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UFSM. O dilema do retorno às aulas presenciais

Para professor de Virologia, retorno presencial neste momento é temerário

Surge proposta de retorno escalonado, sem testagem massiva e sem mapeamento disponível de servidores em grupo de risco. Foto UFSM / Divulgação

Bruna Homrich e Fritz Nunes / Sedufsm

Há um clima de grande apreensão na UFSM, com pressão, especialmente de alguns setores estudantis, que têm montado até petições, com o objetivo de pressionar pelo retorno às aulas presenciais. A Reitoria da UFSM tem se manifestado em lives no sentido de que não há como retornar sem as condições sanitárias necessárias, o que só ocorrerá a partir da imunização coletiva, posição também defendida pela Sedufsm e pelo Conselho de Representantes da entidade.

No entanto, a proposta publicizada pela pró-reitoria de Graduação (Prograd), construída com outros setores da gestão, aponta para um retorno híbrido. O tema será debatido na reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da próxima terça, 9 de fevereiro. Segundo a proposta, o Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE) seguirá sendo utilizado este ano nos mesmos moldes em que transcorreu no segundo semestre de 2020. Entretanto, no artigo 40 do Cap. VI (REDE 2021.1 e implementação gradual, escalonada e modular do calendário suplementar), diz que:

“Os estudantes que possuem disciplinas teóricas não cursadas ou não finalizadas no REDE 2020, primeiro e segundo semestre, poderão matricular-se naquelas ofertadas no REDE 2021.1, com o intuito de priorizar a presencialidade física para as disciplinas práticas e teórico-práticas a serem ofertadas no Calendário Suplementar”.

Segundo a Prograd, as disciplinas práticas correspondem a 30% do total de disciplinas da instituição.

O que está expresso nesse item aponta para um método híbrido, ou seja, a maioria dos cursos e disciplinas sendo ofertados através do REDE, mas abrindo a possibilidade de que haja também, para casos específicos, preferencialmente de disciplinas práticas, um retorno presencial, a partir da aprovação do plano de retorno e do calendário suplementar. Entretanto, ainda que esse tipo de organização dependa dos cursos e departamentos, quais os limites para essa presencialidade? Haverá testagem de professores, estudantes e técnicos? Haverá adaptações de prédios para melhoria na ventilação? Haverá distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)? Haverá mão de obra suficiente para as aulas práticas, uma vez que há professores e técnicos nos grupos de riscos?

Diante desse quadro de insegurança generalizado, já que não se tem garantia de vacinação dos segmentos em curto prazo, e que não há testagem em massa, quais os riscos de que, mesmo que não seja toda a instituição voltando ao presencial (25.810 estudantes, 2.016 docentes e 2.654 técnico-administrativos em educação), ocorram surtos a partir da contaminação pelo novo coronavírus? Só no Centro de Ciências da Saúde, por exemplo, lecionam 323 docentes. Além disso, a comunidade acadêmica – sem considerar os terceirizados – responde por cerca de 10% da população de Santa Maria.

“A UFSM tem um município dentro do município de Santa Maria, só no campus de Santa Maria são cerca de 30 mil pessoas circulando. É muito complexo garantir as medidas que são preconizadas como prevenção ao vírus”, diz a presidenta da Sedufsm, Laura Fonseca.

Ela explica que toda a movimentação da Universidade significa uma movimentação de aglomeração e que, por isso, é difícil pensar em retorno presencial com essas condições. Por isso foi aprovado o indicativo para a greve sanitária, se acontecer uma imposição de retorno presencial.

“Nossa discussão está pautada em apontar para a necessidade da segurança sanitária de toda a comunidade acadêmica: professores, técnicos administrativos de educação e estudantes. Se de fato é prioridade a educação, e em viabilizar um ensino de qualidade, a vacinação para todos tem que ser prioridade”, frisa Laura.

Cabe ainda observar os diversos serviços que são mobilizados com o retorno das aulas – desde o transporte coletivo e as agências bancárias, até supermercados e comércio local. Qual o impacto de um retorno, mesmo que gradual, sobre o restante da cidade? Em caso de a decisão sobre o retorno se estender aos demais campi da UFSM, a situação também não é favorável.

Apenas o campus de Palmeira das Missões comporta 1.151 estudantes, 93 docentes e 38 técnicos. Em Frederico Westphalen há 1.132 estudantes, 92 docentes e 50 técnicos. Já em Cachoeira do Sul há 1.077 estudantes, 93 docentes e 38 técnico-administrativos. Quantos dos servidores nos quatro campi são grupo de risco? A Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) disse que esses dados ainda não são públicos. No Curso de Dança-Licenciatura, por exemplo, dos seis professores da área, quatro são do grupo de risco.

O retorno ao presencial, seja em que percentual de pessoas for, neste momento, pode ser uma espécie de tiro no escuro. Para o professor Eduardo Furtado Flores, do setor de Virologia do departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UFSM, “retomar atividades presenciais neste momento seria temerário”. E acrescenta: “Temos que pensar, não só nas atividades em si – que poderíamos utilizar protocolos de biossegurança, mas a simples vinda para Santa Maria de milhares de alunos e seu cotidiano de transporte coletivo, restaurantes, etc., aceleraria muito a transmissão (do novo coronavírus).”

Incertezas
Algumas dessas dúvidas ainda não podem ser esclarecidas.

“Não há respostas ainda sobre a quantidade de pessoas que poderão circular na universidade, vai depender da demanda dos cursos”, frisou vice-reitor da UFSM, Luciano Schuch.

Se dependesse do curso de Engenharia Elétrica, por exemplo, o vice-reitor comenta que o número de formandos é pequeno, logo, seriam poucos a circular. E é justamente esse tipo de situação que preocupa, conforme o vice-reitor. Há, segundo ele, cursos que precisam formar suas turmas, mas devido à impossibilidade de disciplinas práticas, essas turmas estão sendo represadas.

O vice-reitor também destaca que a quantidade de pessoas que poderá ocupar salas e laboratórios, cumprindo medidas como o uso de máscara e o álcool em gel, vai depender dos protocolos pertinentes a cada uma das bandeiras convencionadas pelo governo do estado e seguida pelo município. Ou seja, se a cidade estiver em bandeira vermelha, o percentual de ocupação desses espaços é um, se a bandeira for laranja, o percentual é outro.

Na avaliação do médico infectologista e professor do curso de Medicina da UFSM, Alexandre Schwarzbold, o retorno deve ser gradual e estudado curso a curso, junto à reitoria, priorizando cursos que sejam dependentes de atividades práticas. A ideia, segundo ele, seriam atividades em grupos pequenos e alternados, ocupação de espaços físicos diferentes, rápida identificação e testagem de eventuais pessoas contaminadas.

“Seguramente tem que ser híbrido, com atividades teóricas mantidas de forma remota”, sugere.

E quanto à testagem de docentes, estudantes e técnicos que estarão atuando de forma presencial? Luciano Schuch diz que a UFSM segue os protocolos orientados pelas autoridades de saúde para a questão da Covid-19, o que significa em termos práticos: “A testagem é apenas dos sintomáticos, daqueles que manifestam sintomas da doença”, esclarece.

Outro questionamento que fica é: a UFSM, amargando cortes orçamentários sucessivos ao longo dos últimos anos – cortes que já ameaçaram inclusive a continuidade das atividades – e recebendo, em 2021, 18,5% a menos do que recebeu em 2020, terá condições financeiras de disponibilizar os recursos que um retorno demandaria?

Mobilidade e aumento de casos
Não é tão incomum surtos em escolas, quando do retorno ao presencial, mesmo quando seguidos todos os protocolos de segurança. Ainda esta semana, o Ministério Público de São Paulo solicitou que a Vigilância Sanitária inspecionasse duas escolas da cidade de Campinas. O Instituto Educacional Jaime Kratz e o Colégio Farroupilha tiveram que suspender as aulas depois de um surto de Covid. No caso da Jaime Kratz, as aulas tinham sido retomadas no dia 25 de janeiro, fazendo um rodízio dos 1,3 mil alunos, sendo que a cada dia compareciam 35% do total de alunos.

O que a ciência mostra é que a mobilidade, o trânsito de pessoas, ajuda muito na circulação do vírus. Portanto, o mais eficaz para evitar a disseminação da Covid-19 é manter o distanciamento social, reduzindo a circulação.

Ainda que, de uns dias para cá, o número de ocupação de leitos clínicos e também os de UTI da região de Santa Maria, deixaram de estar no gargalo, isso não deve significar afrouxamento nas medidas de distanciamento. É bom lembrar que esse número alto de ocupação hospitalar por paciente com Covid-19 ocorre sem a circulação de toda a população envolvida com a UFSM, que majoritariamente está no ensino remoto.

Sobre a questão da mobilidade, circulação do vírus e ocupação de leitos, importante os dados levantados pelo gaúcho Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede de Análises Covid-19. Ele mostra, através de gráficos publicados no seu perfil no Twitter, que a redução na ocupação de leitos em Porto Alegre, em janeiro, coincide com a redução da mobilidade da população da capital nesse período. Ao mesmo tempo, o aumento da mobilidade nas cidades praianas do RS, coincide com o aumento da ocupação de leitos por Covid nessas regiões. Em que isso pode nos alertar?

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