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Insistência dos “médicos do Bolsonaro” no uso da cloroquina é pauta da CPI da Covid – por Carlos Wagner

“Por que o presidente insiste no negacionismo? É o que o mantém no poder”

Continuar insistindo na cloroquina é uma maneira de (Bolsonaro) distrair a atenção para o que interessa: a vacina (Foto Reprodução)

Por ser uma situação absurda vai fazer parte da história da pandemia no Brasil. No momento atual, quando mais de 3 mil brasileiros morrem diariamente vítimas da Covid-19, já somando mais de 360 mil mortos no total, algo nunca visto na história do país, com a rede hospitalar pública e privada à beira do colapso, com carência de insumos como o kit de entubação, com escassez de oxigênio hospitalar em várias cidades brasileiras, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continua insistindo no uso de drogas como a cloroquina e a ivermectina, consideradas sem efeito no combate ao coronavirus.

Seguidamente, os efeitos colaterais dessas drogas acabam contribuindo para a morte de pacientes e viram assunto nos noticiários. Só há uma explicação. O interesse do governo é desviar o assunto, causando confusão. A vacina é a solução do problema. E devido à lambança em que se transformou o Ministério da Saúde, a vacinação da população acontece à conta-gotas.

Liguei para várias entidades médicas fazendo uma simples pergunta: “Se essas drogas não têm efeito contra o vírus e ainda podem causar danos colaterais, o que os médicos estão fazendo no meio dessa confusão?” É sobre isso que vamos conversar, principalmente com os repórteres que fazem a cobertura do dia a dia e estão na correria das redações. Vamos aos fatos.

Mas antes uma lembrança das cascas de banana que existem nessa questão. Há dois atoleiros que devemos evitar. O primeiro é sobre a opção política dos médicos de se perfilarem ao lado de Bolsonaro. É um direito garantido pela Constituição eles apoiarem quem bem entendem na disputa política. O segundo atoleiro é sobre a eficiência dos tratamentos com cloroquina e seus efeitos colaterais. Isso é entre os médicos, os seus pacientes e familiares e os advogados. Por quê? Quando tudo isso passar, as ações de reparação de danos criminais e outros tipos de demandas na Justiça vão cair no colo dos médicos.

Pelo que entendi na conversa que tive com as entidades (de classe, governamentais e outras reguladoras) não há um consenso entre elas sobre a eficiência desse tipo de tratamento. Mas todas com que falei comentaram que, para cada tipo de tratamento, existem normas que devem ser seguidas pelo médico.

Vamos ao que interessa. O que vou escrever não é opinião. São fatos que já publicamos. O presidente da República tornou o seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade da Covid-19 em política de governo. O que resultou dessa atitude? Uma inacreditável rotatividade de ministros da Saúde. O atual, o médico Marcelo Queiroga, é o quarto em pouco mais de dois anos de governo.

A compra de vacinas contra a Covid pelo governo federal se transformou em uma novela mexicana. No início do ano, enquanto dezenas de pessoas morriam asfixiadas sem oxigênio nos hospitais de Manaus (AM) e no interior do Pará, o então ministro da Saúde, o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, distribuía o kit Covid – formado por cloroquina e outras drogas sem efeito contra o vírus – entre a população.

É aqui que os “médicos do Bolsonaro” entram na história. O trabalho deles está sendo usado pela máquina de fake news do governo federal para convencer a população de que a solução são os kits Covid. O resto, vacinas, distanciamento social e leitos hospitalares, são coisas inventadas pelos inimigos do governo.

Por que o presidente insiste no negacionismo? Simples. É o que o mantém no poder. A CPI da Covid-19 aberta no Senado vai esmiuçar esse assunto. Vejam bem. O governo é formado por vários grupos políticos, como terraplanistas, ocultistas, nazistas, os “Generais do Bolsonaro” (como são chamados os 6 mil militares empregados na máquina administrativa federal), neoliberais, Centrão (parlamentares que dão sustentação para o governo na Câmara e no Senado), os “Médicos do Bolsonaro” (que se encarregam de distribuir entre a categoria o saber sobre drogas milagrosas), o Gabinete do Ódio (formado pelo círculo de pessoas ao redor do presidente, entre elas os seus três filhos parlamentares) e oportunistas de todos os calibres.

No caos sanitário que os brasileiros estão vivendo, a figura do médico assume uma importância altíssima. Portanto, quando um deles prega “curas milagrosas”, as suas palavras correm entre as classes populares mais rápidas que fogo em palha seca. Daí o interesse dos senadores em saber como esse pessoal opera dentro do governo.

Tenho conversado muito com os meus velhos colegas, os jovens e os estudantes de jornalismo sobre o quadro político do Brasil. O que nós temos não tem nada a ver com a disputa política entre esquerda, direita e centro. É uma outra realidade que apareceu nos Estados Unidos durante a campanha presidencial de Donald Trump (republicano) em 2016, que se elegeu graças a uma aliança formada pelo seu estrategista Stefan Bannon entre grupos políticos exóticos (terraplanistas e ocultistas) e outros extremamente perigosos (nazistas e Ku Klux Klan).

Trump os uniu com propostas malucas como a construção de um muro na fronteira com o México pago pelos mexicanos. A alma desse sistema que elegeu Trump é uma bem montada e lubrificada máquina de fake news.

Bolsonaro seguiu na mesma trilha de Trump. No ano passado, o presidente dos Estados Unidos concorreu à reeleição e foi derrotado pelo democrata Joe Biden. Para entender personagens tipo Trump e Bolsonaro é necessário estudar a história da Alemanha nos anos 30, quando surgiu o nazismo, que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial e todo o horror que é conhecido.

Considero fundamental para os jornalistas lerem os depoimentos dados pelos líderes nazistas e os colaboradores do regime (empresários, médicos, artistas e outros) durante o Julgamento de Nuremberg. Esse julgamento foi organizado pelos Aliados para punir e também entender o que tinha acontecido na Alemanha. Há vários documentários sobre o julgamento.

Arrematando a nossa conversa. Há mais de 360 mil mortos, 3 mil ainda morrem por dia, colapso hospitalar, falta de vacinas, economia em pedaços e o país à beira de um ataque de nervos. Bolsonaro e seus seguidores não vão sair do governo, bater a porta e ir embora como se nada tivesse acontecido. Não é assim que funciona. Seja lá qual for o resultado da CPI, ela é o início de uma prestação de contas. Podem anotar.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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