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Procura-se para Ministério da Saúde um candidato obediente a Bolsonaro – Por Carlos Wagner

Quem assumir a pasta terá que concordar com negacionismo presidencial

O general Eduardo Pazuello é o “boi de piranha” do presidente da República, Jair Bolsonaro (Foto Reprodução)

(*) O texto abaixo foi redigido antes do anúncio, na noite desta segunda, da escolha de Marcelo Queiroga para assumir o Ministério da Saúde. O conteúdo, no entanto, não está prejudicado. Pelo contrário. Confira:

Quem substituir o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello no cargo de ministro de Saúde vai assumir o comando de um avião em chamas, cheio de passageiros, tentando pousar seguindo as ordens de uma torre de controle cujo chefe é contra a aterrissagem.

No final da tarde de domingo, a notícia principal nos noticiários dava conta de que o general havia pedido para deixar o ministério por motivos de saúde. Tudo que Pazuello fez no ministério foi seguir as ordens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele transformou o negacionismo do presidente sobre o poder de contaminação e letalidade da Covid-19 em política de governo. O que resultou na tragédia das mortes por asfixia de infectados pelo vírus nos hospitais de Manaus (AM) e do interior do Pará devido a falta de oxigênio hospitalar. E atualmente no colapso do sistema público e privado de saúde de 25 dos 27 estados.

Hoje (14/03) estão morrendo mais de 2 mil pessoas diariamente vítimas do vírus no país, com o total de mortos já somando mais de 260 mil. E a vacinação a conta-gotas da população.

Essa é a situação do Brasil. O país chegou a ela porque o ministro Pazuello obedeceu as ordens do presidente da República. A única vez que tomou uma iniciativa por conta própria foi no final de setembro passado, quando assinou a intenção de compra das vacinas Coronavac, produzidas no Instituto Butantan, São Paulo, do governador João Doria (PSDB-SP).

Foi repreendido em público pelo presidente e disse o seguinte: “Um manda e o outro obedece”. No início do ano, na metade de janeiro, no auge da crise da falta de oxigênio hospitalar em Manaus, o general era apontado como símbolo da incompetência nos quatro cantos do Brasil. Ele “matou a situação no peito”, como diz o dito popular referindo-se a uma pessoa que fica quieta.

O presidente não levantou um dedo para defendê-lo. Muito pelo contrário, “atirou mais gasolina no fogo”. Agora, estrategicamente, ele se afastou do ministro. No dia 18 de janeiro fiz o post “Caiu a ficha do general Pazuello de que ele é o boi de piranha de Bolsonaro”.

Logo das primeiras semanas que a pandemia começou a ganhar corpo ao redor do mundo, Bolsonaro seguiu os passos do então presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano) no negacionismo ao poder do vírus.

Não foi por outro motivo que, para a surpresa dos brasileiros, ele boicotou a política de enfrentamento do alastramento da Covid-19 do seu ministro da Saúde, na ocasião o médico Luiz Henrique Mandetta. Ele demitiu Mandetta e o substituiu pelo também médico Nelson Teich, que após um mês no cargo pediu as contas e saiu. Foi quando o general assumiu.

O presidente Bolsonaro é hoje uma figura conhecida ao redor do mundo graças a sua política absurda de enfrentamento da pandemia. Ele não vai abandonar essa bandeira. Mesmo pressionado pela presença na disputa eleitoral do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP).

Em matéria publicada na Folha de S. Paulo, no domingo (14/03), Carlos Lula, presidente do Conselho de Secretarias Estaduais da Saúde, disse, em linhas gerais, que Pazuello não tem mais condições de continuar no cargo. Mas teme pela escolha que o presidente fará para substituí-lo.

Aqui é o seguinte. Há dois nomes circulando de possíveis substitutos do general. A cardiologista Ludhmila Hajjar e Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A médica tem o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, homem de confiança do presidente da República e ligado ao Centrão, que recentemente fez um acordo e tornou-se a base parlamentar do governo.

O padrinho da Ludhmila tem cacife para atrair a atenção do presidente para a sua afilhada. Caso ela assuma e não siga a risca a cartilha do presidente, será boicotada e depois demitida, como aconteceu com Mandetta. Ou fará como Teich e pedirá demissão para não se envolver com o negacionismo e ficar exposta a uma ação na Justiça por genocídio. Podem anotar.

Hoje (14/03), o ministro Pazuello não sabe quando vai sair do governo. E existe sim a possibilidade de que o presidente escolha outro militar para substituí-lo. Quem duvida? O fato é o seguinte. A maioria da população não suporta mais a atual situação. Enquanto o galope do contágio do vírus é acelerado, o governo federal envia uma comissão a Israel para avaliar um remédio que ainda está em fase de testes. Enquanto as famílias choram os mortos, o presidente da República fica dizendo palavrões nas suas live.

A previsão é que até metade do ano países como os Estados Unidos já comecem a caminhar a passos largos para a normalização da situação, graças à vacinação em massa da população. A economia brasileira, que era a 10ª do mundo, caiu para 12º. É real o risco do Brasil ficar no atoleiro econômico por alguns anos.

Fato é que o país hoje é governado pelo presidente Bolsonaro e os seus filhos parlamentares, Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. A família é apoiada pelos chamados Generais do Bolsonaro (que somam 6 mil militares de várias patentes espalhados pelo governo), movimentos nazistas, terraplanistas, ocultistas, neoliberais e um contingente de oportunistas de todos os calibres.

Seja lá o que for que aconteça no Ministério da Saúde, não muda a complexa situação que é o nó que foi dado na estratégia de combate à pandemia pela política de governo do negacionismo. Uma situação absurda.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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2 Comentários

  1. Mentalidade burocrática na gestão publica é institucionalizada. Querem um papel dizendo que tudo vai funcionar perfeitamente como é idealizado. Preferem a ilusão de certeza do que enfrentar uma conjuntura volátil com grandes incertezas. Compreensível. E infantil.

  2. Baboseiras de costume. Resumo da ópera é simples.
    Pazuello foi frito como é costume na politica tupiniquim. Vide secretaria da infraestrutura da aldeia. Não tinha grana deixaram Almeida Rosa por lá. Surgiu grana (agora são vacinas) é preciso faturar eleitoralmente e arrumar um novo ocupante da pasta mais ‘favorável’. Ficou tão escancarado que Cechin teve que assumir a pasta. Tentaram fritar o ocupante das finanças também.
    Ludhmila Hajjar tem livre docência e doutorado em anestesiologia pela USP. Experiencia em gestão reduzida. Experiencia em fazer cara de má e falar grosso na CNN não resolve. Serviria, como o nomeado, de garoto propaganda, muitas reuniões, muitas entrevistas e quem tocaria o ministério seria o ‘adjunto’. Centrão, que ajudou na fritura, queria o ministério porque tem orçamento grande e tem muito espaço para roubar por lá. Emplacada a ministra teria o quid pro quo, ela teria que ‘pagar’ o cargo, nomear gente ‘de confiança’.
    Cavalão deu uma de esperto, não serve este ministro? Nomeia um dos seus. Consequencias? Não se sabe.
    Há que se ter em mente que na mentalidade politica nacional roubar é normal. Criticar é ‘ir contra a democracia’ ou ‘criminalizar a politica’.

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