Coluna

Primeiras páginas – por Bianca Zasso

biancaUm livro marcante em nossas vidas pode ser muito mais que uma lembrança boa em nossas estantes. Não só por enriquecer nossos vocabulários e nos proporcionar umas boas horas longe da realidade. Livros podem mudar nossos rumos, orientar nossas escolhas e trazer um novo frescor para nossas vidas. Aos 17 anos, esta que vos escreve se aventurou pelas páginas de On the road, clássico da literatura beatnik escrito por Jack Keuroac. E nunca mais foi a mesma.

Um novo mundo, onde as palavras davam o ritmo e as descobertas tinham aura de revelação divina, surgia diante dos meus olhos ainda infantis que devoravam em transe as mais de 300 páginas. Com promessa de ser adaptado para o cinema desde a década de 70, com fortes indícios de que seria guiada pelas câmeras de Francis Ford Coppola, On the road só foi ganhar as telas em 2012 e tendo como diretor o brasileiro Walter Salles. Um dedo tupiniquim num ícone americano.

Com elenco jovem, liderado por Sam Riley e Garrett Hedlund nos papéis de Sal Paradise e Dean Moriarty, Na estrada estreou querendo apresentar para uma geração de poucos livros a importância da saga de um jovem que descobre seu lugar no mundo ao encarar uma viagem louca e sem roteiro fixo pelos Estados Unidos. Em meio à poesia beat, clubes de jazz, baseados e chãs com benzedrina, Sal Paradise deslumbra uma realidade bem mais animada que a vivida em seu quarto na casa da mãe.           Só que Salles parece ter esquecido do verdadeiro feitiço da prosa de Keuroac no meio do caminho.

Na estrada passa longe de ser um filme ruim. A fotografia calcada no amarelo-dourado da poeira das estradas e no calor fervilhante da melodia dos saxofones é incrível. Os atores dão o melhor de si e até a queridinha dos fãs da saga Crepúsculo, Kristen Stewart, surpreende ao dar um ar romântico e erótico para a personagem Marylou.

O que falta em Na estrada é o espírito que fez de Keuroac um ídolo. As frases que seguem a linha de pensamento do escritor e que conquistaram os leitores desde a primeira edição parece mais um romance pulp de pouco fôlego. Quem conhece o livro sente-se como se passasse de leve pelos principais capítulos, com foco mais na resolução dos conflitos do que nas mudanças que a nova melodia que passa a orientar Sal Paradise traz.

Na festa de ano novo, onde Marylou dança alucinadamente com Moriarty, temos um breve aceno do grande tempero do livro. O suor dos participantes, o deslizar dos pés pelo salão e o balanço dos quadris do casal são puro Keuroac. Ali sentimos que algo de novo, quente e renovador vai pulsar. Mas bastam as cenas seguintes para voltarmos ao marasmo da estrada. Sabemos que ele existe, mas Paradise tem sua mente invadida pelas paisagens, os cheiros e os fluidos a todo momento, e isso excita sua criatividade. O Paradise zonzo diante de tanta novidade não se faz presente na película.

O programa duplo de ler o livro e ver o filme é sempre uma boa pedida. No caso de Na estrada, ele é necessário. Quem tiver o primeiro contato com a história a partir do trabalho de Walter Salles perde o melhor da festa. Buscar as primeiras páginas escritas por Keuroac é uma aventura que não nos aquieta e ajuda a gostarmos um pouco mais das participações especiais do filme, como as de Amy Adams, Kirsten Dunst, Alice Braga e Viggo Mortensen. Saímos da sessão felizes, mas passamos longe da embriaguez das palavras do velho Jack. A vontade de voltar as suas páginas aumenta. Depois da locadora ou das plataformas streaming, uma passada na livraria

Na estrada (On the road)

Ano: 2012

Direção: Walter Salles

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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