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As mulheres trabalhadoras na história – por Elen Biguelini

“As mulheres nunca tiveram profissões? Seria isso verdade?” Não, mesmo!

Muitas vezes ouvimos que “as mulheres passaram a trabalhar na década de 70”. Realmente, foi um momento tumultuoso na história das mulheres e dos movimentos feministas. Algumas jovens arregaçaram suas mangas e participaram em manifestações pedindo direitos às mulheres, outras entraram em universidades e sofreram com campos de trabalho exclusivamente masculinizados, sem auxílios maternidade ou aceitação daquilo que era visto como feminino e, assim, inferior.

No entanto, esta ideia de que as mulheres nunca trabalharam até então é uma falácia. Primeiramente, exclui de consideração todo e qualquer trabalho doméstico feminino: seja o tratar da casa ou de cuidar da educação dos filhos. Ignora também outra frase frequentemente utilizada ao falar de história das mulheres: “a prostituição foi a primeira profissão”. Se a primeira profissão era exercida por mulheres, como podem elas apenas iniciar o trabalho na década de 70?

Mas é a terceira negação criada por esta frase que pretendemos tratar. As mulheres nunca tiveram profissões? Seria isso verdade? Teriam as mulheres nunca trabalhado no campo? Teriam elas nunca feito partos? Teriam elas nunca escrito?

Na cidade de Coimbra, as vendedoras que primeiramente aportavam os visitantes no recém-instituído comboio (trem), eram mulheres. No Brasil, Maria Beatriz Nizza da Silva, historiadora colonialista, muito fala dos trabalhos femininos exercidos não apenas por escravas de ganho, mas também pelas próprias donas de casa que faziam os produtos que seriam vendidos pelas escravizadas.

Lavadeiras e atrizes foram sempre presentes nas cidades oitocentistas. O padeiro poderia ser o homem em épocas medievais, mas sua esposa participava ativamente do corrido dia a dia da padaria. Mesmo na antiguidade, existem representações de mulheres a andarem com barris de água para abastecer o lar.

As mulheres sempre trabalharam. Isto não deslegitima, no entanto, o esforço daquelas feministas de segunda vaga (onda), que pararam de usar sutiãs e se adentraram na força de trabalho de forma marcante. Elas conseguiram sim um avanço muito grande. Profissões majoritariamente masculinas passaram a ser mistas (tais como a medicina e o direito).

A enfermagem, por exemplo, tornou-se atividade considerada feminina; passando a existir preconceito contra enfermeiros homens. Isto é um efeito negativo, mas também relacionado à subalternidade das mulheres, visto que o que é feminino – e o tratar dos doentes é considerado como tal – é visto como inferior. Assim, homens que exercem esta profissão são percebidos como menos masculinos pela sociedade.

Mas, apesar dos avanços conseguidos, da suposta “entrada no mercado de trabalho”; muitos trabalhos femininos continuam desvalorizados. A profissão “do lar” finalmente tem seu espaço e é considerada pela sociedade e pelo Estado. Mas a grande parte das mulheres ainda tem que balancear o cuidado com os filhos e seus empregos. A pandemia exacerbou ainda mais estas funções, e demonstrou a necessidade de considerar que o trabalho do lar é tão válido como qualquer outro.

(*) Elen Biguelini é Doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreverá semanalmente aos domingos, no site.

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