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Para não dizer que não falei dos “dólares cubanos” 2

Ontem, escrevi aqui, pouco antes de reproduzir comentário da cientista Lúcia Hippolito, que não fazia juízo de valor acerca da “reportagem” da revista Veja (releia ‘Para não dizer que não falei dos “dólares cubanos’, postada às 20:35:51 de ontem, 31 de outubro). Fiz, também, a ressalva de que “como profissional de jornalismo, com 23 anos de atividades, não lembro de algum dia ter publicado denúncia sem documentação”, mas reconheci o direito de a revista editar o material que publicou, acusando o PT de ter recebido “3 milhões de dólares” de Cuba.

O que não escrevi é o que tenho dito a colegas, e invoco os nomes de Sérgio Blattes e Joel Abílio Pinto dos Santos (não lembro de José Ernani Araújo também participou do fato), com os quais falei da minha tristeza pessoal e profissional com a forma com que os assuntos políticos nacionais têm sido tratados pela chamada “grande imprensa”, a começar (e talvez terminar) pela revista de maior circulação do País, a Veja, que embarcou (se propositalmente ou não, não sei) numa perigosa onda de denuncismo. Isto é, baseando suas reportagens apenas em testemunhos (alguns deles desmentidos, e ainda assim mantidos), sem documentação consistente.

Continuo a reconhecer o direito dos editores da revista. Mas não posso passar atestado de imbecilidade – e quero crer que, em algum momento, no médio ou longo prazo, essa posição passará a ser a idéia dominante, se não na opinião pública, ao menos entre os colegas. É o que penso. Dito isto, e a comprovar que há quem pense (e escreva) diferente na imprensa grandona, reproduzo aqui artigo publicado na edição desta terça-feira da Folha de São Paulo, pelo jornalista Clóvis Rossi. Que, diga-se, do alto de seus 40 anos de experiência como profissional independente, não é um lulista – e seus escritos habituais dos últimos tempos comprovam facilmente. Mas que, enfim, tocou, penso, o dedo na ferida. Leia você mesmo.

“Cuba não, Tabajara
“O mais elementar sentido comum e um tiquinho de informações básicas bastam para tornar completamente inverossímil a versão publicada pela revista “Veja” a respeito dos dólares de Cuba para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Nem vou tratar da discrepância imensa entre os valores mencionados pelos denunciantes. Bastaria, em um país que fosse algo mais que república bananeira, para não levar a sério a denúncia.
Mas o principal defeito de fábrica da acusação é o modus operandi supostamente utilizado. Um país como Cuba, com um regime ameaçado de desestabilização pela maior potência do planeta há quase 50 anos, tem, necessariamente, um serviço de inteligência competente. Ou já teria caído há muito tempo. A competência inclui, nesse caso, experiência em movimentar recursos financeiros de e para o exterior.
Em sendo assim, se Fidel Castro quisesse de fato financiar a campanha de Lula, não precisaria recorrer aos métodos e percursos burlescos descritos na denúncia dos ex-funcionários de Antonio Palocci em Ribeirão Preto. O dinheiro chegaria, sem complicações e peripécias, limpinho, limpinho aos destinatários.
Que uma revista se disponha a brincar de tablóide britânico é problema dela. Mas que a oposição se disponha a participar da brincadeira já passa a ser claro sinal de indigência mental.
A anunciada intenção de convocar Palocci, então, é risível.
Alguém aí acha que o ministro vai dizer à CPI: “Ah, claro, recebemos o dinheiro de Cuba e vamos utilizá-lo para enforcar o último padre na tripa do último burguês?”. A menos, é claro, que governo e oposição prefiram a fantasia à inconveniência, para ambos, de comprovar a fonte do dinheiro porco que circula na política brasileira sem que seja necessário recorrer a Fidel Castro.

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