Artigos

Quando a educação vai ser essencial? – por Sueli Salva

“Sabemos que para muitos políticos, a educação nunca foi essencial”. Então...

O conceito de atividade essencial entrou em discussão em todos os âmbitos da nossa sociedade, exatamente no momento em que estamos mergulhados em uma pandemia, sem precedente na história do Brasil. Se antes tínhamos a nosso dispor muitas coisas não essenciais, mas que repentinamente se tornavam essenciais por uma necessidade puramente econômica, afinal, o capitalismo precisa ser sustentado e, para isso, cria necessidades continuamente, tornando-as essenciais. Se alguma coisa é essencial significa que ela é fundamental, imperiosa, ou seja, precisamos dela para viver.

Com certeza, a educação é fundamental para a vida humana, no entanto, o que causa estranheza é essa repentina essencialidade da educação, uma bandeira hasteada por setores que até ontem estavam se lixando para a educação, como é o caso de  alguns grupos que acreditam que quanto menos educação, melhor.    

Também sabemos que para muitos políticos, a educação em nosso país nunca foi considerada uma atividade essencial. Salvo em alguns períodos curtos da nossa história em que tivemos como Presidente e como Ministro da Educação, pessoas realmente interessadas em investir na Educação. Sou professora há pelo menos 35 anos e, poucas vezes, vi sendo erguidas bandeiras pela luta de investimento em educação. Aliás, a essencialidade da educação não pode ser pensada, sem levar em conta inúmeras questões que também lhe são essenciais:

Se em nosso país a educação fosse considerada essencial, professores e professoras não teriam seus salários congelados, nem atrasados.

Se a educação fosse uma atividade essencial, não teríamos escolas em situações precárias, crianças e jovens não teriam dificuldades de acessar a internet, não teríamos falta de funcionários, não teríamos salas de aula pequenas e apertadas, não teríamos banheiros em péssimas condições.
Se a educação fosse uma atividade essencial, não se precisaria fazer rifas para comprar materiais para as crianças, ou para colocar um ar condicionado na sala de aula para amenizar o calor estonteante de Santa Maria ou o frio do inverno que em muito atrapalha a concentração das crianças.

Se a educação fosse considerada atividade essencial não teríamos escolas sem biblioteca, laboratórios. 

Se a educação fosse considerada atividade essencial, não teria sido aprovada a Emenda Constitucional 95/2016 que instituiu o Novo Regime Fiscal, conhecida como PEC do Teto, que limita investimentos públicos por 20 anos.

Se a educação realmente fosse considerada essencial, não teria sido aprovada a PEC 186/2019 que vincula o auxílio emergencial ao congelamento de salários de servidores públicos, incluindo professores da escola pública.

Parece que não sou sensível com a situação das crianças das classes mais pobres que agora não podem frequentar a escola presencialmente, crianças que às vezes, também contam com a escola para a alimentação e a segurança. Sim, sou sensível a essa situação. O que estranha é que a bandeira da essencialidade seja levantada por aqueles que pouco se preocuparam até hoje com todas essas questões que são, ao meu ver, essenciais para a educação.

Portanto, se considerar a educação como atividade essencial significa lutar por investimento em educação, então essa também é minha bandeira. Pois, considerar a educação como atividade essencial é pensar em investimento, em dar condições para que se possa atender as crianças com segurança, com qualidade. A essencialidade se mostra quando uma sociedade é favorável em prover condições para que professores e professoras, funcionários e funcionárias, crianças e suas famílias tenham segurança, garantia de vida e proteção.

Prover condições também implica, nos dias atuais, investir em vacinas para que todas as pessoas retornem à escola com segurança. Afinal, essenciais são todas as atividades que promovem as condições de uma vida digna para todas as pessoas, inclusive para aquelas que as desempenham.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI .

(*) Sueli Salva é Doutora em Educação. Professora do departamento de Metodologia do Ensino/CE – UFSM

(**) O artigo acima foi originalmente publicado no site da Seção Sindical dos Docentes da UFSM

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Sinceramente, espero que quem ataca os servidores públicos nunca precise de um bombeiro, policial militar, e, neste momento, servidores do Samu ou de qualquer qualquer outro serviço de saúde! A vida cobra. O Marlon e suas idéias… Enquanto isto ajudo minha bisavó. Ela sempre diz. Entre falar ou escrever bobagens. Vá à privada. Fique lá obrando. A caca vai pelo ralo.

  2. Sim, o capitalismo precisa ser sustentado, é o sistema que está aí. As pessoas precisam trabalhar para ganhar a vida, conceito estranho para os servidores públicos.
    Problema é que existe um platonismo exacerbado por aí e a imagem é tudo num pais onde não se avalia o resultado de politicas públicas.
    PEC limita investimentos por 20 anos, daí a falácia, no valor total, não significa que não é possível cortar em algum lugar para aumentar o gasto em educação.
    Congelamento não está vinculado ao auxilio emergencial, está vinculado ao voluma da dívida pública.
    Podem triplicar o salário dos professores (se fosse possível com um passe de mágica) a qualidade da educação seria exatamente a mesma. Se aumentar salário melhorasse desempenho em qualquer empresa privada todos ganhariam muito bem e ninguém seria demitido (algo impossível no serviço público, onde sempre falta grana e gente).
    Debate não tem nada a ver com educação. É a esquerda ‘lockdown tranca tudo’ de um lado, um maioria indiferente e na outra ponta o pessoal ‘vida que segue’, os cavalistas e os atingidos das particulares que sabem que a vaca já foi para o brejo.
    Mais provável é que no final vai acontecer aprovação em massa, recuperação como a casa pode oferecer e vida que segue. Cada um por si e Deus por todos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo