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UFSM. Transtornos psíquicos lideram razões para afastamento de docentes desde início da pandemia

Rotina acelerada leva professores a desenvolverem depressão e ansiedade

Desde o início da pandemia, 115 docentes mulheres e 44 docentes homens afastaram-se para tratarem da saúde (Foto Divulgação)

Por Bruna Homrich (com Fritz Nunes), da Assessoria de Imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM

Com a proximidade do 1º de Maio, Dia do(a) Trabalhador(a), vários aspectos poderiam ser abordados a respeito do trabalho docente. Mas escolhemos, aqui, tratar de um problema muitas vezes silencioso e que vem afetando cada vez mais professores(as) em nossa instituição: o sofrimento psíquico. Se a incidência de doenças mentais e comportamentais sob a categoria docente já era alta no mundo pré-pandêmico, as novas formas de trabalho demandadas pela pandemia, aliadas aos encargos domésticos e a inquietude de um isolamento que parece não acabar, tendem a intensificar tais transtornos.

Entre o dia 16 de março de 2020 e o dia 27 de abril de 2021, 159 docentes da UFSM solicitaram afastamento para tratamento de saúde.  Desses, 115 foram solicitações de docentes mulheres, e 44 de docentes homens.

As doenças mentais e comportamentais lideram as causas de afastamento, sendo responsáveis por 32 dos pedidos. Em segundo lugar, com 26 solicitações, vêm as doenças infectocontagiosas, seguidas das doenças neoplásicas (25 pedidos). A ordem dos pedidos e das doenças que os motivaram é a seguinte:

Principais patologias motivadoras das Licenças Tratamento de Saúde (LTS)

Mentais e comportamentais: 32

Infectocontagiosas: 26

Neoplásicas: 25

Cardiovasculares: 16

Traumatológicas: 11

Osteomusculares: 10

Outras: 8

Respiratórias: 6

Obstétricas: 6

Oftalmológicas: 5

Neurológicas: 3

Renais: 3

Gastrointestinais: 3

Odontológicas: 2

Neoplasias benignas: 2

Ainda, cinco docentes solicitaram Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família (LTSF). Os dados foram fornecidos à Assessoria de Imprensa da Sedufsm pela coordenadora do Serviço de Perícias Oficiais em Saúde/PROGEP da UFSM, doutora Liliane Brum.

Depressão e Síndrome de Burnout

Na UFSM, as doenças mentais e comportamentais lideram as causas de afastamento docente. Segundo Luis Felipe Lopes, professor do departamento de Ciências Administrativas da UFSM e coordenador do Grupo de Pesquisa ‘Comportamento Inovador, Estresse e Trabalho’, as doenças comportamentais são aquelas que demandam uma grande quantidade de tempo ou uma intensa carga de trabalho, afastando os(as) trabalhadores(as) de atividades de lazer e bem-estar.

Exemplos de doenças consideradas comportamentais seriam o estresse, a depressão, a ansiedade e a Síndrome de Burnout. Segundo Lopes, os(as) profissionais que mais desenvolvem esses tipos de doenças são os(as) da área da saúde, seguidos pelos(as) profissionais da educação e pelos(as) funcionários(as) da segurança pública (policial carcerário(a), policial militar e policial civil).

“Na docência a principal atividade que leva ao adoecimento é a rotina de trabalho (preparar aula, elaborar atividades, corrigir trabalhos, corrigir provas, etc.) – isso acompanhada pelas atividades domésticas do dia a dia […] Na atual circunstância eu diria que a depressão e a ansiedade são as principais doenças que estão afetando a vida mental dos docentes e dos discentes universitários”, explica.

Outra doença muito observada nos(as) docentes e, por vezes, difícil de ser diagnosticada, é a Síndrome de Burnout. Lopes explica que a doença é classificada, na legislação brasileira, como transtorno mental e comportamental relacionado ao trabalho, podendo ser considerada até mesmo um acidente de trabalho – para o qual são considerados fatores de risco o ritmo penoso do labor e dificuldades físicas e mentais a ele relacionadas.

“Os primeiros sintomas da doença estão mais relacionados ao estresse laboral, estaria ligado à danificação cognitiva e afetiva, que prejudicaria o modo como o professor desempenha sua função; outros sintomas estariam relacionados às consequências dos primeiros sintomas, como sentimento de culpa, entristecimento, isolamento social, por determinadas ações”, salienta Lopes.

O docente diz que uma forma de diagnosticar a doença é observando mudanças no comportamento diário de uma pessoa, especialmente se tais mudanças apontarem para desânimo, intolerância, falha de memória, tensão, falta de paciência, sonolência, desmotivação, irritabilidade e desinteresse.

Esses sintomas levam a uma queda no desempenho do(a) professor(a), fazendo com que ele(a) apresente aulas menos dinâmicas e de menor qualidade, reduza as exigências e diálogos com alunos(as) e se dedique menos às suas atividades dentro e fora da sala de aula.

UFSM

Lopes orientou, recentemente, três pesquisas que se dedicavam a entender como o processo de adoecimento psíquico se dá entre docentes e discentes da UFSM. Uma das pesquisas originou a tese de doutorado intitulada “A espiritualidade e religiosidade são antecedentes do engajamento no trabalho/envolvimento pessoal? Percepção dos docentes universitários frente à pandemia Covid-19”, defendida neste mês de abril.

“Na tese, dos 591 professores avaliados em uma das dimensões da Síndrome de Burnout, dimensão envolvimento pessoal no trabalho, observou-se que 15,07% dos professores apresentam baixo envolvimento no trabalho, o que levaria a possíveis sintomas de estresse ocupacional”, comenta Lopes.

Outra pesquisa, também defendida em abril deste ano, foi a dissertação de Mestrado intitulada “Adaptabilidade de carreira e os sintomas de ansiedade em discentes de pós-graduação frente à pandemia covid-19”, segundo a qual, dos 709 alunos pesquisados, 41,89% apresentaram sintomas depressivos, e 43,87% sintomas de ansiedade.

A última das três pesquisas já finalizadas e publicadas ainda em 2020 dizia respeito à ansiedade em estudantes de graduação da UFSM e os efeitos de tal transtorno em seu bem-estar. Os dados foram coletados antes da pandemia e estão disponíveis no artigo “Analysis of Well-Being and Anxiety among University Students”, publicado no International Journal Environment Research Public Health…”

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