A CPI começou – que a verdade se imponha – por Paulo Pimenta
A partir desta terça, “governo Bolsonaro senta-se diante dos senadores”
A moenda começa a girar. As instituições impuseram, em quinze dias, sucessivas derrotas ao governo: o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado de Bolsonaro, não queria instalar a CPI da pandemia. Teve que fazê-lo por determinação do STF. O Palácio do Planalto tentou interferir na composição da Comissão. Tinha nomes para presidente e relator. Não emplacou nenhum dos dois. Teve que engolir as indicações de Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL).
Num último esforço para bloquear seu funcionamento, o Palácio do Planalto obteve uma liminar expedida por um juiz de Brasília, para impedir que Renan Calheiros assumisse a relatoria. Uma manobra desastrada. Por inepta, a liminar foi sumariamente revogada pelo Ministro do STF Ricardo Lewandowski.
Nesta terça-feira, o governo Bolsonaro senta-se diante dos senadores. Começa pelos ex-ministros da saúde Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello. Esse último, depois de ser fotografado sem máscara, no fim de semana, alegou não poder se apresentar à CPI, por ter mantido contato com oficiais que contraíram a covid-19. Aparentemente o general está preocupado com a saúde dos seus interrogadores. Ou talvez não tenha concluído os ensaios das respostas às questões que lhe serão apresentadas. O Relator da CPI, Senador Renan Calheiros ofereceu uma saída rápida e objetiva ao general Pazuello: “Faça um teste de covid, general, e participe da CPI”.
Repete-se nestes dias de aquecimento da CPI, entre os líderes políticos mais experientes, a frase atribuída ao Dr. Ulysses Guimarães: “Sabe-se como começa uma CPI, nunca sabe como termina”. Por isso não vale a pena fazer especulações sobre os resultados, mesmo porque essa CPI da pandemia traz consigo uma peculiaridade: o que ela vai inquirir aos seus interrogados já foi objeto de confissão pública dos autores.
Ou seja, o Executivo Federal tornou publico seu próprio roteiro das “23 vulnerabilidades” para preparar os seus. O roteiro se constitui num subsídio relevante para o trabalho dos senadores. Sem prejuízo naturalmente de questionamentos, cujas respostas não tenham sido objeto de “CPI training”…
A CPI inicia os trabalhos com o governo na defensiva. Setores a cada dia mais amplos do país passam a exigir explicações convincentes para a maior calamidade sanitária da história. Os movimentos da oposição, importantes sem dúvida para o desgaste do governo Bolsonaro e para visíveis modificações na correlação de forças na sociedade, seguem, porém, no âmbito da institucionalidade: STF e Congresso Nacional.
Falta um ingrediente que será decisivo para as forças populares desequilibrarem a balança: as mobilizações de rua. Hoje o grande aliado de Bolsonaro é o vírus, quem sabe seja uma retribuição pelos serviços prestados ao longo de um ano pelo ocupante do Palácio do Planalto à propagação…
Hoje o Brasil conta 400 mil mortos, com a sociedade imobilizada, presa entre dois medos: morrer asfixiada antes de chegar ao hospital ou mesmo depois de ser internada, ou morrer de fome.
A pergunta da hora é: poderão as investigações da CPI despertar a indignação da sociedade e mobilizar os setores populares para avançar no convencimento do cidadão comum sobre a condução negacionista e criminosa do governo frente à gravidade da pandemia?
Estamos diante de uma complexa encruzilhada para onde convergem a pandemia da covid-19 que já ultrapassou os 400 mil mortos e não dá sinais de arrefecer; uma crise econômica provocada pelas políticas ultraliberais de Bolsonaro/Guedes, que se expressam, entre outras mazelas, nas mais elevadas taxas de desemprego – mais de 14 milhões de desempregados -, na volta da fome para as camadas mais pobres e da inflação que empurra para baixo as classes médias.
Como responder a esse conjunto de desafios e por abaixo um desgoverno que se tornou disfuncional para a esmagadora maioria da população?
Dentro de um ano e meio o Brasil voltará às urnas. Não há saída para a calamidade em que o país foi lançado pela extrema-direita ancorada na direita neoliberal, fora da política. Fora dos partidos institucionalizados e dos movimentos sociais organizados.
Para que o país construa um caminho capaz de conduzi-lo a escapar ao cerco da barbárie e se reencontrar consigo mesmo é necessária, mais do que nunca, a ação política madura das forças sociais comprometidas com a sobrevivência física de vastas camadas da população brasileira, com a democracia e com a dignidade nacional.
400 mil mortos depois, os setores sociais e políticos que ainda o sustentam deixam de ser apenas base social de um governo destrutivo – explicitamente confessado pelo psicopata que o guia – para se tornarem cúmplices de um genocídio. O impedimento de Jair Bolsonaro é um imperativo de sobrevivência do Brasil como nação.
(*) Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.
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