Artigos

O Cacete do Alfrânio – por Marcelo Arigony 

Ele se esforçava muito tentando emagrecer. Mas tinha um ponto fraco

Ano novo. Estava aqui fazendo resoluções. Fui lá recapitular aquelas feitas no ano velho. Eram só duas, para poder cumprir.

Tá lá escrito: acordar mais cedo e emagrecer dez quilos. Meio relacionadas. Acerta uma, corre risco de matar as duas. Barbadinha!

Aí lembrei do Alfrânio, um amigo que estava sempre de regime. Ele fazia o regime das fases da lua, o do sol, e também o das marés.

Também fazia dietas. Não sei qual a diferença entre dieta e regime, mas ele dizia que é diferente. 

Fazia a da água de berinjela, a dieta verde, a da alface, do ovo e da melancia.

Mas o melhor era um tal regime do limão. O Alfrânio tomava um copázio de limão puro pela manhã, em jejum. Além de emagrecer, limpava o sangue. Pura magia… até o gastro dizer que tinha desenvolvido uma úlcera.

Em outra época o Alfrânio vinha com umas paradas mais requintadas: low carb, Dukan, cetogênica, pegan… 

Também teve fases de não comer açúcar, veganismo, e… abacaxi. Sim, ele e uns dez outros malucos só comiam abacaxi. Aí aquela úlcera começou a mandar chasque…

Também caminhava, corria, fazia musculação. Tinha tênis pronado, supinado, gel boreal, o escambau. 

Chegou a montar academia em casa. E a gente ia pra lá tomar mate… ou era cerveja (?), enquanto o Alfrânio suava os bofes numa esteira barulhenta.

Ainda não havia essas esteiras robô transformer: o cara começa a caminhar e aquilo levanta, abaixa, sacode, mede aura, ozônio do sangue, e no final dá o número da sorte. Só falta materializar a Megan Fox. Ô tecnologia…

Também tomava uns suplementos: whey protein, vitasay, coscarque, forteviron, enibex, uma farmácia… Mas tudo em vão.

O pior é que se Deus olhasse pro Alfrânio ia ver que merecia emagrecer. Tinha atitude, propósito, e bota perseverança nisso. Uma meia vida inteira fazendo exercícios, e lutando contra a balança.

Mas o cacete, o ponto fraco do Alfrânio, era o pão cacetinho. No café da manhã ele já comia quatro. Se estivessem quentinhos ele metia uns sete.

Eu dizia para parar de comer pão, mas ele não conseguia. Sempre que passava em frente à padaria ouvia uma voz que dizia: 

– Alfrâââââââânio, Alfrâââââânioooooooo, vem que que tem pão quentinhoooooooo.

E o Alfrânio ia. Comprava uma braçada de pão e fazia a festa. Com manteiga.

Pobre do Alfrânio comedor de pão. Todo o esforço de meia vida em vão. Cacete de cacetinho, que não me deixa emagrecer…

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. ‘Humorista’ é uma profissão. Para quem não tem talento demanda muito esforço. Dentre as patotinhas da cidade não é incomum forçarem a risada para não perder a amizade. Para quem assiste de fora é o mais puro exemplo de retardamento mental. Alas, não é incomum alguma criatura aplicar o ‘conto do vigario ideologico’ inventando fatos para explicar opiniões furadas e ninguém dar um pio. No maximo uma ou outra risadinha amarela do tipo ‘sei o que estas fazendo’ ou um olhar mais perplexo do tipo ‘alguém peidei’. Montar um texto utilizando as regras gramaticais e as estruturas de praxe não tem nenhum misterio. Dai minha critica as inumeras ‘academias de letras’ por ai, querem incentivar a leitura empurrando nas escolas textos produzidos por quem não tem nada a dizer. ‘Escritos muito bons, la garantia soy yo’. Leituras forçadas que levam a experiencias ruins que afastam os futuros leitores. Divago. O leitor gasta uma fração da vida dele para ler (poderia utilizar o tempo com Fernando Sabino, por exemplo). Obvio que espera algo em troca. Nesta parte aparecem os ‘é um chato, fala mal de tudo, mimimi’. Este povo pode, preventivamente, ir se lascar. E a moral da ‘história’? Chavão, lugar comum, ‘culpa é do sofá’. Vamos combinar, se 405 palavras podem ser resumidas em três é porque algo que não esta certo está errado.

    1. Mas achar um Sabino aqui na aldeia meio improvável. Seguimos na brincadeira amadorística.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo