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A política exige prudência – por Giuseppe Riesgo

Vivemos em um momento político delicado. O resultado das eleições em 2018, diferentemente do que esperavam alguns, não pacificou o país –, pelo contrário. Podemos dizer que a política brasileira está no divã e com ela, lado a lado, boa parte dos avanços liberais conquistados a duras penas na última década. Atualmente, entre liberais, conservadores e reacionários, têm-se visto de tudo, menos diálogo. O que figura entre eles? A presença de um Presidente da República que move paixões e intermedia, talvez sem saber, as discussões políticas do país. Algo tacanho e pobre, mas que se tornou recorrente no debate político por aqui.

A bola da vez? O meu colega de partido, deputado federal e candidato à presidência da Câmara do Deputados, Marcel van Hattem. Provocado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) a se posicionar favoravelmente aos pedidos de impeachment do Presidente, Marcel vem sendo acusado pelo MBL de estar “em cima do muro” nessa questão. Junto ao MBL, uma horda de detratores acusando Marcel de covarde por ele apenas estar pedindo prudência –, conceito tão fundamental na política e que anda tão esquecido, infelizmente. As acusações versam sobre covardia eleitoral e, pasmem, questionam sua candidatura à presidência da Câmara por esta, supostamente, ajudar o governo na disputa para o comando da Casa pelos próximos dois anos. Em síntese, uma sandice sem fim.

Confesso que, logo no início, quando tudo começou e os movimentos liberais começaram a se formar para expurgar o projeto criminoso de poder do PT eu não imaginava que estivéssemos em um “saco de gatos” ideológico tão grande. Julgava que conservadores e liberais pudessem dialogar com mais clareza e avançar suas pautas de forma conjunta em prol de um país mais livre e desenvolvido. Mas o que vejo hoje é uma eterna disputa por mais espaço político e a necessidade de adesão a slogans que nunca têm fim. O que o MBL deseja nada mais é que uma adesão, sem questionamentos, à sua oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Já para aqueles que ousam questionar o instrumento último do impeachment sobra o tribunal liberal do Twitter. E, assim, segue a perseguição aos “liberais impuros” que continuem, supostamente, negando a verdade imposta pelo MBL e a sua patrulha barulhenta das redes.

O escritor Russel Kirk, em seu magnífico livro a “Política da Prudência”, nos alerta que “a ideologia faz do entendimento político algo impossível, pois o ideólogo não aceitará nenhum desvio da verdade absoluta de sua revelação secular.” Eis a armadilha que o Movimento Brasil Livre (recorrentemente) cai ao não perceber que viver a política em seu imediatismo é uma tolice, afinal qualquer desvio de suas “verdades absolutas” revelará o inimigo comum o tempo inteiro. Uma fórmula que, na minha opinião, está fadada ao fracasso na construção de um país mais coeso e livre. Um erro infantil que o MBL, infelizmente, insiste em reiterar.

Por isso, enquanto não valorizarmos aqueles que sempre estiveram ao nosso lado e nos unirmos por uma política combativa, mas prudente e responsável; seguiremos nos debatendo e nos arranhando dentro do saco de gatos. Enquanto isso, do outro lado da ponte, a esquerda assiste a tudo sorrindo e com a pipoca na mão. O impeachment nas atuais condições dispostas é uma infantilidade e perceber isso não faz do Marcel, de mim ou de qualquer outro menos liberais. Entre a histeria e a prudência eu fico com a última. As principais civilizações cresceram e se desenvolveram na evolução e regularidade das instituições; não com sua constante ruptura. Eis uma lição dura, mas que eleva os homens da meninice revolucionária para a constância e as responsabilidades da vida adulta.

*Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Crédito da foto: Facebook / Divulgação

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5 Comentários

  1. Projeto político criminoso de poder! O que realmente significa isto? Não sou petista, muito antes pelo contrário, mas gostaria que fosse especificado isto. Agora. Os Liberais do Brasil defendem o que mesmo? O racismo, a xenofobia, transfobia, o desmatamento, negacionismo? Elegeram uma ameba para dirigir o país e põe sempre a culpa no pt. 2 anos de governo Temer e 2 do Boso. O que mudou ?C

  2. Ideologia. Alguns regurgitam cartilha outros os poucos livros que leram. Não é necessário muito mais de 5 minutos de fala para diferenciar quem só encadeia lugares comuns/chavões e quem consegue argumentar de fato. Muitos usam a ideologia como martelo e para estes todo problema vira prego. Porem falar até papagaio fala, o que interessa são as ações. E como diz Jordan Peterson, antes de consertar o mundo, arrume seu quarto. Sugerem modificações planetárias e não palpitam sobre a aldeia.
    Obviamente há muitos que usam a ideologia para esconder a picaretagem, mas é outro assunto. E, obvio, as ideologias do século XX não explicam o século XXI.
    Impeachment. Vermelhos querem porque tira o Cavalão do páreo, voltaria a velha polarização PT/PSDB. Ainda assim, acredito que Doria venceria. No curto prazo Mourão assumiria e com este a toada é bem diferente. Risco país, bem claro, iria para a casa do chapéu.
    Resumo da ópera: Brasil não tem jeito.

  3. Problema não é a liberdade de expressão no caso, problema é que impossibilita o diálogo com quem quer discutir politica no que diz respeito a problemas e soluções. Exemplo? Brasil está quebrado. Algo que ‘não pode ser dito’. Mas é verdade. Tinha acontecido após o governo Dilma, a humilde e capaz. Que é inteligente segundo alguns defensores (perto da maioria dos mesmos é mesmo). Ressalvados os papeis de Mercadante e Arno Augustin na coisa toda. Voltando ao assunto, quebrado e meio. Déficit ano passado passou dos 500 bi e este ano no papel falam em 250. Não, isto não afasta investidores estrangeiros. Estes só olham a remuneração do capital e o risco pais. Se a China não pode comprar soja em qualquer lugar na quantidade que precisa (por enquanto), os fundos de pensão precisam de rendimentos. Não é, como pensa a massa ignara, questão de relações pessoais ou moral (sempre existe um jeito), é pura e simplesmente negócios.

  4. Kim Kataguiri (DEM) é a cara do MBL. E o barulho todo é a eleição da presidência da Câmara. Congresso, como todo mundo sabe, é uma cidade de 25 mil habitantes com orçamento perto de 10 bilhões. Fica dentro do Distrito Federal que tem três milhões de habitantes e orçamento perto de 40 bilhões.
    Petistas e seus badalhocas só abordam dois assuntos atualmente. Um, obviamente, é o Cavalão e seus cavalistas. Outro é a ‘inocência’ de Molusco et caterva. Repetem à exaustão, não descobriram que existe controle remoto e dial. Junta-se ao pessoal ‘olha como sou legal, eu queria que o mundo fosse melhor, como sou coitado porque o mundo não é maravilhoso como eu queria, coitadinho de mim, minhas expectativas foram frustradas!’ e o quadro está completo.
    É, basicamente, o que chamam nos EUA de pessoal BMW, bitching, moaning e whining.

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