A necessidade de ensinar a ler e escrever na educação especial – por Demetrio Cherobini
‘Afora leitura e escrita, é preciso ensinar certas habilidades e comportamentos’
A prática educativa, se pretende ser eficiente, precisa ter clareza sobre a finalidade a que se dedica atingir. Nesse sentido, pode-se dizer que o objetivo da educação especial é proporcionar a construção da autonomia social dos sujeitos com necessidades especiais. Essa autonomia é mais efetiva quando realizada mediante o ensino e a aprendizagem de conhecimentos científicos que permitem à pessoa compreender a realidade da qual faz parte. Por suposto, para que esses conteúdos possam ser bem assimilados, a alfabetização e o letramento são as tarefas fundamentais que devem ser efetuadas nos espaços educativos frequentados pelos estudantes.
O domínio da linguagem escrita, exercitado a partir de uma orientação educativa correta e em concomitância com as experiências vividas em sociedade, possibilita, entre outras coisas, a interação criativa com os diversos saberes veiculados pelas diferentes disciplinas escolares. Ademais, faculta meios para a formação de conceitos sólidos sobre o mundo e para a compreensão de si mesmo no interior dessa totalidade. As práticas continuadas de leitura e escrita fomentam, por certo, a boa organização do aparato cognitivo e o desenvolvimento de um leque de potencialidades a serem usadas pelo indivíduo na sua interação com a comunidade da qual faz parte.
Todos os esforços da educação especial, portanto, devem estar alicerçados no ensino da leitura, no desenvolvimento da capacidade de interagir com as mais variadas formas de realização cultural humana onde a escrita se mostra presente. Ler, interpretar e assimilar corretamente os conhecimentos apresentados, e ser capaz de raciocinar criticamente sobre eles a partir de uma perspectiva racional e adequada à sua situação concreta enquanto membro de uma coletividade específica.
Além disso, cumpre assinalar que, juntamente com a leitura e a escrita, é preciso ensinar, também, certas habilidades e comportamentos que se vinculam a tais atividades: as faculdades de análise e síntese, de pensamento lógico e abstrato, o autocontrole, a disciplina, a iniciativa e a sensibilidade diante de temas e assuntos relevantes em relação à emancipação humana. Finalmente: deve-se desenvolver as capacidades cognitivas de atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação e criatividade. Quanto melhor a pessoa dispuser de tais ferramentas intelectivas, mais aumentará as oportunidades de se inserir e contribuir positivamente para o melhoramento da sociedade atual, isto é, a superação de suas contradições.
(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.
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