental para o país

Ciência é fundamental. Por que negá-la ao cidadão?

Por JOSÉ MAURO  BATISTA (*)

Fui uma criança muito curiosa e, por isso, coisas ligadas à física e à química me atraíram desde cedo. Derretia plástico, fazia carrinhos, soldava brinquedos e gostava de testar misturas. Aos seis, sete anos de idade, resolvi fabricar uma bomba caseira. Peguei um velho lampião, coloquei Detefon (um inseticida) e álcool e um pouquinho de água, imaginando que a água reduziria o impacto da bomba. Acendi o pavio e me afastei do artefato inflamável, que provocou um estouro e jogou o lampião a alguns metros. Por sorte, nem eu nem minha irmã, que era mais nova, nos machucamos. Só não escapei do castigo imposto pela minha mãe.

Ao longo de minha adolescência e juventude, segui fazendo experiências e comprando livros sobre eletrônica, mecânica e mágica para entender os truques. Também participei de feiras de ciência. Num desses experimentos com luzes de diferentes tonalidades e plantas, nosso grupo da feira de ciências estourou lâmpadas (não era esse o objetivo do trabalho e sim verificar como diversos tipos de plantas reagiam à exposição de diferentes lâmpadas coloridas). Com orientação de professores, chegamos a algumas explicações para o nosso trabalho de verificação (e até para o acidente). Mesmo crianças, sabíamos que tudo aquilo e muito mais já havia sido feito por cientistas e curiosos, mas o fascínio da experiência não deixou de existir.

Nas escolas em que estudei, em São Luiz Gonzaga, não havia laboratórios. No estabelecimento em que cursei o antigo 2º grau (atual ensino médio), havia o que restou de um bom laboratório, no qual chegamos a conhecer alguns instrumentos, entre eles pipetas e microscópios. Mas como estava sucateado, restou pouca estrutura. Daí ficava mais difícil aprender química, matemática e física. E era aquela dor de cabeça com a velha decoreba de fórmulas. Somos partes, certamente, de gerações frustradas pelo que deixamos de aprender.

A falta de equipamentos como bibliotecas e laboratórios é um grande problema das escolas públicas brasileiras e um atestado da desigualdade entre os estudantes de diferentes classes sociais. Até mesmo universidades carecem de estrutura para ensino e pesquisa, o que é uma prova inequívoca de que os governos investem quase nada em ciência. Nossa pobreza em termos de ciência e tecnologia, apesar de alguns oásis, é o que nos faz escravos de nações mais desenvolvidas. A nossa dependência tecnológica nos torna subjugados. E nossos cérebros e talentos acabam indo para fora do país.

Uma nação só se torna independente com incentivo maciço à produção científica e isso passa, obviamente, pelo ensino das ciências desde a tenra infância. Aliada a outros conhecimentos e habilidades, como filosofia, jogos e esportes, a educação científica torna as pessoas menos dependentes da busca por soluções mágicas para os problemas e as livra da ignorância completa e da exploração por parte de quem tem mais conhecimento.

Aprender o básico do básico de física, química e matemática não é algo que deveria estar tão distante do chamado cidadão comum.  É triste viver em um país onde a maioria dos estudantes não dispõe sequer de um computador em casa para aulas online durante uma pandemia. É desanimador ver que a maioria das escolas sequer dispõe de bibliotecas atualizadas e de recursos audiovisuais para tornar as aulas mais interessantes. No caso da educação pública, é inevitável que candidatos a prefeito e a vereador pensem nesse tema, pois a base de uma boa educação começa no que é responsabilidade dos municípios.

Em tempo: Para curiosos, indico a leitura de A Realidade Oculta (Universos Paralelos e as Leis Profundas do Cosmo), do físico norte-americano Brian Greene. Ele aborda, em linguagem mais acessível a não cientistas, temas complexos como a teoria de cordas, que estuda a possibilidade de existência de outras dimensões e outros mundos que não conseguimos ver.

(*) José Mauro Batista é jornalista. Até recentemente, editor de Região do Diário de Santa Maria. Antes foi repórter e editor do jornal A Razão. Escreve no site semanalmente, aos domingos.

Observação do Editor: A foto que ilustra esta coluna, sem autoria determinada, é uma reprodução do site de imagens gratuitas Pixabay.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Um Comentário

  1. No Brasil tudo que depende do público não funciona direito. Saude, educação e, em muitos lugares, segurança. Pagamos impostos e, para quem pode, é necessário a escola particular, o plano de saúde. Que, vamos combinar, não são nenhuma Brastemp.
    Sugestão obviamente é para ‘estabelecer credenciais’. A minha é diferente. Física teórica esta atolada há uns 40 anos. Paradigma da teoria das cordas é no mínimo controversa. Sugiro ‘Terra, Um Planeta Inabitável? Da Antiguidade Até Os Nossos Dias Toda A Trajetória Poluidora Da Humanidade’ de Hans Liebmann. Num bom sebo se encontra. Barato. Publicado pela Biblioteca do Exercito. Em 1979. Bem menos ‘Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto…’.

Deixe um comentário para O Brando Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo