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A terra é azul – por Bianca Zasso

biancaNa última sexta-feira, dia 26, o mundo (ou melhor, parte dele, infelizmente) comemorou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. Mesmo que saibamos que o amor não precisa de leis para existir, é uma vitória poder concretizá-lo pelas leis dos homens e, com isso, conseguir os direitos que o sentimento não é capaz de dar. O acontecimento é histórico, contaremos para nossos netos, mas esta coluna hoje não quer papel passado e juiz de paz. Vamos falar daquilo que dói quando acaba, que é inesquecível, que provoca nossos sorrisos mais sinceros.

Azul é a cor mais quente, dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, é um retrato do amor, por mais que sua fama tenha se dado por algo que nem sempre precisa ser amor. Ao ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, no ano em que o júri foi presidido por Steven Spielberg, o filme francês apareceu na mídia mais por suas cenas de sexo explícito do que por seu valor estético e cinematográfico. Azul é a cor mais quente preza o olhar, o visível. A câmera segue os personagens como uma sombra, quase uma perseguição. As sutilezas ficam por conta dos atores, um caso raro onde todo o elenco apresenta-se em ótima forma, com destaque para o casal protagonista vivido por Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.

Baseada na graphic novel de Julie Maroh, a produção narra a jornada de Adèle, da adolescência até o início da idade adulta. Mas não espere um romance sobre as agruras do crescimento. É a vida sem photoshop, com todos os seus fluídos, espinhas, manchas e pintas. É pele de verdade, o toque genuíno. Um contraponto aos detalhes em belos tons de azul, quase mágico, executado pela direção de fotografia e a direção de arte do longa. Há tempos o cinema não via quadros tão bonitos, um encanto em meio à vida tão real.

Adèle, ao contrário de outras protagonistas jovens, não encara as descobertas da vida com deslumbre, ao gosto dos contos de fada. Seu olhar é um misto de medo e curiosidade e não há satisfação plena em suas conquistas. Aos poucos, ela descobre que viver não é fácil, pelo menos para quem quer viver a realidade, sem escapismos. Sua primeira troca de olhares com Emma, que mais tarde será seu primeiro amor, não tem passarinhos cantando e brilho nos olhos. Pode ser definido como um grande susto e quase podemos sentir o coração de Adèle disparar diante daquela incógnita de cabelo azul que mexe com seus desejos. Lá adiante virá a admiração, o carinho e ao seu lado a rotina, a carência e as tentações.

Aos interessados, as cenas de sexo são cruas, realistas. Para as mocinhas chegadas em luz de velas e olhares bucólicos antes do coito, preparem-se para a decepção. Azul é a cor mais quente pode até ser uma ficção, mas seu pé na realidade é bem firme. O sexo não é feito para chocar ou para divertir os espectadores. É uma das etapas da vida da protagonista, simples assim. Para os mais atentos, é possível ver revelado os pensamentos de Adèle a cada novo toque, posição, beijo e orgasmo. Não espere a pura sacanagem. Aquelas duas meninas estão vivendo algo muito mais intenso. Tudo em azul, uma cor conhecida por acalmar nossos ânimos. Mas isso é mais uma regra a ser quebrada. A cor do nosso amor é a gente que escolhe.

Azul é a cor mais quente (La vie d’Adèle)

Ano: 2013

Direção: Abdellatif Kechiche

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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