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É uma vergonha! Mulheres tomam conta das redações, mas não se livram de um odioso preconceito

Não sei se a Marilise Dezotti – hoje atuando na capital gaúcha como funcionária do Ministério (ou na Justiça, não lembro exatamente) do Trabalho – foi a primeira editora de Esportes do Rio Grande do Sul. Mas não é improvável que tenha sido. E se tratava, até bem pouco tempo atrás, de território exclusivamente masculino. O fato é que me orgulho muito de tê-la transferido (quando era editor chefe do jornal Pioneiro, de Caxias do Sul) da editoria de Economia para ocupar essa função entre repórteres (todos homens) que cuidavam de futebol, bocha, vôlei, etc etc, no longínquo 1992. E ela foi muuuito bem na missão, diga-se.

 

Escrevo isso para dar provas concretas e declarar, peremptoriamente, minha absoluta aversão ao preconceito em relação ao trabalho da mulher, em qualquer área de atividade. Pena que, e digo isso com tristeza, não seja a norma. Olha só o que escreve, sobre um fato concreto, o jornalista Carlos Brickmann, na seção “Circo da Notícia”, no sítio especializado Observatório da Imprensa. E vê se não é de dar nojo. Acompanhe:

 

“PRECONCEITO, PRECONCEITOS – O importante é ser dondoca

Há muitos e muitos anos, nos tempos da TV a lenha, um diretor de jornal aconselhava seus subordinados a não contratar mulheres para a Redação. “Por mais feia que seja, a gente acostuma e acaba namorando. Dá galho”.

Na verdade, não era exatamente “namorando” a palavra que ele usava. Mas mulher em Redação, fora do Suplemento Feminino, era raríssima.

Faz muitos e muitos anos, mas hoje, nos tempos da internet, o preconceito continua de pé. Este colunista, que em sua longuíssima carreira colecionou desafetos, nunca foi chamado de feio (o que seria a mais pura verdade), nem sofreu críticas à sua elegância no vestir (o que seria também absolutamente correto). Mas vá uma mulher contrariar a opinião de alguém: é feia. É prostituta. É sapatão. É mal-amada.

Um caso recente exemplifica o clima reinante em nosso avançado e liberal entorno jornalístico. A jornalista Marli Gonçalves, 32 anos de carreira, citada no Google em sete páginas, militante feminista e da luta contra os preconceitos, ousou criticar a candidata Marta Suplicy, do PT, pelo anúncio em que perguntava se o prefeito paulistano Gilberto Kassab, seu adversário, era casado e tinha filhos. Mandou o e-mail com suas criticas, assinado, com telefone e endereço eletrônico, a uns 30 amigos. Na internet, o e-mail se multiplicou e gerou mais de mil respostas. A maior parte foi favorável; algumas, bem poucas, desfavoráveis. Sem problemas: a polêmica é boa, areja as idéias e faz parte da profissão. Houve pessoas que, discordando, mantendo suas posições, acabaram forjando laços de amizade com Marli.

Só que uma parte das desfavoráveis continha linguagem e comentários que deixavam claro que lugar de mulher, quando fora da cozinha, é na cama ou no tanque, ou talvez varrendo o chão. Pensando e escrevendo, jamais.

Trecho de mensagem enviada por uma mulher, que se disse professora: “Talvez lhe falte um marido, ou quem sabe um amante, ou até quem sabe uma namoradinha? Ah! Talvez não, mas um bom tanque de roupa pra lavar, isso com certeza lhe acalmaria os ânimos…”

Outro trecho, de um jornalista: “Posso afirmar com convicção que a tal de ‘Marli Gonçalves’ – nome de guerra de piranha – não existe. Só idiotas podem imaginar que o e-mail é verdadeiro”…

,,,Uma dúvida: por que as mulheres, quando expressam sua opinião, são criticadas pela aparência física? Por que a mulher, quando discorda de alguém, é logo chamada de prostituta? Deve ter havido este tipo de questionamento sórdido em Fortaleza, contra Luizianne Lins e Patrícia Saboya, ou em Natal, contra Micarla de Souza e Fátima Bezerra, ou em Porto Alegre, contra Maria do Rosário e Manuela d’Ávila. Só contra as duas, claro: seu adversário José Fogaça é homem, está livre desses ataques…”

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui, porque vale a pena, garanto, a íntegra da seção “Circo da Notícia”, assinada por Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa.

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