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Eleições 2022 e o protagonismo dos partidos – por Michael Almeida Di Giacomo

Os casos (especialmente) do PSB e do PC do B e a possível união com Lula

Há um bom tempo a conjuntura política nacional nos apresenta uma forte dicotomia a consolidar a posição de políticos extremistas que, por meio de um discurso populista, consolidam sua liderança, a ponto de formar verdadeiras turbas messiânicas deslocadas da realidade social em que vivem.

Esse embate ideológico tem tido efeitos nocivos ao dia a dia da população, pois, como é costumeiro no Brasil, a busca por um “salvador da pátria” – desde a Era Collor – resulta na eleição de agentes políticos despreparados, nada republicanos e que se prestam tão somente a aprofundar as diferenças sociais históricas existentes no país.

Com efeito, fala-se muito sobre a necessidade de termos um governante de viés moderado, que saiba dialogar com as mais diversas forças políticas e, em especial, seja reconhecidamente um democrata.

Os partidos políticos, por meio de suas lideranças mais destacadas, estão a movimentar as peças do jogo político para que no próximo ano tenhamos a opção de votar em um candidato com essas características.

A movimentação mais recente foi a filiação do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) ao Partido Socialista Brasileiro – PSB. Outros nomes destacados da esquerda brasileira são cotados para ingressar nas fileiras dos socialistas, entre os quais, Flavio Dino, Orlando Silva e Manuela D’Ávila, ambos do PC do B.

Um dos motivos apontados – e acredito ser relevante – é o fato de os integrantes do PC do B estarem preocupados em não atingir a cláusula de barreira estipulada pela legislação eleitoral. No caso, a partir de 2023, haverá a necessidade de as siglas obterem o mínimo de 2% de votos nacionais para ter acesso a recursos públicos e tempo gratuito de TV.

Há, inclusive, a especulação de que os referidos partidos possam se fundir, uma vez que o projeto de lei da implantação de “federações partidárias” – modelo que permite a dois partidos unirem-se para disputar as eleições, sem perder a sua autonomia orgânica – ainda não foi votado pelo plenário da Câmara Federal.

É esperar para saber o que o futuro reserva às siglas nanicas, e que – no caso das mencionadas, tem sua importância para a história política-eleitoral brasileira.

Mas há também um outro componente que resta explícito no caminhar de lideranças rumo às fileiras do PSB. Refiro-me ao fato de que, por traz dessa movimentação, é possível notar a digital de um político de extrema habilidade, Lula.

Os nomes cotados a aderir ao programa do PSB têm em comum a proximidade com o ex-presidente e a indicação – mesmo que às vezes de forma velada – de que ele poderá ser o tão esperado nome a representar uma candidatura de centro-esquerda, moderada e de viés democrata ao Palácio do Planalto.

O que no momento é realmente possível perceber é o fato de o ex-presidente buscar se descolar dos políticos mais radicais da esquerda. Procura, desse modo, ter uma narrativa mais leve no combate à extrema-direita bolsonarista, na ideia de mostrar que é diferente no trato da lida política.

O “deus” mercado já percebeu a estratégia.

Em pesquisa divulgada no começo de abril, a XP/Ipespe apontou Lula à frente de Bolsonaro na corrida ao Planalto. Ambos apareceram tecnicamente empatados na liderança, mas, numericamente, o petista surgiu à frente.

No início do mês de junho, em nova pesquisa, o Instituto aponta um crescimento de Lula no segundo turno das eleições e Bolsonaro a perder a eleição até mesmo para Ciro Gomes. Ou seja, parece que realmente acabou a lua de mel entre o “deus” mercado e a “política” econômica (?) de Paulo Guedes.

Em meio a todo esse contexto, um nome parece ganhar fôlego na relação entre o mercado e Lula, é seu ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, Meirelles é lembrado quando se analisa a possibilidade de uma vitória petista. Inclusive para compor a chapa majoritária.

E o PSB?

Desde sua fundação, na década de 1940, o partido se mostrou aberto aos que desejavam construir uma sociedade sob o lema do socialismo e da liberdade. Ao contrário da maioria das agremiações de esquerda no Brasil, não nasceu atrelado à ideia de implantação de uma ditadura do proletariado, ao estilo stalinista.

Era o que pregava à época o seu maior líder, deputado João Mangabeira: “liberdade sem socialismo, de fato, liberdade não é. Socialismo sem liberdade, realmente socialismo não pode ser”.

Agora, em pleno século XXI –  em que até o regime político de Cuba abandonou a ideia de comunismo ao estilo soviético – não chega a ser surpresa que quadros políticos de partidos de extrema-esquerda – como o PSOL e o PCdoB – ao não conseguir reformular o programa de seus partidos, passem a compor as fileiras de agremiações menos ortodoxas, no que se refere à doutrina marxista.

O partido, celeiro de lideranças e intelectuais como Barbosa Lima Sobrinho, Miguel Arraes, Paul Singer – ou Paulo como gostava de ser chamado, entre outros, que historicamente mantém distância da definição de “partido da classe operária”, restou, no período contemporâneo, a estar próximo do Partido dos Trabalhadores.

Houve momentos que a agremiação tentou voos solos, como no caso da candidatura de Anthony Garotinho, em 2002, Eduardo Campos, 2014, sem desconsiderar, claro, 1950, com Mangabeira.  Mas, a falta de êxito – mesmo quando Marina Silva parecia consolidar a primeira posição em 2014, fez com que a agremiação continuasse a gravitar em torno do maior partido da esquerda na América Latina.

Parece que – embora alguns líderes socialistas digam o contrário – em 2022 o PSB novamente irá abdicar de apresentar um nome nacional e irá compor uma aliança em torno de Lula.

Agora, com o protagonismo de repetir o feito que teve com Marina Silva e Luiza Erundina, ou seja, de servir de sigla para os que, por um ou outro motivo, não podem concorrer por seus partidos originários.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Observação do Editor: a foto que ilustra este artigo, de um encontro entre o deputado federal Marcelo Freixo (eleito pelo PSOL e hoje no MDB) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é de Ricardo Stuckert/ Divulgação.

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Um Comentário

  1. John Kenneth Galbraith disse que ‘a política é a arte de escolher entre o desastroso e o desagradável’. Nada mais atual. Apesar de não existir tanta roubalheira no tempo da afirmação.
    Partidos? Puxadinhos. Não enganam muita gente.
    Algum perigo? Não. Ideologia ultrapassada sendo implementada por cabeças de bagre. O que pode dar errado?

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