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CRÔNICA. Orlando Fonseca, a fumaça que chega do Pantanal, chamas da Amazônia e as responsabilidades

Sempre foi assim

Por ORLANDO FONSECA (*)

Não precisamos de governantes que venham nos dizer que os desastres provocados na natureza pelos humanos são normais. O que temos visto nos últimos meses em nosso país é uma anormalidade. Uma anomalia, para ser tão dramático quanto o é a situação.

Não apenas em função da pandemia, mas por uma consciência que tem faltado por aqui, há um movimento de pessoas preocupadas com o descuido que vemos em nosso território, o qual não é apenas nosso, mas um dos compartimentos importantes da casa da humanidade toda.

A natureza tem seus ciclos e o nosso planeta os seus caprichos, já sabemos. Que já tenhamos conseguido entender muito do que as forças brutais de suas reações catastróficas são capazes, em rompantes repentinos, não minimiza os nossos temores.

No entanto, algum descontrole de forças naturais também decorre da ação humana. Tudo o que precisamos agora, principalmente das autoridades, é clareza. Eles não precisam tapar o sol com a peneira, pois isso a fumaça do Pantanal e da Amazônia em chamas já está fazendo.

O senso comum é que dita a desculpa do “sempre foi assim”. Na falta de conhecimento ou desinteresse em promover mudanças, os gestores públicos motivados por razões escusas ou por incúria mesmo são capazes de lançar mão de tais platitudes. As queimadas são um recurso arcaico de manejo do solo, que foi abandonado por equipamentos ou técnicas aprimoradas, a partir da expansão do agronegócio.

Acontece que a ganância e a falta de compromisso com as questões ambientais não têm limites éticos para destruir reservas naturais a fim de aumentar a lucratividade. E como se todos no Brasil tivessem se tornado néscios nos últimos anos, as autoridades federais vêm a público dizer barbaridades sobre o clima para justificar a estultice que põe fogo na mata e no cerrado para expandir pastagens e áreas de plantio.

Coincidência, ou não, o país tem sido sacudido por ações coletivas, desde as jornadas de 2013, reivindicando mudanças. Nesse mesmo tempo, surgiu a “Nova política”, anunciando messianicamente que veio fazer coisas que deviam ter sido feitas. Entretanto, desde que assumiu o que se tem visto é tão somente a demolição da estrutura estatal que dava sustento ao bem estar social.

As ditas reformas, desde o malfadado projeto da “ponte para o futuro”, com Temer, que aumentariam os empregos, melhorariam a renda dos trabalhadores e colocariam o país nos trilhos do progresso, só fizeram as condições sociais e econômicas retrocederem. Milhões de brasileiros retornam para a condição de miséria.

Portanto, se é para deixar como estava, ou voltar décadas atrás, não precisa dessa ideia sem fundamento da alternância do poder. Para muitos, essa seria a essência da democracia. Um projeto de governo foi tirado do poder – pelo impeachment, pelo recurso do law fair (adoção esdrúxula de teses como a do domínio do fato), da Lava Jato e as pirotecnias midiáticas de Power Point.

Poderíamos chegar à conclusão de que é do jogo político, só que agora o presidente atual fica olhando as queimadas e dizendo que no passado eram assim, que a Califórnia está ardendo em chamas também, como se isso resolvesse o problema.

O vice-presidente vem afirmar que as rochas quentes confundem os satélites, por isso erram ao indicar queimadas onde não há fogo. Comandante, onde há fumaça há fogo. E onde há fogo, há destruição. Mudanças são sempre necessárias, mas deve ser para melhor.

De nada nos adianta um modelo conservador e acomodado. Pior, que trata a população como servil e ignorante, e não faz avançar a ordem social. Enquanto isso, os correligionários e simpatizantes ficam apontando os erros e equívocos da administração passada – o que não resolve em nada também.

A hora é de acordar para uma ordem mundial que está mudando, com os olhos nos direitos humanos e causas ambientais. Não à toa, bilhões de dólares estrangeiros foram retirados do país pelos investidores, em razão das queimadas. Sempre foi assim, mas está piorando (a isso se chama desastre, também).

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Observação do editora foto da fumaça decorrente das queimadas no Pantanal é de Mayke Toscano, da Secretaria de Comunicação do Estado do Mato Grosso.

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2 Comentários

  1. Problema da Amazônia e do Pantanal é também o que sempre aconteceu. Fator preponderante é uma seca que está maior do que o normal.
    Mais do mesmo, julgamento moral da humanidade (que não interessa a maioria por total falta de relevância), discussão sobre fatos políticos passados e a conclusão é que o mundo está pior porque os vermelhinhos não tem mais poder. Ou seja, perda de tempo.
    Ordem mundial tanto está mudando que a China mantem campos de concentração (ou ‘reeducação’ como gostam os vermelhinhos) com centenas de milhares de habitantes da minoria Uighur, vai acabar anexando Hong Kong como a Russia fez com parte da Ucrania.
    Retirada de bilhões de dólares estrangeiros devido as queimadas não procede, obvio. Todos já estão acostumados.
    Em trinta anos população mundial deve chegar (não fui eu quem fez a projeção) a 10 bilhões de pessoas. Entre 80 e 85% da malha energética do planeta é baseada em carbono. Mudanças rápidas (e revolucionarias) é coisa de gente ignorante ou mal intencionada, mesmo que fosse consenso seria impossível.
    Law fair não sei do que se trata. Lawfare, conceito antigo que voltou a moda, é coisa de causídicos sem argumento. Fazer cobranças morais dos outros é perda de tempo, eles teriam que estar preocupados com a opinião do ‘magistrado’.

  2. Senão vejamos. Brasil tem soberania. A parte que nos toca no latifúndio global é nossa. Esta cascata de ‘casa da humanidade’ é uma platitude. Para alguns, inclusive a mídia, o planeta se resume ao Brasil (umbigo do mundo), EUA e Europa ocidental. Os demais não existem. China transformou recifes de coral em ilhas artificiais no meio do oceano para reivindicar mais território. China andou tento escaramuças com a India que também andou se estranhando com o Paquistão novamente. Armênia e Azerbaijão andou de ‘galinhagem’, Russia e Turquia estão nos bastidores.

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