Tudo como ele gosta – por Nathália Arantes
Os (tristes?) tempos que correm e uma lembrança presente: o eterno Belchior
O ano era 1976. O cantor cearense Belchior lançava seu disco Alucinação, reverenciado até os dias de hoje. Os versos, divididos em 10 canções, explicavam de forma poética, mas sempre de forma lúcida, a realidade de um país que vivia seus tempos mais sombrios originários de um golpe militar. Em Como O Diabo Gosta, o cantor fala da necessidade de ir contra as regras e destaca: não irá ele mesmo atar suas mãos.
Estamos falando de um tempo onde o Ato Institucional Número Cinco (AI-5) já vigorava há oito anos, tendo entre suas ações o cerceamento das liberdades de expressão e de imprensa, da música, do teatro, do cinema e da televisão. Ao lançar Alucinação, estava Belchior rompendo com o acuamento que a ditadura militar tentava impor constantemente, ou seja, o compositor não se colocou no local de alguém que ata suas mãos diante do controle militar da época. Muito menos a sua voz.
Em 2021, 45 anos após o lançamento do LP, ainda podemos perceber o cantor profetizando uma realidade não tão distante da que vivenciamos, infelizmente. Com a pandemia de Covid-19, vimos emergir um movimento de negacionismo à imprensa e dos fatos, flertando muitas vezes com uma repressão aos moldes dos sofridos durante o sistema ditatorial. Recentemente, durante cerimônia no Palácio do Planalto, o Presidente Jair Bolsonaro manifestou que irá solicitar ao Ministério da Saúde que as pessoas já infectadas ou vacinadas contra o Covid-19 não tenham que utilizar máscaras, utensílio fundamental para a prevenção do vírus.
Com medidas que buscam reduzir a circulação do vírus sendo desprezadas, chegou o momento anunciado por Belchior em Tudo Como o Diabo Gosta: é nunca fazer o que o ‘mestre’ mandar. Na atualidade, as medidas infladas pelo atual governo estão indo na contramão das evidências científicas, colaborando com a desinformação e o negacionismo.
A pandemia escancarou o perigo de discursos negacionistas. Ignorar medidas de prevenção baseadas em evidências científicas, tendo de fundo interesses políticos-ideológicos, é uma atitude que acaba por destruir a confiança das pessoas na ciência e na imprensa, mesmo que as informações que essas apresentem sejam fundamentais ao combate do vírus.
Somando mais de meio milhão de mortes decorrentes do coronavírus, o Brasil apresenta apenas 13% de sua população totalmente vacinada, ou seja, uma baixíssima cobertura de vacinação. A utilização de máscaras seguem essenciais para controlar o vírus, sendo uma aliada das vacinas, já que pessoas vacinadas ainda podem transmitir o vírus, como aponta estudo do Instituto de Métricas e Avaliações em Saúde (IHME). Desobedecer a indicação do Presidente e seguirmos usando máscara é garantia que estamos cuidando não só de nós, mas de toda a sociedade.
E como diz Belchior na canção: sempre desobedecer, nunca reverenciar. No caso, devemos ir contra a ideias infundadas, e se for para reverenciar, que seja aos cientistas e profissionais da saúde. Utilize máscara, de preferência os modelos PFF2. Quando chegar a sua vez, se vacine. Se informe, sempre através de fontes confiáveis.
(*) Nathália Arantes é acadêmica de Jornalismo da Universidade Franciscana. As artes são da autora do texto.
Editor sendo o editor. ‘Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e graduanda em Jornalismo pela Universidade Franciscana (UFN). Desenvolvo estudos no âmbito de gênero e feminismo tendo interesse em expandir conhecimento em mídias sociais. Pretendo aliar as duas áreas em minha atuação profissional’.
Vermelhinhos tem como dogma repetir incessantemente as mesmas coisas para ver se ‘formam opinião’. Só funciona com pessoas de baixissima capacidade cognitiva.