Na lida política a aparência, às vezes, pode te enganar – por Michael Almeida Di Giacomo
Autor avalia encontro entre Lula e FHC, com Nelson Jobim como padrinho
Em palestra proferida no evento “Desafios Conjuntos – O Futuro da América Latina”, promovido pela FGV, março de 2017, o santa-mariense Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a introdução da intolerância e do ódio no sistema político brasileiro era algo grave.
Conforme o ex-ministro, sob esse contexto belicoso o debate restaria inviabilizado e, caso não houvesse uma concertação entre as lideranças políticas, corríamos o perigo de termos em 2018 um “outsider” no poder, um “Trump Cabloco”.
O alerta de Jobim parece não ter tido eco em meio aos protagonistas do pleito eleitoral que escolheu o mandatário da nação. E o resultado todos sabemos qual foi.
O santa-mariense voltou a figurar na cena política nacional após ter tido a iniciativa de reunir em torno de uma mesa os ex-presidentes FHC e Lula. A reunião-almoço, que aconteceu no dia 12 de maio, na casa de Jobim, somente foi divulgada no dia 21, nas redes sociais de Lula.
A motivação da iniciativa em promover a reunião – além do fato de o Jobim manter relação pessoal com ambos – pode ter fundo nas diversas vezes que, desde março, FHC vem tecendo elogios a Lula e afirmando que votaria no petista em um eventual segundo turno da eleição presidencial.
O que não seria um ato inédito, mas, que no atual momento, soa mais como um recado a alguém.
O convescote em si não teria nada demais, afinal ambos têm uma história de militância política trilhada lado a lado em muitos momentos importantes do país, como na luta contra a ditadura militar e, no período democrático, no apoio do PSDB a Lula no segundo turno da eleição contra Collor, em 1989, em que FHC esteve em seu palanque a discursar.
O imbróglio se deu pelo desconforto causado, para dizer o mínimo, em lideranças políticas que buscam construir uma alternativa eleitoral aos polos estabelecidos entre bolsonaristas e petistas, ou seja, os próprios nomes do PSDB.
A exteriorização de FHC de sua predileção por Lula, enquanto nome capaz de receber apoio do bloco de centro no segundo turno, é tida como muito precipitada. E a abertura prematura de um diálogo entre ambos pode enfraquecer a viabilidade de uma candidatura de centro.
Pode ser, no entanto….
A insatisfação pode ter outras razões.
É provável que essas lideranças ainda guardem no âmago de seus sentimentos um certo grau de “raiva” contida, face ao método usado pelo PT para combater a gestão tucana, 1995-2003. E, óbvio, nos embates produzidos nos anos seguintes entre os referidos partidos. E isso dificulta muito qualquer diálogo.
Outra é o fato de que a distância entre FHC e João Dória não agrada a muitos caciques peessedebistas. Dessa maneira, as conversas do ex-presidente tucano, não há dúvida, acabam por fragilizar a posição de Dória, que trabalha para concorrer à presidência.
A base peessedebista, majoritariamente antipetista, demonstra não ver a possibilidade de uma aproximação com Lula, como escreveu no Twitter o autodeclarado candidato à Presidência da República, Eduardo Leite: “ em um país democrático é natural que 2 ex-presidentes possam conversar sobre política. Mas também é natural que não se esqueça da história”.
É pouco provável que o PSDB não tenha uma candidatura no mínimo competitiva em 2022, uma vez que as fileiras do partido, com a “aposentadoria” eleitoral (ao menos na corrida à presidência) de José Serra, Aécio Neves e Alckmin, abre espaço para a consolidação de novas lideranças, por certo, João Dória e Eduardo Leite.
Entretanto, o que é facilmente detectável é que nome de João Dória é nada palatável para o principal prócer do tucanato. E o próprio não tem problema em expor sua posição, mesmo que de forma subliminar ou nem tanto.
O que muitos ainda não conseguiram perceber é que Nelson Jobim, ao promover a aproximação de Lula e FHC, parece levar ao pé da letra a máxima dita pelo então deputado federal e presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, de que “em política, até a raiva é combinada”.
E, por enquanto, ao que parece, antes de ser ungindo líder de uma coligação de centro, o PSDB de São Paulo tem um grande imbróglio interno a resolver.
Enquanto isso, Lula surfa livre na pista. Literalmente.
(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.
Observação do Editor: a imagem que ilustra este artigo, é uma reprodução da internet, sem autoria determinada. E é dos anos 80, com FHC e Lula juntos em manifestação pública. Ela faz parte do acervo do Instituto Lula.
Fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes é insanidade. Brasil foi governado por PSDB, PT, PMDB e PSL (digamos assim). RS foi governado por PT, PMDB, PDT e PSDB e nunca esteve tão quebrado.
Serviços públicos são o que a casa tem para oferecer. Servidores públicos (ex-reitores, procuradores da fazendo, por exemplo) com salários de 5 dígitos clamam contra a ‘desigualdade’. Gente batendo na porta a cada hora pedindo ajuda. Liberais com a vida ganha querendo menos Estado.
Deputados em BSB tem um cartão corporativo. Pouco menos de 50 mil por mês. Salário mínimo do Dieese é pouco mais de 5300 por mês. Um cartão de deputado resolvia, mais ou menos, a vida de 10 famílias.
Catilinária poderia durar por horas. Não se mencionou os liberais da politica, os novos, querendo uma boquinha no estamento. Ou o suplente do 01 da rachadinha, um playboy que ganhou dinheiro no mercado financeiro e exala aromas cítricos por ai.
Resumo da ópera: a privilegiatura tem que acabar; a republica tem que ser proclamada; às devas.
Intolerancia, ódio, Trump. Jobim aderiu a propaganda da época. Não sem interesses. Obviamente aderiu. Quem atua politicamente (vale até para órgãos de imprensa, seja por conta dos proprietários, seja por conta dos jornalistas) tem que pagar o preço politico.
Trump vem de um contexto diferente. Imageticamente foi replicado aqui. Pergunta: nos States ocorreram as jornadas de 2013?
Efeagá não soube largar o osso, problema de ego gigantesco. Esta sem alternativas. Molusco com L., auto-explicativo, busca a redenção das urnas (‘fui inocentado pelas…’). Quer salvar a biografia.
Nelson Jobim é neto de governador e filho de ex-deputado estadual. Vem do estamento politico nacional. Primeira camanha, se lembro bem, dirigia um fusquinha branco pelas ruas da aldeia. Ministro da Justiça de Efeagá andou por caminhos semelhantes em carros luxuosos com segurança da PF. Dali foram só alegrias, atualmente é Diretor de Compliance e presidente do Conselho de Administração do Banco BTG Pactual.
Muito longe de ter problemas cognitivos (elogio não automaticamente extensível a todos os membros da família). Ministro da Defesa (até de Dilma, a humilde e capaz) vestiu uma farda que merecia, não fez nada para ganhar. Audiência numa comissão da Câmara dos Deputados. Deputado petista pergunta ‘Aconteceu uma operação na Amazônia que foi denominada X e Y, por que recebeu este nome?’. Resposta: ‘Não tenho a mínima ideia, sigo a filosofia analítica, não sou aristotélico-tomista.’. Chorei de tanto rir. O empaledecimento coletivo e o silencio que não escondeu o barulho das engrenagens da caixa de velocidades quebrando foi muito engraçado. Outro deputado, educadamente, pediu esclarecimentos. ‘A operação tinha que ter um nome e escolheram este.’ Resumo da ópera é simples, uma pessoa inteligente num mar de ignorância nada de braçada. Naquele contexto, e no atual, é um problema.