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Os traumas da inflação – por Giuseppe Riesgo

O articulista e o que explica essa disparada atual de preços verificada no Brasil

O Brasil, por décadas, conviveu com a chaga da hiperinflação de preços. Durante todo os anos 80 e quase metade da década de 90 o país esteve em frangalhos. Sem moeda e com forte concentração de renda vivemos um dos períodos mais tristes em termos econômicos e sociais de nossa história. Tempos em que perdemos nossa dignidade e a capacidade de entregar um país minimamente sustentável e agradável para se viver.

E, então, tivemos o Plano Real. Praticamente um milagre monetário, o Real se apresentava após outros cinco planos econômicos absolutamente fracassados. Em comum a todos: o controle de preços, o descompromisso com a responsabilidade fiscal e, por fim, um completo desapreço com as regras mais básicas do livre mercado.

Só podia dar muito errado (e deu). No entanto, o milagre monetário que o Plano Real obteve não adveio do absoluto nada, mas sim da observância de leis econômicas básicas e que até hoje alguns países da América Latina ignoram em troca do populismo monetário e fiscal de suas políticas de governo e de seus governantes.

O tema surge (e preocupa) porque de um ano para cá estamos perigosamente flertando com o descontrole da inflação de preços. O IGPM, indicador importante dos preços da produção, já ultrapassou a marca de 37%, no acumulado de 12 meses. Geralmente, quando esse índice dispara, é questão de tempo para o indicador dos preços ao consumidor amplo disparar também (o que não deveria ser novidade para ninguém). Não à toa, nos últimos 12 meses, o IPCA já está acima de 8% passando do limite da meta estipulada pelo Banco Central.

Mas o que explica essa disparada atual? Bem, a pandemia obviamente impactou diversas cadeias setoriais e isso gera ruído nos preços da estrutura produtiva (o que é normal e até producente, ainda que doloroso aos nossos bolsos). No entanto, há outro movimento governamental perigoso e que também pressiona os preços para cima nas economias de mercado como um todo: o descontrole fiscal e monetário do governo federal.

Desde que desligamos boa parte da nossa economia – com as questionáveis medidas de fechamentos de atividades setoriais -, e delegamos ao governo a condução da economia do país que a emissão de moeda e o endividamento se acentuaram. Em síntese, se por um lado mantivemos o consumo artificialmente em alta, por outro, aumentamos a oferta monetária para evitar uma falência generalizada do setor produtivo que, lembremos, foi impedido de trabalhar e produzir. Consequentemente, combinamos uma oferta escassa com um consumo estável ou, por vezes, em alta.

Não é preciso ser nenhum gênio em economia para saber que isso gerará inflação de preços oriunda de endividamento (que teremos que pagar) e de emissão de moeda (que já estamos pagando com a inflação em alta). Um cenário, no mínimo, preocupante.  

É por isso que, em minha atuação parlamentar, prezo tanto pela responsabilidade fiscal e cobro tanto que os governos ajustem as suas despesas. Nada de sustentável virá de um Estado ou de uma nação que se endivida no presente achando que o longo prazo nunca chegará. Ele chega. E quando aparece apresenta a face dura do endividamento dessa e das próximas gerações: a inflação de preços. Uma chaga construída por muitas mãos e manchada de populismo com o dinheiro do pagador de impostos.

Não é apenas sobre liberdade que estamos lidando, mas também sobre o futuro da nossa gente. Que nunca nos esqueçamos que ignorar a realidade jamais nos livrará das consequências de tamanho descaso. Eis o alerta de Ayn Rand que, infelizmente, segue vivo e campeando solto pelo Brasil e toda a América Latina.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Nota do editor: a charge que ilustra esta nota, sobre o “dragão” da inflação, assinada na própria imagem, é uma reprodução da internet. Ela pode ser encontrada em vários sites, inclusive no “Só Sergipe” (AQUI)

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Um Comentário

  1. Emissão de moeda? Que emissão de moeda? BC reduziu o deposito compulsório. Somando a taxa SELIC artificialmente baixa por tempo além do recomendado. Alás, os ‘genios’ que criticam o ‘rentismo’ não explicam porque o dinheiro não saiu dos depositos para o ‘empreendedorismo’. Taxa negativa, instabilidade politica, dolar alto. Logo inflação alta.
    Preços das commodities lá na casa do chapéu. Conjunturalmente. China importa mais carne, ainda vivem o efeito da peste suina nos porcos. Quebra na safra do milho. Mas tem um caveat na história. Preço do milho não vai ficar sempre assim. China está industrializando a produção de carne de porco durante a retomada. Ou seja, vai comprar mais milho e menos carne.
    Gasto público com a pandemia era inevitavel. Tem gente, irresponsáveis, que defendem gasto ainda maior.
    Há quem defenda o ‘quanto pior melhor’, derrubam o Cavalão e depois teríamos que viver num pais quebrado. Mas os mesmos tem a vida garantida ou ganhariam grana com o novo governo. ‘Pôvú’ que se lasque. Simples assim.
    Há coisas, inclusive na aldeia, que chamam atenção. Venderam condominios em meia hora. Ninguém perguntou quanto disto foi com base em imóveis usados utilizados como entrada.
    Resumo da ópera é simples: melhor ouvir um(a) economista quando o assunto é economia, não um causidico. Criatura vai dissecar a cesta que deu origem ao indice, etc. Passou anos estudando só este assunto. Não é exatamente minha praia, mas o basico dá para enfrentar.
    P.S.: o apelido que arrumaram para o Amoedo é ‘Chapolin Colorado’ e eu não sabia! Kuakuakuakua!

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