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Batalha das vacinas – por Orlando Fonseca

De um lado, Doria e a Butanvac; de outro, a do ministro astronauta. E…

No mundo publicitário brasileiro, já assistimos à batalha das cervejas, à batalha das margarinas. Na semana em que o mundo vê, sem entender, um imenso navio entalado no Canal de Suez; com certa desesperança, o avanço do coronavírus em suas mutações pelo planeta, por aqui, tem início uma “batalha das vacinas”, entre o governo paulista e a presidência da República.

Do mesmo modo que as outras batalhas aludidas, esta também é midiática. E aí é que dá uma canseira, pois sabemos que isso não resolve o grave problema da Covid-19 e os seus terríveis efeitos na economia e na vida de desempregados e isolados socialmente.

O Brasil já viu uma guerra civil em torno do tema, mas era um momento bem diverso da história de nosso país. No início do século passado, a ignorância sobre medicações, de um modo geral, era enorme: muitos analfabetos, muito pouca difusão de informações, que só se espalhavam no boca-a-boca e pelo jornalismo impresso; era o início da vida republicana, e ainda havia, no imaginário social, o conflito entre o novel regime e a monarquia extinta.

Mas a coisa não ficou apenas no bate-boca, houve confrontos entre milícias armadas, a polícia e o exército. No fim, prevaleceu a voz da ciência, representada por Osvaldo Cruz, que dá nome a um dos grandes institutos que faz parte do atual esforço mundial pelo combate à pandemia.

Por enquanto, agora, a refrega se limita a um esforço espetaculoso pelo protagonismo na produção de uma vacina. Por um lado, se o governo federal estivesse mesmo preocupado com o combate efetivo ao vírus letal, não teria demitido três ministros da saúde no decurso de um ano de pandemia.

Teria se antecipado e adquirido todo o estoque necessário de vacinas e de insumos para a produção local, ao tempo em que começavam as grandes negociações para a aquisição desses produtos, com a China, com os EUA e a Índia, ano passado.

Mas, como em vários setores desse (des)governo, as relações internacionais são um desastre – a tal ponto que os dois líderes do Congresso Nacional (da Câmara e do Senado) – têm insistido na saída do atual chanceler (se é que se o pode chamar assim).

Do lado do governo paulista, a par dos méritos e dos acertos nas medidas que vem tomando desde o início da pandemia, não há por que fazer o anúncio de uma produção nacional de vacina, como se fosse um trunfo com perspectivas eleitoreiras. Se assim não fosse, a notícia se daria com a dimensão que merece, sem que se erguesse o epíteto de “vacina 100% nacional”.

Hoje não é mais difícil chegar à verdade dos fatos em questão de segundos. A maioria da população tem preguiça ou preconceito, por isso prefere acreditar em boatos de WhatsApp, ou fake news de rede social. Mas aqueles que estão atentos à veiculação de informações têm à sua disposição milhares de fontes fidedignas para confirmar ou derrubar notícias falsas.

Assim é que ficamos sabendo, em questão de horas após o anúncio com pompa e circunstância, que se trata de um produto originário de consórcio internacional, e que a patente da descoberta em terras americanas foi cedida ao Butantã, para que use tecnologia nacional a fim de conduzir todo o processo em território brasileiro.

Entra em cena uma turma que já está na linha de frente da produção da vacina que previne contra o influenza, da gripe comum: as galinhas brasileiras, cujos ovos substituem o tal IFA, insumo chinês fundamental para outras vacinas. Simples assim.

E isso não provocaria a ciumeira que fez o Planalto correr e anunciar que o ministro astronauta está conduzindo a produção de uma vacina brasileira, que estará à disposição para o povo que, se assim o desejar, seja imunizado com um produto feito aqui (feito às pressas, mas que segue os padrões científicos, é o que esperamos todos).

O fato de esse mesmo governo ter-se demonstrado avesso a todas as providências para evitar o caos trazido pela pandemia, deixa-nos com um pé atrás. Que essa batalha não venha a fazer maiores baixas do que as que temos presenciado estarrecidos, todos os dias nos noticiários, nem baixarias, como é comum nestes embates que não levam a lugar nenhum.  

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Observação do EditorA foto é uma reprodução da internet.

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5 Comentários

  1. Molusco noutro dia deu entrevista na CNN. Programa da Christiane Amanpour, uma vecchia comunista. Parecia um cachorro engasgado com um osso, mais sério que guri c4g4do. Para amenizar colocar um sujeito com voz fina para dublar. Afirmou que não era um radical, falou das realizações, etc. Noutro dia defendeu a quebra de patentes das vacinas para combater a pandemia, ou seja, as empresas que investiram os tubos em desenvolvimento seriam tungados (exceção da chinesa que é do governo). Planejamento de esquerda é simples, medida autoritária e ‘depois a gente vê’.
    Alás, traz outro assunto. Lava a Jato tem raízes na CPI do Banestado (cujo relator era petista). O que aconteceu com Moro lembra Fausto de Sanctis. Velho adágio diz que se uma coisa aconteceu uma vez não é certo que aconteça a segunda. Mas se aconteceu a segunda vez é quase certo que acontecerá uma terceira. É aguardar e ver se a sabedoria popular se confirma.

  2. Do texto: ‘governo ter-se demonstrado avesso a todas as providências para evitar o caos trazido pela pandemia’. Falácia pura e simples, quais as providencias? Deixando de lado as ditaduras do planeta, não há pais que tenha definido ‘a saída é por ali’. Aumentam os casos em estados americanos (Michigan, por exemplo; Flórida é uma festa), Argentina e Alemanha. É muito fácil descobrir quem está fazendo o que, onde e quais os efeitos.
    Resumo da ópera é simples, pessoal que aprendeu tudo o que sabe pelo livro texto quando se depara com uma situação que não está no livro ou congela, ou faz besteira.

  3. Não é ‘simples assim’. Ovos são utilizados para multiplicação do vírus, injeta-se uma pequena quantidade e um ou dois dias depois faz-se a ‘colheita’.
    Dória, todos sabem, foi com muita sede ao pote. Precipitou-se na candidatura à Presidência lá atrás. Virou alvo. Acertou e cometeu erros. Com o passar do tempo a ênfase foi nos erros. Gauchada não fica sabendo porque não acompanha o noticiário paulistano, só fica sabendo o que a mídia local ou as grandes redes nacionais querem.
    Dória, o mestre de cerimonia ou calça apertada, com esta trapalhada chamou a população de burra/trouxa. Tentou enganar de maneira tosca. Tem muita gente por ai assim, acham que ninguém vai verificar.

  4. Chefia do Congresso mudou mas a qualidade não. Presidente do Senado, por exemplo, é advogado e até ocupou cargo na OAB. Autor da lei da Pfizer (se der problema a responsabilidade civil fica por conta do erário). Pessoas de direito privado, segundo a mesma lei, podem adquirir vacinas, mas até a vacinação dos grupos prioritários devem ser ‘doadas’ ao SUS. Depois dos prioritários a ‘doação’ cai para 50%. Ou seja, foi um ‘cala a boca’, maioria não vai comprar. E numa interpretação sistemática da CF é possível montar tese com desapropriação e confisco e conseguir decisão judicial. Não acompanhei o caso, mas em MG ou SP (se não me engano) já existem casos de vacinação VIP.

  5. Canal de Suez onde passam cerca de 10 bilhões de dólares em mercadorias todo dia.
    Confusão com vacinas não é privilegio nacional, Comunidade Europeia anda as turra com o Reino Unido por conta do assunto. Muita politica no meio.
    Questão do Ministério das Relações Exteriores não está bem clara. Politica é um jogo de xadrez onde se enxerga apenas um canto bastante reduzido do tabuleiro. Não significa que o ministro seja um santo, significa que existe gato nesta tuba e não é pela mídia que se descobre. Existe pressão por algum motivo, não é pandemia e muito pouco provável que seja 5G como foi levantado por ultimo (senadores no bolso dos chineses não é nenhum absurdo, bens comercializáveis estão a venda pelo melhor preço).

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