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Bell hooks e “Ending female sexual oppression” – por Elen Biguelini

bell hooks (assim mesmo, em minúscula, como a autora opta por assinar) é um nome importante no feminismo de quarta onda, visto que ela iniciou a questionar ao movimento feminista a necessidade de inclusão de mulheres diferentes daquelas que, de certa forma, comandavam o movimento até então: as brancas.

Seu texto “Ending female sexual opression” (ou “acabando a opressão sexual feminina”, é uma proposta igualitária para o movimento feminista e permite que outras questões, para além da feminilidade, façam parte das discussões do movimento.

A autora estabelece enfaticamente a grande diferença entre luta pela libertação sexual (foco das feministas que a precederam) e luta pelo fim da opressão sexual, sendo que, em sua opinião, a libertação sexual não pode ser alcançada sem que a primeira seja extinguida. Assim, vê a necessidade de respeitar todas as formas de exercer a sexualidade dentro dos feminismos, sem hierarquizar o movimento através de escolhas sexuais.

Enquanto hooks concorda que afirmar a liberdade sexual foi positivo para as mulheres, ela não acha que isso tenha mudado os padrões de dominação masculina na esfera sexual. Ela afirma ainda que as feministas da época passaram a observar a sexualidade masculina como repugnante e que obrigatoriamente explora as mulheres. Para ela, o sistema da opressão é tão presente que a própria “necessidade de fazer sexo” é uma coerção/obrigação imposta pela sociedade.

O heterossexismo, sinônimo de heterossexualidade compulsória, é outra luta importante para o fim da opressão sexual. As lésbicas, dentro do movimento feminista, já têm tentado acabar com a opressão heterossexista, o que liga o movimento feminista contra a opressão sexista à liberação lésbica. No entanto, ao invés de perceber que a opressão acontece em ambos os âmbitos, a luta contra a opressão sexual se tornou uma luta entre heterossexuais e lésbicas, segundo hooks.

Com o tempo, a feminista ideal seria, segundo a percepção da autora, lésbica (o que também corrobora com interpretações de pessoas que veem o movimento feminista de forma discriminatória). Criou-se, então, outro sistema de opressão dentro do próprio movimento feminista.

A autora acredita que o feminismo não deve apoiar uma escolha sexual, e sim permitir todas, já que as escolhas sexuais nada têm a ver com as escolhas políticas. O movimento feminista, então, para acabar com as opressões sexuais deve lutar contra todas as formas de opressão. Para isso é necessário perceber que também a heterossexualidade é oprimida pelos padrões normativos, assim como as mulheres heterossexuais irão se sentir aceitas entre as feministas enquanto a sua sexualidade for considerada inferior.

bell hooks tenta mostrar, através de “Ending Female Sexual Oppression”, que para acabar com a opressão da heterossexualidade obrigatória e do heterosexismo é necessário acabar com toda opressão sexual. O mesmo pode ser dito para que seja alcançada a libertação sexual.

Desta forma, como resposta ao foco dado pelas feministas que colocavam a libertação sexual como um grande tema para a libertação feminina, hooks vai além e expõe a necessidade de acabar com todas as formas de preconceito dentro do próprio feminismo. Além disso, ela vê a necessidade de levantar outras bandeiras, não apenas a opressão sexual, como forma de tentar mudar a situação da mulher na sociedade.

Assim, o texto desta autora e poeta que prefere assinar seu nome em letras minúsculas, abre questões relevantes tanto para o movimento feminista quanto para a teoria queer, mostrando que o movimento feminista pode ir muito além de discussões referentes apenas a opressão masculina sobre as mulheres brancas.

*Elen Biguelini é Doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no site.

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