O “Centrão” faz bem à saúde? – por Valdeci Oliveira
Uma avaliação para o resultado eleitoral, os que ganharam e os que perderam
Segundo os principais jornais, TVs e agências de notícias, o Partido dos Trabalhadores, juntamente com outras agremiações de esquerda e de centro-esquerda, está entre os principais derrotados no último pleito eleitoral. Já os vencedores estariam situados no que se convencionou no país a chamar de Centrão – mais precisamente partidos de centro-direita e direita. Antes de qualquer análise, é importante deixar claro que a vontade do povo é soberana e deve ser respeitada, que não há indícios ou provas de fraude no sistema eleitoral brasileiro e que estaremos firmes na fiscalização, pois esta é uma das obrigações da oposição.
Passada a surpresa inicial trazida pelas urnas, principalmente em localidades em que as pesquisas indicavam vitória da esquerda/centro-esquerda, e pela grande abstenção (que somada aos votos brancos e nulos ultrapassou a quantidade daqueles dados aos ganhadores), observa-se um cenário em que os partidos que irão governar a grande maioria das cidades brasileiras são os mesmos que, pouco tempo atrás, articularam e aprovaram medidas que apontam para a direção contrária dos reais interesses desses mesmos eleitores. Não se trata de choro de perdedor, mas de constatação. As agremiações vitoriosas são as mesmas que votam a favor do aumento de passagens, pela redução dos investimentos em saúde e educação, pela não contratação de professores, médicos, enfermeiros e pela continuidade dos privilégios às castas encasteladas seja no serviço público ou na própria sociedade civil.
Os votos que tiraram inúmeros direitos do povo trabalhador nas famigeradas reformas trabalhista e previdenciária e na lei das terceirizações foram assegurados pelos partidos dos agora vencedores. Quem aprovou a entrega da exploração do pré-sal às petrolíferas estrangeiras não veio dos partidos progressistas. Como também não foi a esquerda ou a centro-esquerda os autores das propostas em estudo que preveem praticamente a extinção do SUS e a liberação de centenas de agrotóxicos que nos adoecem e nos matam. Também não veio da esquerda e da centro-esquerda os atos que dificultaram o acesso da sociedade à justiça trabalhista, que negaram a concessão de ganhos reais para o salário-mínimo e que, aqui no RS, dias atrás, congelaram, a partir de uma manobra do governo Leite e de sua base, o salário mínimo regional.
Mas alguns podem dizer que o resultado eleitoral é reflexo dos malfeitos trazidos à tona pela Lava Jato. Se isso fosse realmente verdadeiro, entre os campeões de votos não estaria o partido mais citado pela própria operação e pelas delações premiadas feitas por executivos das empreiteiras envolvidas. Não, esse partido não vem do campo da esquerda, muito pelo contrário. Se malfeitos fossem impeditivos, e deveriam ser, os partidos envolvidos em escândalos de corrupção comprovados – como no caso do antigo Banespa e na construção do rodoanel em São Paulo, na criação de empresas de fachada em paraísos fiscais como no Panamá, na filmagem mostrando carregamento de malas com dinheiro ou de um apartamento abarrotado com pilhas de cédulas, em telefonemas interceptados acertando propinas, entre outros – não seriam os mesmos que mais votos conquistaram nesta eleição.
Isso nos leva a conjecturar que a explicação é outra e envolve campanhas diuturnas de desmoralização de biografias e de algumas legendas, a partir do apoio de setores da grande mídia e do judiciário e também de segmentos economicamente poderosos. Envolve disseminação de fake news e a aposta na ignorância, pois essa leva ao medo que por sua vez leva ao ódio.
Analisar todos esses fatores sem se colocar como vítima e sem se isentar de qualquer responsabilidade é fundamental para o entendimento da conjuntura. Como também é fundamental ter a consciência de que se trata de uma disputa pesada e cotidiana. Por isso, é tão necessário que o campo popular esteja sempre mobilizado, seja na porta da fábrica, num banco de igreja ou templo, nos sindicatos e também nas praças e nas ruas das periferias. Jamais o campo progressista pode se desvincular das suas raízes.
Como bem disse o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, os únicos derrotados são os que cruzam os braços e se resignam à derrota. Aprender com os erros cometidos e recomeçar deve ser algo permanente, pois não há derrota nem triunfo definitivos. O que não podemos fazer é abdicar da luta. O que não podemos permitir é que os sem moral nos rotulem, roubem nossos sonhos e dispensem ao povo apenas as migalhas do banquete que aos bem-nascidos é servido todos os dias.
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287
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