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EDUCAÇÃO. Questionar, agir e transformar: a potência de Paulo Freire é resgatada em “live”

Evento referencia centenário do educador, a ser lembrado em 19 de setembro

Live na íntegra está disponível para visualização no canal de Youtube da Seção Sindical dos Docentes (imagem de Reprodução)

Por Bruna Homrich / Da Assessoria de Imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm)

Na noite da última terça, 31, os princípios da pedagogia de Paulo Freire, cujo centenário será comemorado em 19 de setembro, foram resgatados em live promovida pela Sedufsm. Sob mediação do vice-presidente da seção sindical, Ascísio Pereira, e com contribuição de intérpretes de libras, o debate contou com a presença do professor Luiz Gilberto Kronbauer, do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, e da professora Juliana Goelzer, da Unidade de Educação Ipê Amarelo, ambos estudiosos e referenciados na obra freiriana.

De início, Ascísio já lembrou que a live marca uma série de materiais a serem produzidos pela Assessoria de Imprensa da Sedufsm. Nas próximas semanas, antecipa o docente, serão lançadas quatro edições do programa ‘Ponto de Pauta’, todas trazendo entrevistas com pessoas que dominam os fundamentos e proposições contidas nos escritos e na prática de Paulo Freire.

Práxis freiriana

“Foi a partir de 1980, quando, ao intensificar minha participação em movimentos sociais e organizações populares, especialmente nas periferias de Porto Alegre e vizinhanças, comecei a me interessar pelas leituras e grupos de debate sobre a metodologia freiriana. Foi uma demanda da própria prática – um envolvimento existencial e político ao mesmo tempo”, relembra o docente, que teve a oportunidade de ouvir o educador presencialmente em diversas ocasiões.  

É justamente essa relação da teoria com a prática – intitulada práxis – que Freire tanto prezava. Kronbauer explica que a metodologia freiriana objetiva a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e dialógica.

Entre os anos de 1985 e 1986, o docente realizou seu mestrado sobre os pressupostos filosóficos na obra de Freire. Durante a live da Sedufsm, ele apresentou alguns aportes epistemológicos e antropológicos que sustentam a obra do educador.

Um desses aportes é a presença vigorosa da teoria crítica, advinda tanto da vertente marxista da Escola de Frankfurt, quanto da psicanálise social de Erich Fromm. Com ela, Freire questiona a teoria cartesiana tradicional, que naturaliza a conformação desigual da sociedade, não admitindo serem possíveis transformações estruturais e não observando a gênese social dos problemas.

Outro desses aportes é a fenomenologia, que traz para a obra freiriana principalmente a concepção de que a consciência humana pode objetivar a realidade e de que as pessoas, mesmo sob condições de dominação e oprimidas pela realidade, conseguem buscar nessa realidade os elementos necessários para a formulação de um pensamento crítico e de ruptura. “Existe uma relação dialética e contínua entre ser humano e mundo, ou entre consciência e mundo”, complementa Kronbauer.

Outras questões presentes na obra de Freire e ressaltadas pelo docente foram a importância do afeto e do exemplo nas práticas educacionais, “para que as crianças desenvolvam o direito de dizer sua palavra e se constituam como sujeitos de sua existência e sua história”; assim como a crítica contumaz, feita principalmente em seu ‘Pedagogia da Indignação’, da economia de mercado.

Reinventando Freire

Embora absolutamente contributiva à formação e à ação social, a literatura de Paulo Freire não deve ser repetida, mas reinventada e ressignificada. Essa era a defesa do próprio educador, como relembrou Juliana Goelzer.

O ano que marca o centenário de Freire está imerso em um período no qual o educador vem sendo alvo de duras críticas por parte dos grupos mais conservadores e fundamentalistas, como destacou a docente, lembrando o projeto ‘Escola sem Partido’, que representou uma oposição frontal ao que defendia a pedagogia freiriana. “Nada mais político do que não discutir política, não se posicionar”, reflete.

Recuperar Paulo Freire em nossos dias é, também, recuperar a nossa capacidade de debate, posicionamento e ação. É recuperar a esperança, sem, contudo, entendê-la como “um cruzar de braços e esperar”, pondera Juliana. É resgatar uma concepção de ensino que não se limita a uma transmissão de conhecimento, mas à construção de um encontro real entre educadores e educandos. E isso, alerta a docente, requer uma escuta cuidadosa.

“Com Freire, não vamos encontrar respostas, mas boas perguntas. Ele dizia que precisamos aprender a questionar e a nos assombrarmos com a realidade. Para mim, o que de mais forte existe na obra de Freire é que ela nos ajuda a construir essa compreensão mais crítica da sociedade, trazendo, também, a dimensão política da educação. Educação política não quer dizer educação partidária. A politica partidária é só mais uma das dimensões, mas política, para Freire, tem relação com algo maior e mais complexo – o nosso lugar na sociedade e a nossa tomada de posição”, pondera a docente da Ipê Amarelo. 

Por fim, Juliana destaca a potência transformadora que emerge da pedagogia freiriana, que buscava não só entender o mundo, mas agir sobre ele para que se transforme em algo mais acolhedor e igualitário. “A celebração freiriana não pode ser a celebração de alguém que espera. Mas de alguém que age. Ele já dizia: é preciso unir os diferentes para lutar contra os antagônicos”.

Quem perdeu a live, pode assisti-la na íntegra abaixo ou no canal da Sedufsm no Youtube:

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL (E VER TAMBÉM OUTRAS IMAGENS), CLIQUE AQUI.

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