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O “Bonde da Vacina” atropelou o Presidente Bolsonaro – escreve o repórter Carlos Wagner

Mudança da posição presidencial se explica por uma visita. Do bonde, no caso

Durante muitas décadas, o bonde foi o transporte coletivo urbano mais popular do Brasil (Foto Reprodução)

O uso da palavra bonde no sentido de grupo de pessoas foi popularizado nas favelas cariocas e acabou se espalhando pelo Brasil por conta dos repórteres envolvidos na cobertura de confrontos entre policiais e bandidos. No início, bonde significava uma quadrilha de bandidos. Hoje é usado para descrever grupos de pessoas que reúnem para pressionar alguém a mudar de ideia.

Conhecendo a maneira de operar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a mudança de 180 graus na sua posição referente à vacina contra a  Covid passou a ideia de que ele foi visitado pelo “Bonde da Vacina”, pessoas do alto escalão do governo, parlamentares e até gente de oposição.

Eles colocaram o presidente na real no caso da vacina: se ele continuasse tratando o assunto da maneira debochada que vinha fazendo, o país explodiria, porque ninguém suporta mais conviver com o sentimento de que pode ser a próxima vítima da Covid. Vários países ao redor do mundo, inclusive na América do Sul, ou já estão vacinando as populações ou se preparam para começar.

Enquanto isso, a população brasileira ainda não conhece a data em que começará a ser vacinada. E o Brasil, que tem um dos melhores sistemas de vacinação do mundo, uma indústria farmacêutica desenvolvida e bons laboratórios públicos e privados, assiste perplexo a Bolsonaro fazer piadas sobre a vacina. E se envolver em uma briga política com o governador João Doria (PSDB-SP) pelo título de “pai da vacina”” – há matéria na internet.

Na terça-feira, ele deu uma entrevista para José Luiz Datena, apresentador da Rede Bandeirantes, afirmando que jamais iria se vacinar. No dia seguinte, quarta-feira (16/12), reunido com governadores, anunciou ao Brasil que o governo federal vai comprar as vacinas e o seu ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, apresentou um cronograma de vacinação e afirmou que a “vacina do Doria” iria ser comprada.

Ou seja, o governo federal deu um giro de 180 graus na sua posição. Claro que não se sabe o conteúdo da conversa entre o presidente e o Bonde da Vacina. Ou se algum colega sabe ainda não publicou (sexta-feira, 18/12). Mas o que aprendemos sobre o presidente nesses dois anos de governo nos permite fazer, com uma certa segurança, algumas afirmações.

Seja lá o que foi dito, o certo é que representa uma ameaça real ao mandato do presidente. Por quê? Simples. Ele só respeita a força. Por morar há muitos anos no Rio de Janeiro, ele conhece o significado do “Bonde”. Portanto, a conversa que tiveram com ele foi “pesada”.

Agora, por quanto tempo Bolsonaro vai falar sério sobre a vacina? Ninguém sabe, incluindo ele. Como? O presidente não planeja as suas ações. Ele age conforme a conjuntura no momento, tendo como seu norte a proteção da sua família. Esse é outro ensinamento que nós repórteres aprendemos sobre a maneira de agir do presidente.

O quadro da pandemia no Brasil é muito sério. Depois de um período de baixa, o vírus voltou a atacar com tudo: já somam quase mil mortos por dia. Ao todo, mais de 180 mil brasileiros já morreram. Uma coisa é viver o dia a dia de uma situação dessas sabendo que a vacina está sendo aplicada. Outra é estar dentro de um inferno desses sem saber quando a vacina chegará, enquanto outros países vacinam suas populações.

Tenho lido os conteúdos mais importantes que temos publicado sobre o caso da vacina em jornais (papel e site), rádios, TVs e outras plataformas de comunicação. E não tenho encontrado nenhuma matéria consistente sobre o que está acontecendo no meio dos brasileiros com essa situação. Em 8 de dezembro publiquei o post “Brasileiros com os nervos à flor da pele esperam pela vacina contra a Covid-19”.

Como já disse e vou repetir. As pessoas estão exaustas de viver assombradas com a ideia de que podem ser a próxima vítima do vírus. Não existe mais espaço para conversa mole, como se fala nas redações. Creio que foi essa situação que o “Bonde” conversou com Bolsonaro. Claro que os serviços de informações estão atentos ao que acontece.

Em uma situação como essa, a nossa tarefa de repórter é importantíssima para os nossos leitores. Nós não temos como limpar os noticiários, tirando as bobagens que o presidente fala e que acabam virando manchete justamente porque foram ditas por ele.

Muitas dessas coisas são jogadas com o objetivo de mudar o foco da questão das vacinas. É uma estratégia antiga que sempre funciona. Mas os brasileiros, como o resto do mundo, nunca viveram uma situação como essa determinada pela Covid-19. Nunca.

Portanto, se nós jornalistas perdermos o foco no que interessa para o nosso leitor corremos o risco de sermos cúmplices da loucura que se transformou a história da vacina no Brasil por conta do presidente da República. Podem anotar.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

 (*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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2 Comentários

  1. As pessoas não estão ‘exaustas’ nas bolhas que tenho acesso. Muitas ligaram o ‘pho#@-se’. Alás, podem continuar publicando o que quiserem, é um direito. Público prestando atenção no que é publicado é outra história. Alás, as redações não são mais a única fonte, daí outra ‘campanha’, contra as ‘Fake News’, querem recuperar o monopólio que existia antes.
    ‘Perder o foco no que interessa o leitor’. Isto já aconteceu há muito tempo. Imprensa convencional acompanha os políticos e pautam a massa ignara (imaginário, não é tão ignara assim). Tentam impor narrativas (não é a toa que Doria, o bom caráter, aumentou a verba de publicidade institucional de SP; driblam a legislação, entra a grana no bolso, ma o culto a personalidade vem no noticiário não na propaganda estatal). Também criam metas impossíveis, falsas polemicas, chutam o futuro, tentam impor rumos. Mais ou menos como no futebol, discutem desde o uniforme até a escalação do time (sem muita informação). Quando o
    técnico coloca outro jogador e ganha ficam quietos. Quando perde vem o ‘se tivesse escalado como eu disse teria ganho’.

  2. Primeiro o caveat. Doria deve se eleger o próximo presidente do Brasil. Deverá ser uma tentativa do sistema de voltar ao estado pré-Dilma, o humilde e capaz. Com auxilio maciço da Rede Trouxa e da Rede BullShit. Com votos petistas da mesma maneira que aconteceu na aldeia.
    Até pouco tempo atrás todos com que falava achavam que vacina só lá por junho, mais otimistas achavam que seria antes. Nada mudou no mundo dos fatos para que a previsão se alterasse.
    O resumo da ópera é simples, o que acontece é o que os americanos chamam de ‘smear campaign’, uma campanha de desgaste de imagem. Aproveitaram o inicio da vacinação nos países desenvolvidos para atropelar o assunto. Da mesma maneira que no inicio da pandemia atropelaram com o ‘fecha tudo e fica em casa’. Covas rasas no cemitério, caminhões do exercito italiano transportando caixões. Finalidade é usar o ‘não enfrentou corretamente a pandemia’ como mote de campanha em 2022 (acham que funcionou com o Trump, não há evidencias, foi bem apertado).

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