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Bandeiras – por Orlando Fonseca

Sexta-feira passada, entre outros temas no Sala de Debates, falamos sobre o fim da campanha eleitoral no primeiro turno. Sobretudo as estratégias necessárias para alcançar o eleitor, em tempos de pandemia. Em meio a máscaras, álcool-gel, distanciamento social, ainda que a internet e as redes sociais estejam à disposição de candidatos, entendemos que nada substitui o tête a tête, a conversa direta. Daí a permanência, com todos os riscos, do corpo-a-corpo, nesta reta final, e as bandeiras nas esquinas. Nosso mediador lançou a indagação sobre as ditas – ou malditas – e sua eficácia; para ele, a única vantagem que possa trazer é lembrar ao eleitor distraído o número do candidato. E aí enveredamos para outra característica de nossa claudicante democracia: a dificuldade de o povo encarar os projetos coletivos e pensar em bandeiras (bem lembrado, Candinho) como itens de uma pauta para a cidade – no caso das eleições Municipais. Tanto eleitores como candidatos envolvem-se em um marketing de toma-lá-dá-cá: eu te ajudei, agora me ajuda.

São muitos os exemplos de uso do senso comum como referência no caso das eleições. Por pressa, preconceito ou preguiça, o eleitor não aproveita as formas de conhecer melhor um candidato para dar seu voto. Então fica mais fácil escolher um conhecido, um amigo, alguém que fez um favor, alguém que deu um aperto de mão, ou, já quase na hora de votar, alcançar do chão um santinho – ou sacar da memória o número estampado em uma bandeira na esquina – e apostar naquele número. Não importa se o tal postulante tenha propostas para melhorar a vida da cidade, se conhece os limites de sua ação parlamentar na Câmara de Vereadores, ou as limitações orçamentárias para sua possível gestão na Prefeitura. De certa forma, a escolha por uma pessoa, por um indivíduo, escapa à compreensão da democracia representativa, cuja decisão prescinde de uma relação partidária, ou minimamente, de um projeto – de cidade ou de país. O que nos leva à consideração sobre a desimportância dos partidos.

Bastaria a um observador atento considerar a existência de algo definido como “centrão”, no Congresso Nacional”, para entender que a política corre ao largo da vida partidária. Formado por outra excrecência desse processo, uma maioria constituída de “nanicos”, como são chamados os pequenos partidos, alguns deles, nitidamente, de aluguel. As confusões geradas por uma corrupção sistêmica, que tomou de assalto a nossa República, após a redemocratização, em 1985, foram minando a seriedade dos partidos. Antes, ao longo de duas décadas, a censura não permitiu que se visse os descaminhos das verbas públicas que legaram aos novos tempos um endividamento gigantesco. Existe uma expectativa de que os mecanismos gerados com as chamadas “clausulas de barreira” deem uma freada nos pequenos, e que as mudanças culturais, com as novas gerações mais éticas, possam trazer de volta à cena política a construção de candidaturas baseadas em ideias, firmadas em projetos coletivos, para que a democracia retorne ao que lhe é mais essencial: o poder que vem do povo.

Lembro dos versos de um antigo compositor gaúcho que diziam: “Quero luta, guerra não/ Erguer bandeira sem matar”. Mais do que um mastro e um pano colorido, precisamos de propostas consistentes em termos de políticas públicas, nas áreas cruciais que envolvem direitos de todos os cidadãos e obrigações do Estado. Mas para isso é preciso resgatar a dignidade do voto, a consciência daquele que dá em confiança, e a consciência daquele que recebe ciente de suas responsabilidades com a população e não com suas necessidades pessoais. A luta é de todos, e as bandeiras devem expressar o interesse da maioria.

*Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Nota do editor: Crédito da imagem que ilustra o artigo: B Ban / Pixabay / Divulgação

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3 Comentários

  1. Centrão é um nome relativamente novo para um fenômeno antigo. Donos do Poder e aquela coisa toda. Oligarquias do Brasil Profundo. O problema mal resolvido da federação ou ‘Pacto Federativo’. Efeitos colaterais da Revolução de 30, dissolver o poder concentrado na região sudeste.
    Antigamente havia o recuo tático ideológico, a negociação de prioridades, saber ceder em alguns pontos para ganhar em outros, a negociação. Alás, quando falam em Sun Tzu e Machiavel para eleição municipal já é sintoma. Eu citaria Cialdini para começo de conversa.
    Fogaça? Outro idealista que foi para BSB consertar o Brasil e deixou o RS decair.

  2. Pressa, preconceito ou preguiça? Não. Maioria não é funcionário publico federal. Tem que batalhar o pão de cada dia, não tem titulo de nobreza adquirido via concurso (Candido vivia num ‘paraíso edênico’ mas ‘caiu na real depois’).
    ‘Pôvú’ não se interessa pela teoria, atribuições, limitações orçamentárias. Vê muito bem a pompa, os discursos vazios, a falta de efetividade e a tentativa de comprar iPhone com dinheiro publico. As viagens a passeio, os selos para cartas, a gasolina gratuita. A cereja do bolo é simples: total falta de relação entre o aparato e a melhoria do estado da urb.
    Resumo da opera: população vive na cidade, não dentro de um livro de OSPB.

  3. Sempre tive esta questão, Elio Gaspari baseou Eremildo no Candido, o otimista? De qualquer maneira ‘virtue signaling’ não é o tema.
    ‘Pôvú’ não tem dificuldade nenhuma de encarar projetos coletivos ou itens de uma pauta para a cidade. Noutro dia li (ou ouvi) alguém comentando que uma comunidade necessita de um mínimo de ‘narrativa’ comum, caso contrario sofreria de transtorno de personalidade múltipla. É mais ou menos por aí. Esquerda tem culpa no cartório, mas não é a única. Aldeia tem (grosso modo) o ‘povo da região oeste’, ‘o pessoal do centro’ e o a ‘galera de Camobi’. Toxoplasmose? Não pode haver preconceito (como se alguém tivesse culpa de adquirir a doença), ‘no Centro também tem’. Segurança? Pessoal de Camobi tira do bolso para ajudar a Brigada. Estatistas são contra, não-estatistas acham o máximo. UFN quer abrir curso de medicina, estatistas se movimentam, não se amplia hospital, projeto de dobrar as vagas da UFSM aparece. Alás, hospital ampliado nas Dores não pode, foi a região escolhida para professores universitários e profissionais liberais construírem mansões, no Patronato já não cabe. Vai desvalorizar o patrimônio, o mercadão já foi um absurdo. Vide, não é bem o ‘pôvú’.

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