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COVID. Distanciamento Controlado passou a contar também com componente até aqui ausente: a política

Mudanças não foram pacíficas dentro do governo liderado por Eduardo Leite (PSDB). O componente político passou a ser considerado

Do Correio do Povo, com texto de FLÁVIA BEMFICA e foto de GUSTAVO MANSUR (Palácio Piratini)

As alterações válidas a partir desta quarta-feira, que tornam menos restritivas as regras da bandeira vermelha, permitindo abertura em horário reduzido do comércio, restaurantes e parte dos serviços, marcam o que dentro do Executivo estadual está sendo definido como segunda fase do modelo de Distanciamento Controlado. A etapa é informalmente chamada de ‘política’, enquanto a primeira era a ‘técnica’. As mudanças não foram pacíficas dentro do governo e tanto técnicos como políticos pretendem estabelecer uma espécie de linha divisória, de forma a deixar as diferenças, e seus desdobramentos, bem marcados.

Anunciado como uma inovação em maio, o modelo começou a ser implementado com uma rigorosa estrutura de cruzamento de dados e indicadores. Mas, com o passar do tempo, os técnicos, que gestaram o distanciamento controlado e o ‘colocaram para rodar’, foram perdendo cada vez mais espaço para as contestações sucessivas de prefeitos, as pressões de entidades empresariais e as reclamações de deputados e lideranças políticas aliadas.

Nas últimas semanas, dentro do governo, somente o governador Eduardo Leite (PSDB) e a coordenadora do Comitê de Dados, Leany Lemos, faziam uma defesa mais enfática do modelo. Os secretários do Planejamento, Governança e Gestão, Claudio Gastal, e da Saúde, Arita Bergmann, que inicialmente também se colocavam de forma mais objetiva, foram gradativamente adotando uma postura de observadores. Na tentativa de diminuir as reclamações, mesmo enfrentando resistência entre os técnicos, Leite promoveu flexibilizações sucessivas.

Mas, ao invés de acalmarem prefeitos e setores produtivos, elas fizeram aumentar as pressões. Entre deputados aliados, o entendimento é de que, apesar do carisma e da segurança com que vem conduzindo o enfrentamento à pandemia, também pesou o fato de o governador não pertencer a uma sigla estruturada o suficiente no Estado para fazer frente as outras grandes (aliadas ou não, como PP, PTB, MDB, PT e PDT), com alta capilaridade nas cidades. “Por melhor que seja uma política, qualquer governante precisa ter onde se apoiar”, resume um dos interlocutores do Executivo.

Aconselhados há semanas a adotarem posições um pouco mais elásticas dentro do modelo matemático, fazendo ajustes quando os indicadores resultavam em uma cor de bandeira, mas eram muito próximos de outra, mais branda, os técnicos optaram por manter a definição conforme os números exatos. Mesmo sabendo que, após as rodadas semanais de recursos dos prefeitos, a cor mudaria. A sistemática acabou por desgastar o modelo e fazer correr o entendimento do “leva quem gritar mais alto.” Inicialmente, as pressões eram transmitidas por intermédio do chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, e do líder do governo na Assembleia, deputado Frederico Antunes, ambos do PP.

Mas acabaram se espalhando entre parlamentares da base e, no Executivo, encontraram vazão também no gabinete do vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior (PTB) e, com mais intensidade,  na Secretaria de Articulação e Apoio aos Municípios. A pasta é comandada pelo petebista Agostinho Meirelles Neto, que, conforme apontam colegas de administração, “cresceu” na transição da primeira para a segunda fase do modelo. Com o afastamento de Leany, que após ter deixado a Secretaria do Planejamento, se prepara para deixar também o Comitê de Dados e assumir a presidência do BRDE ainda neste mês, a área técnica viu sua influência minguar ainda mais.

Fora do núcleo de governo, entre gestores municipais, o questionamento de critérios estritamente técnicos e o avanço dos aspectos políticos se mostraram independente de ideologias e diferenças partidárias. Enquanto nacionalmente as críticas ao distanciamento social e a restrições mais duras ao funcionamento de atividades econômicas são mais associadas a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e grupos alinhados à direita, no RS elas encontram defensores entre todos os espectros. Desde a implantação do modelo de distanciamento, por exemplo, lideranças petistas questionaram a divisão de regiões demarcada pelo governo tucano. Em suas localidades, parte de deputados e líderes municipais da sigla, não raro, endossam de forma reservada pedidos de reabertura feitos por comerciantes.

A postura do presidente da Famurs e prefeito de Taquari, Emanuel Hassen (PT), sobre as flexibilizações contrasta com aquela mantida pelo comando anterior da entidade, no qual o pedetista Eduardo Freire, prefeito de Palmeira das Missões, adotava tom mais cauteloso, defendia medidas ‘firmes’ no combate ao coronavírus e a manutenção do gerenciamento do modelo de distanciamento nas mãos do governo estadual. Hassen, por sua vez, divulga amplamente a influência na costura das mudanças atuais junto ao Executivo.

“Hoje, a Famurs teve papel fundamental para modificar e ajustar o modelo de distanciamento controlado do governo do Estado, que já se encontrava estava desgastado”, comemorou o petista nas redes sociais na noite de terça-feira, após o governo anunciar o novo decreto com a alteração dos protocolos da bandeira vermelha.

Questionado sobre se as mudanças (além daquelas na bandeira vermelha, também a cogestão do distanciamento com as prefeituras) devem diminuir o tensionamento sobre o Executivo e afastar o risco concreto de enfrentamento por parte de prefeitos, o líder do governo faz um alerta. “Há um nível de insatisfação que é das pessoas como um todo. Só que a cogestão e as mudanças na bandeira vermelha são para criar mais solidariedade em busca do controle, e não para ceder a pressões da sociedade para ‘voltar tudo ao normal’. Isso não é possível. Infelizmente, o que vislumbramos é que é cada vez menos provável que o pós-pandemia seja bom”, elenca Frederico.

Apesar da ‘vitória’, parte dos gestores municipais segue adotando postura de cautela. “Olhe o caso de nossa região. É verdade que, já depois de quatro semanas de bandeira vermelha, havíamos chegado a uma fadiga, ao limite. Mas o que entendemos das reuniões que mantivemos com o governador é que as flexibilizações que estão acontecendo em relação aos protocolos da bandeira vermelha, por exemplo, vão precisar ter um mecanismo de compensação”, aponta o vice-presidente da Famurs e prefeito de Três Passos, José Carlos Anziliero Amaral (PTB).

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