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A diferença entre a CPI da Covid e todas as outras é a morte de 380 mil brasileiros – por Carlos Wagner

‘Em situação dessas, a melhor saída para o repórter é não se afastar dos fatos’

A CPI da Covid – 19, no Senado, vai mostrar as digitais dos responsáveis pelas 380 mil mortes na pandemia? (Foto Reprodução)

É a primeira vez na história do Brasil que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado procura identificar as digitais dos responsáveis pelos erros cometidos na política sanitária do país no combate à pandemia causada pela Covid-19.

São erros que levaram os infectados pelo vírus em Manaus (AM) e no interior do Pará a morrerem asfixiados por falta de oxigênio hospitalar. E que causaram o colapso do sistema hospitalar público e privado em 25 dos 27 estados do Brasil. Pessoas morreram por falta de leitos e vagas nas UTIs. Também houve carência de medicação para entubação dos pacientes nas emergências médicas. E falhas na estratégia de negociação para a aquisição de vacinas que resultaram num ritmo de vacinação a conta-gotas.

O resultado disso tudo: mais de 3 mil pessoas chegam a morrer diariamente no país e já soma mais de 380 mil o número total de brasileiros mortos. A principal digital nessa situação é a do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), militante do negacionismo do poder de contaminação e letalidade do vírus.

Mas lembro, ele não é o único envolvido: há senadores, deputados federais, empresários, médicos, funcionários públicos federais, militares de várias patentes, incluindo o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, que foi ministro da Saúde, e várias outras pessoas.

Todos os dias, os noticiários mostram um episódio aterrador de danos causados ao redor do mundo pelo coronavírus, que já matou mais de 3 milhões de pessoas. Quando a história dessa pandemia for escrita, certamente o que aconteceu no Brasil, pela sua magnitude, vai ter um lugar de destaque. É sobre isso que quero conversar com os meus colegas.

A CPI nasceu ontem (terça, 27/04) no Senado. Mas começou a ser gestada em 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS), ligada às Nações Unidas, declarou a existência da pandemia da Covid-19. Bolsonaro viu no palco macabro criado pelo vírus ao redor do mundo uma oportunidade de brilhar. E brilhou.

Primeiro, se perfilando ao lado do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), que negava o poder de contágio e letalidade do vírus. Mas o presidente brasileiro foi além do seu colega americano. Ele transformou o seu negacionismo em política de governo. Desde então, tem boicotado o trabalho de ministros da Saúde e outros altos funcionários do seu governo, de governadores, prefeitos e até vereadores que foram contrários ao negacionismo.

Deu no que deu: uma bagunça sanitária que custa a vida de 3 mil brasileiros por dia. Se o negacionismo do presidente da República não virasse uma política de governo, o número de brasileiros mortos seria menor ou maior? Essa é uma das mais importantes respostas que a CPI deverá dar.

O presidente da CPI é o senador Omar Aziz (PSD-AM) e o relator, o seu colega Renan Calheiros (MDB-AL). É como dizem os parlamentares: “uma CPI se sabe como começa. Mas não como termina”. E aqui chegamos aos xis da nossa conversa. Por conta das mortes e a devastação na economia e no nosso modo de vida causada pela pandemia, nós jornalistas não podemos tratar o que vai acontecer durante os 90 dias de trabalho dos senadores como se estivéssemos acompanhando uma CPI qualquer. Não é assim.

Se o que for descoberto na CPI da Covid vai reeleger ou não Bolsonaro é outra história. O nosso interesse é explicar para o nosso leitor como chegamos a essa situação de hoje e quem são os responsáveis. Por quê? Pelo que os cientistas dizem, vêm novas pandemias por aí. O que não pode acontecer mais no Brasil é o que está acontecendo hoje, quando, por erros do governo e seus aliados, centenas de pessoas estão pagando com as suas vidas.

Aqui lembro o seguinte: no início de abril (13/04), fiz o post “CPI da Covid-19 pode se tornar o Tribunal de Nuremberg do Brasil?” Lembrei no post que, terminada a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), os aliados que derrotaram a Alemanha nazista ergueram o tribunal para julgar e punir os criminosos de guerra e também para entender como os cidadãos comuns deixaram se influenciar pelos nazistas e se envolveram na matança de civis e na construção de uma política racista causadora da morte de milhares de pessoas – há livros, documentários e muitos documentos disponíveis na internet sobre o assunto.

No governo Bolsonaro existem médicos que não só defendem como receitam drogas sem efeito contra a Covid-19. Mas que causam danos colaterais aos pacientes, como é o caso da cloroquina –- há materiais disponíveis na internet.

Temos mais de 6 mil militares da ativa, da reserva e reformados fazendo parte do governo, incluindo generais, que fazem vistas grossas quando o presidente defende golpe de estado, como o que aconteceu em 1964 e durou até 1985. Temos um serviço de informações paralelo funcionando dentro do governo que mantém o presidente da República informado sobre as atividades dos seus adversários políticos.

Tudo o que descrevi sobre as pessoas que fazem parte da máquina do governo, qual é a influência que tem no atual beco sem saída que os brasileiros estão por conta da Covid-19? Vai ser uma cobertura difícil a do andamento da CPI da Covid-19 porque o governo é formado por vários grupos políticos. E também tem uma poderosa máquina de distribuir fake news. Em uma situação dessas a melhor saída para o repórter é não se afastar dos fatos. Tempos interessantes vêm por aí.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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