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Na teoria, a aliança dos militares de Bolsonaro com o Centrão refundou o governo – Por Carlos Wagner

‘No imaginário popular, as Forças Armadas estão no governo. Mas não estão’

Homens do Bolsonaro: Pacheco (E) e o Lira (D) apoiados pelo presidente e eleitos para comandar Senado e Câmara (Foto Reprodução)

A primeira lição que nós jornalistas aprendemos sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é que não podemos fazer nenhuma previsão sobre o que vai acontecer no dia seguinte. Isso se aplica às eleições dos aliados de Bolsonaro para presidir a Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Na teoria, o governo conseguiu uma grande vitória, que foi a criação de uma base parlamentar de apoio, e de quebra garantiu o engavetamento dos 62 pedidos de impeachment do presidente que repousam na Câmara.

Essa aliança entre militares e parlamentares lembra a que existia em 1964, quando as Forças Armadas deram o golpe de Estado e criaram a Aliança Renovadora Nacional (Arena), formada por parlamentares que davam sustentação política ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que abrigava a oposição consentida ao regime.

O regime militar durou de 1964 a 1985 e o bipartidarismo sobreviveu até 1979, quando começou a abertura política e iniciou-se a redemocratização do país. O golpe foi apoiado, financiado e organizado pelos Estados Unidos.

É sobre as semelhanças e desigualdades entre 1964 e 2021 que quero conversar com os meus colegas, os jovens repórteres que estão na correria da cobertura do noticiário do dia a dia nas redações, cumprindo três a quatro pautas e sem tempo de pensar ou sequer verificar se o que lhe foi dito tem cabimento.

Lembro que a grande massa de leitores é abastecida justamente pelo noticiário diário, que atualmente é o elo fraco na cadeia da informação devido ao sucateamento das grandes empresas de comunicação. E a máquina de fake news do governo vai tentar vender para o povão, nas entrelinhas das informações, a ideia da existência de uma aliança entre parlamentares e militares igual à de 1964.

Por quê? Simples. No imaginário popular, as Forças Armadas são sinônimo de competência e honestidade e estão no governo. Mas não estão. Mesmo que Bolsonaro sempre tenha reforçado essa ideia e surfando nessa onda. Ele era tenente do Exército e foi reformado como capitão depois de uma lambança que fez no quartel – há matéria na internet.

Vamos às diferenças. Os militares que deram o golpe em 1964 eram oficiais da ativa das Forças Armadas do Brasil – Marinha, Exército e Aeronáutica. Os militares de Bolsonaro, que hoje somam uma tropa de 6 mil empregados na administração federal, não pertencem às Forças Armadas.

São da reserva, reformados e alguns da ativa que estão no governo por sua conta e risco e pelos gordos salários que recebem, principalmente os generais que ocupam cargos no primeiro escalão, como o ministro da Saúde, o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello.

Os parlamentares da extinta Arena obedeciam ordens dos militares, que os recompensavam com cargos na administração federal e nas empresas estatais. E os puniam quando traíam o governo. Os parlamentares do Centrão não obedecem ordens, nem mesmo dos líderes dos seus partidos. E apoiarão o governo enquanto receberem cargos e emendas parlamentares.

Outra diferença fundamental. O governo militar era ideológico, porque o mundo estava dividido pela Guerra Fria – a disputa liderada pelos Estados Unidos, capitalista, e a extinta União Soviética, comunista. No Brasil, as pessoas que eram contra o regime, principalmente as de esquerda, eram presas, torturadas e muitas foram mortas.

Bolsonaro demoniza as esquerdas com o objetivo de reviver a Guerra Fria. Na verdade, seu único projeto de governo é proteger a sua família – há dezenas de matérias sobre o assunto na internet. A soma de todas essas contradições tornaram o governo Bolsonaro emocionalmente instável, já que tudo gira ao redor da figura do presidente, um homem que pela manhã pensa uma coisa, ao meio-dia, outra, e ao anoitecer, algo totalmente diferente.

O resultado disso? A confusão em que o Brasil está hoje, principalmente no combate à pandemia causada pela Covid-19, uma doença altamente contagiosa e letal, que o presidente decidiu enfrentar adotando como política de governo o negacionismo, trazendo como consequência a falta de um programa de abastecimento de vacinas e até de oxigênio nos hospitais de Manaus (AM), onde os pacientes estão morrendo asfixiados.

Portanto, a equação é a seguinte: os militares estão no governo pelos salários que ganham. Os parlamentares do Centrão, pelos cargos e empregos dos seus aliados nas empresas estatais. Todo esse pessoal gira ao redor de uma figura central, o presidente Bolsonaro, uma pessoa que age conforme os seus instintos, guiado por um aguçado faro para a sobrevivência política e econômica da sua família.

Dentro dessa realidade, nós repórteres precisamos ficar com os pés no chão, longe das cascas de banana. Por quê? O nosso leitor precisa de informações exatas e bem escritas para poder organizar a vida da sua família. O cotidiano do brasileiro é simples: não tem vacina para todo mundo. As mortes e o contágio causados pelo vírus infernizam a vida das pessoas, amedrontadas com a perspectiva de que poderão ser a próxima vítima. O ministro da Economia, Paulo Guedes, não consegue criar os empregos prometidos. E o que existe no horizonte dos brasileiros pode piorar ainda mais as coisas: uma greve de caminhoneiros e uma real ameaça do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de retaliar economicamente o Brasil caso o governo não cesse a destruição da Floresta Amazônica. O resto é teoria.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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