Coluna

Mil e uma noites em uma – por Bianca Zasso

biancaSe fôssemos assumir a empreitada de listar os casais em crise dos filmes desde os primórdios da Sétima Arte até hoje, ia faltar bloquinho para tantos nomes. A telona costuma ser um bom lugar para retratar amores que estão por um fio, seja pela rotina sem graça ou pela chegada de uma nova paixão.

Tramas com estas temáticas costumam mostrar jornadas longas, que abrangem meses e até anos de rusgas, discussões, lágrimas e recomeços. No ano de 2010, uma iraniana optou por transformar em roteiro aquelas mudanças intensas, que acontecem em poucas horas e mudam destinos com uma força tão grande quanto um longo martírio amoroso.

A diretora Massy Tadjedin fez em Apenas uma noite um romance no qual a emoção mora na proximidade do fim. A trajetória do casal Joanna e Michael, interpretados com precisão pelos jovens e belos atores Keira Knightley e Sam Worthington é apresentada ao público já trincada.

Bem-sucedidos, eles circulam quase como dois estranhos pelo confortável apartamento onde moram. Há um resquício de desejo, mas não basta. Na rotina dos dois, há mais dúvidas e inseguranças do que carinho e parceria. E ambos têm conhecimento da situação. Só que estamos apenas no começo.

De início o roteiro, também assinado por Tadjedin, mostra uma Joanna ciente dos flertes do marido com a colega de trabalho interpretada por Eva Mendes, mas disposta a discutir o caso e não deixar a relação acabar. Porém, como os caminhos da paixão são um tanto tortos, nos filmes e na vida, Joanna reencontra um antigo namorado que não faz questão de disfarçar que o interesse ainda existe.

Um convite para jantar e está armada a guerra interna da moça. A cena em que ela escolhe a lingerie e o vestido para o encontro deixa claro o sangue oriental da diretora. Olhares e toques tornam os expectadores cúmplices de Joanna e de seu conflito entre a vontade de seduzir e a de manter a fidelidade ao marido.

Longe dali, em uma viagem de negócios, Michael está em outra trincheira. As longas pernas da colega de trabalho lhe perseguem tanto quanto a vontade de salvar o romance com a esposa. Um quê de Hamlet instaura o dilema: trair ou não trair, eis a questão! Sem tabus ou preocupação com o politicamente correto, Apenas uma noite retrata o que qualquer pessoa que já passou por um relacionamento na vida encara, vez ou outra.

Sem arestas para serem aparadas, o filme de Massy Tadjedin agrada por sua delicadeza ao tratar de algo tão complexo como são os sentimentos humanos. Não existe cartilha e mesmo a mais certinha das criaturas pode se pegar na corda bamba do amor em algum momento.

O poder de Apenas uma noite está em dar ênfase para os olhares discretos, os toques sutis de uma mão na outra, as respiradas profundas antes de uma resposta, os beijos que quase acontecem. Instantes que poucos vão lembrar, mas que trazem consigo um grande significado.

É nas pequenas coisas que fica claro o quão difícil é dosar desejo e razão, e explica-los é tarefa quase impossível. Casais sem graça após a sessão de Apenas uma noite são comuns. Ainda é tabu jogar limpo em algo que é vendido como mágico e eterno para ser considerado verdadeiro. O toque iraniano e feminino de Tadjedin faz a diferença. Hollywood gosta de sua fama de sexy e romântico, mas tem muito que aprender com o outro lado do mundo.

Apenas uma noite (Last Night)

Ano: 2010

Direção: Massy Tadjedin

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

 

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