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É pública, é gratuita, é santa-mariense e é referência para o mundo – por Valdeci Oliveira

A UFSM (e outras instituições públicas de qualidade) em ranking internacional

A vida real por vezes parece ser aquela pessoa que insiste em remar contra a maré, pois suas convicções são mais fortes que o senso comum. E nessa sua insistência cotidiana, apesar das críticas, por vezes fortes, que recebe de seus pares, se mantém fiel àquilo em que acredita, pois tem a certeza que o caminho que busca trilhar a levará onde realmente ela quer chegar. Essa analogia pode muito bem ser utilizada em relação à coisa pública, mais precisamente às nossas universidades.

Uma análise feita pela Quacquarelli Symonds (QS), instituição com sede no Reino Unido e cujo foco principal reside na análise da qualidade e desempenho dos países na esfera do ensino superior, divulgada nesta semana, nos traz um alento, principalmente em meio a tantas notícias tristes a que estamos expostos diariamente por conta do atual quadro epidemiológico, uma realidade a qual os brasileiros e brasileiras estão sendo obrigados a viver há mais de um ano.

O tal estudo aponta que 27 instituições brasileiras estão no ranking das melhores universidades do mundo. E destas, 23 são públicas, bancadas por estados ou pela União. E o Rio Grande do Sul faz bonito, contribuindo com 4 nomes na lista, sendo três de caráter público: UFPel, de Pelotas, UFRGS e PUCRS, de Porto Alegre, e a nossa UFSM, cujo esforço e compromisso com a qualidade do seu ensino a coloca entre as 1,3 mil universidades mais importantes e positivamente avaliadas do mundo.

O fato de o Brasil – que também lidera na América Latina como o país com o maior número de universidades melhor posicionadas na lista – ter esse reconhecimento não é pouca coisa, principalmente, repito, por se tratarem de instituições com acesso universal e gratuito e financiadas pelo Estado brasileiro. São instituições, principalmente no caso das federais, que vêm sofrendo um pesado ataque nos últimos quatros anos e meio, tanto por meio de ferozes discursos ancorados por falsas acusações como pela gradual e paulatina redução orçamentária.  Ambas ações covardemente patrocinadas justamente por aqueles que deveriam protegê-las, incentivá-las, acolhê-las, fortalecê-las. E apesar disso, o país praticamente dobrou sua participação no elenco elaborado pelos britânicos, com o acréscimo de 13 novos nomes.

Sem sombra de dúvida poderíamos ter muito mais, pois quem acompanha de perto a educação superior no país sabe das suas qualidades, potencialidades, comprometimento. Porém, tais predicados muitas vezes mostram, infelizmente, não serem suficientes, uma vez que, em diferentes níveis, o financiamento é fundamental, é a condição primeira para se ter um desempenho positivo ou buscá-lo a contento. E na queda de braço entre a caneta oficial e a vontade de mulheres e homens que integram as equipes docentes estes últimos não fazem milagres, pelo menos não o suficiente. Para melhor ilustrar esse cenário, é preciso que tenhamos em mente que o orçamento das universidades públicas brasileiras para esse ano foi de R$ 1,1 bilhão inferior ao de 2020, e muitas convivem com o fantasma de não conseguirem finalizar suas respectivas atividades acadêmicas até dezembro.

As análises feitas pelo corpo técnico da Quacquarelli Symonds na elaboração do seu ranking, uma das mais conceituadas e sérias avaliações internacionais para o ensino superior atualmente realizadas, levam em consideração diversos fatores para chegar aos resultados ora divulgados, entre eles a quantidade e a qualidade dos trabalhos acadêmicos publicados, as citações feitas a estes, a opinião do corpo docente dessas instituições, empregabilidade e relação entre a quantidade de professores por aluno matriculado, entre outros quesitos. E isso tudo, sabemos, mesmo os detratores e defensores do Estado mínimo, não se faz apenas com amor pela profissão ou vestindo a camiseta da instituição.

Num exercício de futurologia, fico imaginando nossas universidades públicas tendo tudo aquilo que lhes cabe neste imenso – e infinito – latifúndio da pesquisa e do conhecimento, seja pela via governamental ou em apoio da sociedade. Fico imaginando se tivéssemos ministros da Educação realmente comprometidos com a causa, e não nomes já afastados – foram dois desde janeiro de 2019 – quer seja pela incompetência atroz ou por ataques a outros poderes da República e às próprias entidades de ensino. Fora que o atual, mais comedido publicamente, mas possuindo as mesmas digitais de seus antecessores, também não está à altura do cargo.

Nesse meu devaneio utópico, nosso povo, tão sedento e faminto de cultura e de educação, estaria, sem dever nada a ninguém, com acesso e assento garantidos às melhores e mais preparadas escolas e universidades. E esse é um sonho que não canso de sonhar, um desejo que não deixo de buscar, uma luta que tenho certeza vale a pena. E a lista da Quacquarelli Symonds é a prova de que isso é possível.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é 1º Secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287.

Nota do Editor: a foto do arco de entrada da UFSM é uma reprodução da internet, sem autoria determinada.

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