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O comandante da Aeronáutica é candidato a vice de Bolsonaro em 2022? – Por Carlos Wagner

O significado eleitoral (entre outros) da entrevista do Tenente Brigadeiro

O tenente-brigadeiro Baptista Júnior, Comandante da Aeronáutica, vai trocar a farda pela carreira política? (Foto Reprodução)

A ideia que fica ao se ler atentamente a entrevista dada pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, 60 anos, ao jornal O Globo é que o comandante da Aeronáutica pretende se arriscar na carreira política. E a maneira como ele falou o coloca como candidato a vice na chapa do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nas eleições de 2022.

Frases ditas pelo brigadeiro parecem que foram esculpidas por marqueteiros eleitorais, como: “homem armado não ameaça”. Ou “não enviaremos 50 notas para ele. É apenas essa”. Elas fazem parte das respostas às perguntas feitas pela repórter Tânia Monteiro, publicadas na sexta-feira (09/07) com título “Não temos intenção de proteger ninguém à margem da lei”, diz chefe da Aeronáutica sobre corrupção entre militares. Considero a matéria leitura obrigatória para os jovens jornalistas que trabalham na correria da cobertura do dia a dia nas redações.

Antes de seguir contando a história vou dar umas explicações que julgo necessárias por ser um velho repórter estradeiro cheio de manias. Na quarta-feira (07/07) foi ouvido na CPI da Covid do Senado Roberto Dias, ex-sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) que fez carreira como funcionário público civil e chegou ao cargo de diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.

De onde foi demitido por se envolver no caso “um dólar por vacina”, como ficou conhecida a suposta tentativa de corrupção envolvendo Dias e o cabo da PM mineira Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que ofereceu para o governo federal um lote de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca – uma história esquisita que está disponível na internet.

Dias mentiu no seu depoimento e o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSL-AM) mandou prendê-lo. Ele pagou fiança e foi solto. Na ocasião, Aziz disse que existia uma “banda podre” nas Forças Armadas.

Os comandantes militares Almir Garnier Santos, da Marinha, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do Exército, e Baptista Júnior, Aeronáutica, além do ministro da Defesa, Braga Netto, publicaram uma nota de desagravo contra o senador Aziz. Acusaram o senador de ter “generalizado a sua acusação”. Aziz não generalizou, ele foi preciso. Nas entrelinhas da nota fica claro que ela foi feita para agradar o presidente Bolsonaro e tentar assustar o Senado.

Voltando a contar a história. Na entrevista dada pelo comandante da Aeronáutica ele usou a linguagem dura que lembrou os militares que deram o golpe de Estado em 1964, que são admirados e idolatrados pelo presidente. Por exemplo: “homem armado não ameaça”.

Um advogado recém-saído da faculdade não teria dificuldade de afirmar que o brigadeiro está ameaçando a população civil. Com a mesma ênfase ele defende a democracia. Lembro que Bolsonaro amanhece o dia prometendo passar por cima dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao meio-dia começa a fazer juras de amor à democracia.

O brigadeiro também defende o direito dos militares serem convocados para trabalhar na máquina administrativa do governo federal. Ele lembra que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) levaram os seus para trabalharem no governo.

O presidente Bolsonaro ainda não disse quem irá escolher para ser o seu vice em 2022. Apenas se sabe quem não será: o atual vice-presidente, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão.

Aqui é o seguinte: a portaria “fura teto” assinada pelo presidente da República transformou num belo mercado de trabalho a administração pública federal para os militares da ativa, reserva e reformados porque eles podem somar ao soldo que ganham das Forças Armadas o salário pago pela função civil que desempenham. Daí o brigadeiro afirmar que é favorável ao que acontece hoje, quando existem mais de 6 mil militares trabalhando no governo federal.

Se Bolsonaro vai escolher Baptista Júnior como seu vice, nem mesmo ele sabe. Mas uma coisa é certa: se quiser continuar sendo apoiado pelos militares vai ter de colocar como vice um deles.  O brigadeiro aproveitou a história da CPI da Covid e apresentou o seu currículo ao presidente.

Faz parte do jogo. Mas há um fator que pode melar toda essa história. Qual é? Há 530 mil mortos pela pandemia causada pela Covid-19. E pelo menos 300 mil mortes aconteceram por conta dos equívocos da administração federal da crise sanitária.

Muitos desses erros foram causados pelo então ministro da Saúde e general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, que tornou o negativismo do presidente Bolsonaro em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus em política de governo.

O assunto está sendo esclarecido pela CPI da Covid. O relatório da CPI pode mandar os militares de volta para os quartéis. E comprometer o projeto de reeleição de Bolsonaro. Todos sabem disso. Até porque não precisa ser gênio em história para entender que a situação do brasileiro hoje é inédita: falta emprego e a vacinação que pode reativar a economia e afastar a ameaça do vírus ocorre a conta-gotas. A situação é complicada e o futuro ainda é incerto.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. Jovens jornalistas estão correndo atrás da máquina para ver como viram youtubers. Atrasados, mercado dominado por gente que mal tem o segundo grau. O resto é a baboseira de sempre.

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