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O fim da picada – por Orlando Fonseca

“Nem bem 2021 começou, e 2020 mal terminou, se é que me entendem”

O fim de ano que se aproxima também pode significar o “fim da picada” ou o “começo do brejo”, para onde, em nosso país, é comum que a vaca se dirija. Este ano que começou com as “águas de março”, acabou com o verão e com as demais estações – ao menos naquilo em que cada uma tem de bom para a gente.

Ao que tudo indica, o ano de 2020 que já foi meio curto, mas denso e complicado, parece que ainda vai se estender por alguns meses de 2021. Nesse caso, a picada que todos aguardamos ainda nem começou, para que nós, espectadores expectantes observássemos o seu fim: a vacina.

Ao contrário do que se vê em outros países, ainda demora para chegar em massa por aqui. Quando se presta atenção aos aspectos socioeconômicos, a impressão mais forte é a de que, se ainda não chegou lá, a vaca vai pro brejo de vez, no ano que vai nascer. É pau, é pedra, é o fim do caminho!

Em termos de Covid-19, basta acompanhar os noticiários para ver que não há um plano nacional para a sua erradicação. Existem esforços de setores do governo federal, que avançam apesar do presidente, um negacionista militante; há o trabalho de governadores no sentido de superar a ausência de uma articulação central para providenciar vacinas para todos, o que envolve não apenas a aquisição do imunizante, mas o preparo de uma logística gigantesca.

Enquanto isso, pela falta de uma campanha mais contundente do Ministério da Saúde, alertando a população, o que se vê são aglomerações nas ruas, no comércio, nas praias, em festas clandestinas. Como se o coronavírus, só pelo fato de que a convocação para o festerê se dá de modo escuso, não fosse bater por lá.

É o fim da picada, para falar numa estradinha sem os devidos cuidados do poder público, feito apenas com o passar cotidiano do povo incauto, a massa ignara, que não para de providenciar mais e mais negacionistas.  

Enquanto isso, em Brasília, as autoridades dão todos os sinais de que não estão nem aí para o brejo ali na frente. Os parlamentares na Câmara de Deputados estão mais ocupados com a eleição do Presidente da Casa, o que coloca em lados opostos os políticos ligados ao presidente e os que acompanham a escolha do atual, impedido pelo STF de concorrer à reeleição – apesar da explicitude do texto constitucional.

A velha política em sua plenitude, até porque Bolsonaro coloca à disposição dos que votarem em seu candidato, Arthur Lira, 500 cargos em postos federais. O Palácio do Planalto já colocou este plano em prioridade número um. Vacina? Que vacina? Aliás, o próprio presidente é evasivo, diante dos questionamentos da imprensa sobre o atraso no plano de vacinação. 

A verdade é que o presidente está mais preocupado com a salvação dos seus filhos, não em relação à Covid-19, uma vez que a cloroquina já deu conta disso daí, mas nos processos que correm na justiça. Correr é um verbo até um tanto irônico para o caso, como se vê em relação à “rachadinha” no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado na Alerj.

Pelo que já se observou nas notícias, o próprio Patriarca tem mexido os pauzinhos e os moirões em Brasília para interferir a favor do seu filho. Não é a pauta econômica, como se vê, o que mobiliza o governo, especialmente com o que pode acontecer com o fim do auxílio emergencial, o risco do aumento do desemprego, e a política de gastos públicos.

Não é também a campanha de vacinação em massa, pois o Brasil não está nas primeiras filas dos países que adquiriram, não apenas os imunizantes, mas todos os insumos necessários, como ampolas e equipamentos de conservação. Isso sem falar na logística para que a vacina chegue a todos os municípios do país.

Ou seja, ainda não é possível ver o fim da picada (quanto à vacina), mas já é possível ver as pegadas da vaca na direção do brejo. Nem bem o ano de 2021 começou, e o ano de 2020 mal terminou, se é que me entendem.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Observação do editoro cartun cujo excerto ilustra esta crônica não tem autoria determinada. Para conferir o original, clique AQUI.

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3 Comentários

  1. Voltando a aldeia e ao assunto planejamento. Não só o comercio será afetado pela pandemia, serviços também. Economia tupiniquim ainda tem o risco das medidas econômicas do Brother Sam, espera-se que o que vendem por lá como grande coisa não seja um tiro no pé com repercussões por aqui.
    Planejamento. Hospital de Caridade transferiu capelas mortuárias (que já tem seus críticos). Mote é instalar um PET-CT no local das antigas. Preço do aparelho 2 milhões de dólares (por volta de). Só que não é só isto. Exame para funcionar precisa de uma ‘glicose radioativa’ (infelizmente estou familiarizado com o processo). Para tornar a glicose radioativa (grosso modo) é preciso um acelerador. Preço? Algo como 6 milhões de dólares. Trazer de POA? Substancia tem meia vida perto de 2 horas, ou seja, perde metade da radioatividade a cada duas horas. Mais obra civil para o aparelho (base para evitar vibração). Mais licença ambiental. Mais instalação sanitária separada. Mais mão de obra especializada. Resumo da opera, capeta mora nos detalhes e não adianta fazer ‘planejamento’ e apresentar cronograma porque o prazo das licenças está fora do controle de quem quer fazer a coisa acontecer.

  2. Voltando ao RJ. Caso Marielle. Um dos acusados do crime perdeu parte de uma perna anos atrás. Atentado a bomba. Porque fazia segurança de um banqueiro do bicho. Alás, ocorreram três ou quatro atentados a bomba por lá e foram convenientemente ‘esquecidos’. Investigação está levando a ‘narrativa’ para um lugar completamente do que foi disseminado antes com motivação politica.

  3. Para começo de conversa, quando alguém chama outra pessoa de ‘terraplanista’, ‘negacionista’ ou qualquer outro adjetivo desqualificante diz mais sobre si mesmo do que dos outros. Não vai ser por isto que alguém minimamente provido cognitivamente irá mudar de opinião.
    Questão da rachadinha deve terminar, se houver condenação, em prescrição ou cestas básicas. O resto é teoria da conspiração, não existem provas de atuação. Motivo simples, é assunto estadual. Ministério Publico estadual e judiciário estadual. Alás, ultima nomeação para o STF foi aparentemente negociada e muito. Alguém contribuiu na escolha.
    Pode-se apresentar o plano que for, será criticado. Se a vacinação começar amanha a critica seria lentidão, ritmo lento, filas e aglomerações. Ou seja, critica pela critica. Com isto não se perde tempo.
    O busílis da vacina não é complicado. Laboratórios tem capacidade limitada de produção. E demanda enorme. Não adianta sair licenciando produto em todo lugar se não existe maneira de entregar. Pior, se acontecesse a pressão sairia do governo e iria para os laboratórios.
    Finalmente o óbvio. Atropelar o problema cria mais problemas ao invés de apressar a solução. Alás, o planejamento local é muito mais critico. Vacinação será tirar o bife da boca do leão, evitar que as pessoas se contaminem na fila da vacina. Alás, perdem tempo discutindo os que não querem se vacinar (sem saber qual o tamanho da encrenca) sem saber como irão vacinar os que querem.

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