Do portal Poder360. Reportagem assinada por RAQUEL LOPES, com foto de MARCOS SANTOS (USP)
Os casos de feminicídio aumentaram 1,9% no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Foram registradas 648 mortes no 1º semestre deste ano contra 636 no mesmo período de 2019, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados 2ª feira (19.out.2020). O número representa 3 assassinatos contra mulheres por dia, nesse período.
O estudo foi produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma entidade não governamental e apartidária, que realiza pesquisas sobre o tema e aponta possibilidades para reduzir as estatísticas de crimes no país.
Conforme a pesquisa, os estados que mais tiveram aumento de casos foram: Acre (166,7%), Pará (81%), Mato Grosso (68,4%) e Goiás (42,90%).
Amanda Pimentel, pesquisadora do Fórum, afirma que os estados do Norte contaram com 2 fatores: aumento real dos casos e a melhoraria nos registros.
Nos 12 estados em que foi possível reunir dados sobre número de ligações ao número de emergência da Polícia Militar, as ligações sobre situações relacionadas com violência doméstica cresceram 3,8%.
Apesar disso, outros registros de crimes, como violência doméstica e ameaça apresentaram redução, de -9,9% e -15,8%, respectivamente. Registros de estupro e estupro de vulnerável, que não têm como vítimas apenas pessoas do sexo feminino, recuaram -11,8% e -22,5%.
A pesquisadora afirma que, possivelmente, tenha ocorrido subnotificação, tendo em vista a maior dificuldade de registros por parte das mulheres em situação de violência doméstica durante a vigência das medidas de distanciamento social.
“Devido ao isolamento social, elas passaram a ficar mais tempo com o agressor e mais expostas às agressões físicas e psicológicas. Os casos não diminuíram, mas houve dificuldade das mulheres irem aos órgãos competentes para fazerem a denúncia“.
OUTROS PAÍSES
Amanda acrescenta que, embora o governo brasileiro tenha se posicionado publicamente sobre a questão, no Brasil, as iniciativas divulgadas foram insuficientes para combater a violência doméstica neste período.
Elas estiveram mais voltadas a expansão de canais de denúncias, campanhas e recomendações gerais sobre atuação das redes de proteção à mulher, que embora importantes, não apresentaram saídas concretas e imediatas à situação.
Países como França, Espanha, Itália e Argentina, por exemplo, transformaram quartos de hotéis em abrigos temporários para mulheres em situação de violência. Além disso, criaram centros de aconselhamentos em farmácias e supermercados para que as denúncias fossem realizadas através de código 6.
“Embora seja importante expandir os canais de denúncia, isso não foi suficiente. Outras medidas não foram tomadas e isso dificultou muito“.
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