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Donzelas Guerreiras 1: o mito – por Elen Biguelini

A jovem Luísa estava com seu pai doente, e quando sua região se encontrou em uma grande guerra desejou auxiliar seus compatriotas em um embate. Vestiu-se, então, com trajes masculinos e vestiu a armadura de seu pai ou de seus irmãos. Escondeu sua feminilidade o máximo que pode. Tornou-se Luís, cortou seus longas mechas. E partiu escondida numa noite escura em direção à guerra.

Batalhou com honra, ao lado de cavaleiros homens que nunca descobriram sua verdadeira identidade. Destacou-se em meio ao embate. Sujou-se com o sangue inimigo e chorou a perda de amigos.

Conheceu um jovem militar, Diogo Henriques, um cavaleiro de alta patente militar, que se tornou seu amigo. Quando acabou a guerra ou eles tiveram a chance de retornar a casa, acompanhou seu amigo para o reino de ALTA GLÓRIA.

Chegando no castelo no qual seu colega havia crescido a Rainha do castelo percebeu no jovem amigo de seu filho algumas características femininas. Assim, tentou provar sua teoria de que o jovem e honrado cavaleiro era, na verdade, uma mulher.

Para isso, inventou testes que comprovassem a masculinidade ou feminilidade de Luís/Luísa. Se se sentasse em um banco específico, seria uma dama; se escolhesse outro banco, seria um homem. Mais de um teste foi criado por aquela senhora, mas a donzela guerreira conseguiu descobrir as artimanhas da rainha e agiu conforme era esperado para representar a sua masculinidade.

Ao final, no entanto, a jovem não resistiu demonstrar um traço de sua feminilidade. Foi, então, descoberta. Sua grande honra foi celebrada, mas ela teve que passar a se vestir de acordo com o que era esperado de uma dama.

Luísa e Diogo Henriques se casaram.

Esta história mitológica medieval (quase um romance de cavalaria), aqui recontada, se repete em diversas histórias de mulheres que se travestiram para participar da guerra. Uma jovem interessa-se pela guerra, mas seu gênero não é aceito em uma carreira militar. Assim, ela precisa de subterfúgios para poder participar da guerra.

São muitas as versões deste mito. Figuras reais e fictícias se encaixam neste modelo. Este é o mito da Donzela Guerreira. Português, mas ao mesmo tempo universal, visto que diversas sociedades apresentam uma história semelhante. Descrevem por meio destas histórias mulheres que ultrapassam seus espaços esperados na sociedade; que desafiaram o que hoje chamamos de padrões de gênero. São exemplos de figuras patrióticas para sociedades contemporâneas, ao mesmo tempo que eram ideia de honra e força em tempos modernos.

(*) Elen Biguelini é Doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no site.

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