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ARTIGO. Paulo Pimenta e os desafios propostos por Lula, no discurso proferido no “Dia da Independência”

O Povo como protagonista

Por PAULO PIMENTA (*)

“O Coração encarcerado que pulsa em nossos corações, engendra no infortúnio, o coração do futuro”. PT.

Nossos ouvidos habituados à repetição diária do absurdo, da mesquinharia, das provocações, da boçalidade neofascista, do elogio reiterado da ignorância e do ódio foram surpreendidos na tarde deste 7 de setembro de 2020 pela palavra de um homem: Luís Inácio Lula da Silva. Um dirigente político que, concordemos ou não com ele, faz ecoar por sua voz, a voz de dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras, na cena pública do país. Ainda que a mídia corporativa, fiel ao sonho obsessivo da plutocracia acalentado desde sempre – inventar uma democracia sem povo… – se utilize de todos os subterfúgios para censurá-lo.

O Presidente Lula escolheu o dia da independência para falar ao Brasil. Talvez por que soubesse de antemão que do atual mandatário não se pode esperar mais do que meia dúzia de frases copiadas, mal lidas, soltas à procura de uma ideia.

Lula já viveu o suficiente para saber que se dirige a um país fraturado. Não tem a pretensão falar em nome de todos. Mas lança a disposição para um diálogo civilizado com todos aqueles que se opõem honestamente ao neofascismo. Define com clareza seu campo e de que lado se posiciona: contra o descaso do governo negacionista frente à pandemia e ao lado de suas principais vítimas, os negros, os pardos, os pobres. A Covid-19 “mata 60% mais nos segmentos mais pobres na periferia das cidades”.

Em defesa da saúde pública, do SUS, para nos dizer com a simplicidade de costume que era possível evitar tantas mortes.  Deixando claro seu inconformismo diante da incompetência e da insensibilidade de um governo que “Não dá valor à vida e banaliza a morte”. E para defender a vida não vacila em defender a manutenção do auxílio emergencial em R$ 600 enquanto durar a pandemia.

Depois de tanto navegar, Lula não perde nunca a noção do seu porto de partida: “O povo não quer comprar revólveres, nem cartuchos de carabina. O povo quer comprar comida”. Não se trata de recurso retórico. Essas palavras vêm da boca do homem que resgatou da pobreza mais 40 milhões de brasileiros e brasileiras. Sabe que a desigualdade e a exclusão social são matrizes permanentes da violência. E tem toda autoridade para advertir: “Jamais haverá crescimento e paz social se as políticas públicas e as instituições não tratarem com equidade a todos os brasileiros”.

Numa sociedade mantida dentro de padrões de desigualdade criminosos, como ocorre historicamente no Brasil, não pode prevalecer um regime democrático duradouro. Sempre haverá a pressão legítima dos de baixo para reduzir essas desigualdades e dos de cima que historicamente recorrem ao golpe para mantê-las. Essa tensão é tão antiga quanto a história do Império e da República.

O ex-Presidente Lula afirma sem subterfúgios: renunciar à soberania nacional é um crime de lesa-pátria. “Um crime politicamente imprescritível, o maior crime que um governante pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional”. “Soberania significa Independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão, submissão”. “Renunciar à soberania é subordinar a segurança e o bem-estar do nosso povo aos interesses de outros países”.

Expõe para os democratas de todo o país, em forma de Programa, dois desafios: recobrar a soberania popular violada pelo golpe de 2016, que abriu as portas para o pesadelo que vivemos e a soberania nacional vendida, hoje, no balcão de negócios das privatizações das empresas públicas e dos recursos naturais aos interesses estrangeiros. As jazidas do pré-sal e a venda da Eletrobrás são exemplos eloquentes para ilustrar o que afirma.

Denuncia a “Guerra Cultural” com o desmonte das políticas públicas de cultura, o ataque às universidades e centros de pesquisa, e nos chama para a batalha em defesa dos valores mais generosos do povo brasileiro e do investimento em educação como forma de superação do atraso e da dependência tecnológica do país.

Lula não recua diante de suas responsabilidades. Coloca-se à disposição dos democratas para contribuir com a reconstrução do Brasil. Um Brasil, soberano, pluralista, democrático, capaz de acolher todos os seus filhos. Sem hipocrisia, dirige-se às esquerdas e para além das esquerdas, com o objetivo de reconduzir o país ao desenvolvimento assentado democracia e na liberdade, na soberania popular e na soberania nacional.

(*) Paulo Pimenta é Jornalista e Deputado Federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.

Observação do editor: a foto (sem autoria determinada) que ilustra este artigo, do pronunciamento do ex-Presidente Lula no 7 de setembro, é uma reprodução de internet e foi extraída deste site: AQUI.

 

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