Arrogância do ministro Rosário na CPI da Covid lembrou construtores do Titanic – por Carlos Wagner
O articulista e a fala do Controlador, que “agiu como advogado do Presidente”
A história é velha e muito conhecida. Lembrei-me dela na terça-feira (21/09), quando vi o depoimento do ministro Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU), na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 no Senado, a CPI da Covid. Ele respondeu as perguntas dos senadores misturando arrogância, cinismo e grosseria.
A arrogância do ministro lembrou-me a dos construtores do Titanic, que venderam a ideia de que o navio não poderia afundar. Na primeira viagem, entre Southampton, na Inglaterra, e Nova Iorque, Estados Unidos, entre a noite de 14 e a madrugada de 15 de abril de 1912, o luxuoso transatlântico bateu em um iceberg, no Atlântico Norte, e afundou matando 1.496 dos 2.228 passageiros e tripulantes.
Graças à arrogância dos construtores o Titanic tinha apenas metade dos botes salva-vidas necessários e a isso deveu-se a maioria das mortes desse que foi um dos maiores naufrágios da humanidade, e que rendeu inúmeros filmes de Hollywood – a última versão foi em 1997, estrelada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet – além de uma enorme quantidade de documentários na internet sobre os construtores e a construção do navio.
O ministro Rosário é funcionário de carreira da CGU, foi capitão do Exército por mais de duas décadas e tem vários cursos de especialização. Aos 45 anos, é um típico burocrata de Brasília (DF) que esperava uma chance de progredir na carreira. Foi nomeado para o cargo pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) e aguardava uma oportunidade para mostrar serviço para o seu novo chefe, o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Tanto que insistiu em ir depor na CPI da Covid. Qual era a sua intenção? Por tudo que li e conversei com fontes e colegas a respeito do ministro, ele tem um bom domínio de como funcionam as entranhas da CGU. Aqui darei uma explicação que considero importante. A maior dificuldade que o repórter tem é entender como funcionam as máquinas administrativas federal, estadual ou mesmo a municipal.
Lembro que quando aconteceu a tragédia da Boate Kiss, um incêndio na noite de 27 de janeiro de 2013 que matou 242 pessoas e feriu 680 em uma casa noturna em Santa Maria (RS), eu e outros repórteres ficamos quase um mês batendo cabeça para entender como os órgãos da prefeitura e do Corpo de Bombeiros funcionavam para podermos compreender o tamanho do problema que tínhamos nas mãos e como encontrar os culpados.
Voltando a contar a história. O ministro colocou o seu conhecimento sobre a CGU à disposição do presidente Bolsonaro com o objetivo de “mostrar que os senadores da CPI da Covid não sabem o que aconteceu”.
Os senadores queriam saber sobre a atuação da CGU no caso das vacinas Covaxin, da Índia, que envolveu a empresa Precisa Medicamentos e os irmãos Miranda. Houve uma tentativa de superfaturamento da empresa e o caso foi levado ao presidente Bolsonaro pessoalmente pelos Miranda – há matérias na internet.
Outro caso foi o da vacina AstraZeneca, do Reino Unido, que ficou conhecido como “um dólar por vacina” – há reportagens na internet. Arrogante e cínico, o ministro Rosário brincava com os senadores, esquivando-se de responder as perguntas com argumentos do tipo: “Eu não tenho que saber”.
Quando era apertado pelos inquisidores para dar uma resposta precisa, dizia que o processo estava em andamento e que chegaria nela quando estivesse pronto. Brincou de esconde-esconde com os senadores durante uma boa parte do dia. Até que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) jogou uma isca e o ministro a mordeu.
Fez-se acreditar que não sabia como as coisas andavam da CGU. Aos poucos, como quem degusta um bom vinho, ela começou a explicar como as coisas acontecem dentro da Controladoria. Tomou o cuidado de separar os funcionários da CGU do ministro.
Ela mostrou as datas e pelas mãos de quem os processos tramitaram. E finalmente disse o seguinte: “O senhor é fiscal do governo. Não advogado do presidente”. Rosário perdeu o controle e foi com tudo para cima da senadora. Disse que ela deveria ler tudo novamente porque não tinha entendido nada.
Tebet se irritou. Ele a chamou de “descontrolada”. O pau fechou e a sessão foi interrompida – há matéria na internet. Aqui o que nós jornalistas precisamos ficar atentos. A senadora teve o cuidado de colocar a sua assessoria a descobrir como as coisas funcionam dentro da CGU.
No final, Rosário, que havia ido depor como testemunha, saiu de lá como investigado. E colocou um pedido de desculpas nas suas redes sociais por ter ofendido a senadora. O ministro entrou como caçador na história e saiu de lá como caça.
Foi inteligente porque tratou de se desculpar e com isso ficar longe de uma ação na Justiça que poderia custar o seu emprego, ele que é funcionário de carreira. Seguiu o caminho do auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques.
O auditor entregou para o pai dele, Ricardo Silva Marques, que foi colega de presidente Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, um rascunho com anotações que questionavam o número de mortos pela Covid. E insinuava que os governadores e prefeitos estão inflando o número.
As anotações foram parar nas mãos de Bolsonaro como se fossem um relatório do TCU. Na CPI da Covid, Marques contou toda a história para os senadores – há matérias na internet. No final, salvou o emprego e foi punido com um afastamento, sem salário, de 45 dias. O ministro Rosário começou a pensar no seu emprego.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
Engraçado é ver gente defendendo a ‘respeitabilidade’ do Senado e dos senadores. ‘Vá lavar a tua [boca], vagabundo!’ Ladrão! Picareta! Vagabundo!
Vermelhinhos, obviamente, querem que a população preste atenção no circo porque seria eleitoralmente vantajoso para eles. Na verdade o que querem é o ‘púdêr’ porque faz bem para o bolso. Nenhum susto, circulou na rede video de jantar em SP. Naji Nahas anfitrião. Paulo Marinho presente (o filho é o humorista). Kassab, Temer, jurista conhecido, médico de hospital importante. Johnny Saad (neto de Ademar de Barros). Quem vazou o filme? Paulo Marinho. Para quem? Noblat, o pai, ligado ao PT. Os movimentos peristalticos do establishment são evidentes.