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ENERGIA. Entenda o risco de apagão e também por que, sim, a conta de luz poderá ter novos aumentos

Governo anunciou aumento da tarifa que pode elevar as contas em quase 7%

Lâmpadas incandescentes devem ser retiradas do mercado brasileiro até 2016 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Do Jornal Eletrônico SUL21 / Texto de Luís Gomes (com foto de Marcell Casal Jr/Agência Brasil

Na última terça-feira (31), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ANUNCIOU a criação de uma nova bandeira tarifária na conta de luz, chamada de “bandeira da escassez hídrica”. As bandeiras de energia são acionadas quando a capacidade de geração de energia do sistema elétrico brasileiro se aproxima do limite e se torna necessário acionar alternativas mais caras, como aumentar a participação das usinas termoelétricas no sistema, mais caras.

Até então, estava acionada a bandeira vermelha patamar 2, que adicionava uma taxa de R$ 9,49 às contas de energia a cada 100 kWh consumidos. A bandeira da escassez hídrica é de R$ 14,20, cerca de 50% mais cara. Segundo a Aneel, em média, as contas de energia dos brasileiros ficarão 6,78% mais caras em razão do aumento.

Na noite de terça, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um pronunciamento afirmando que o aumento é consequência da seca que afeta o País, segundo ele, a pior já registrada. “O período de chuvas na região Sul foi pior que o esperado. Como consequência, os níveis dos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram redução maior do que a prevista”, disse.

O ministro afirmou que, diante da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas, o Brasil teve que aumentar de forma significativa a geração de energia nas usinas termelétricas e a importação de energia de países vizinhos. “Como todos os recursos mais baratos já estavam sendo utilizados, esta eletricidade adicional proveniente de geração termelétrica e de importação de energia custará mais caro”, disse.

A disparada no preço da energia, contudo, pode não ser a única consequência da crise energética. Especialistas vêm alertando há meses que o Brasil pode voltar a viver um cenário de racionamentos forçados e até de apagões, como ocorreu na última grande crise nacional do setor, em 2001. Na terça-feira, em ENTREVISTA à CNN, Bento Albuquerque disse que o “risco de racionamento hoje é zero”, mas ressaltou que a crise hídrica é grave e fez um apelo para que os consumidores poupem energia.

Sul21 conversou ao longo desta semana com especialistas no setor energético com o intuito de tentar compreender o que está na origem da crise, quais serão as consequências para o consumidor, o que ainda pode ser feito para evitar um cenário mais grave e como se pode evitar uma nova crise no futuro.

Quais são as causas do problema?

Professor no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maicon Jaderson Silveira Ramos explica que a matriz elétrica brasileira é composta, predominante, por usinas hidrelétricas (que utiliza a força dos rios) e termelétricas (gera energia a partir da queima de combustíveis). Há ainda usinas eólicas (vento) e fotovoltaica (sol), mas estas seriam importantes para agregar ao sistema, não para garantir a geração em escala necessária para abastecer o país.

Ramos diz que não é possível dizer se a crise energética é resultado de planejamento mal feito, mas ressalta, por outro lado, que a possibilidade de chover menos do que o esperado era uma realidade conhecida do setor. O professor diz que, em 2015, o Brasil tinha passado por um problema de falta de chuvas semelhante. “A diferença é que lá a gente estava numa situação de retração econômica, as pessoas estavam consumindo menos”, diz. “A gente tem uma série histórica que nos mostra que sempre chove no período tal nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, que concentram grande parte da geração hidráulica do Brasil. Só que essa série histórica tem mostrado que a chuva não vem como deveria vir. Então, é esperado que a gente vai ter problemas. Dá para dizer então que quem fez o planejamento se respaldou demais na série histórica”.

Ramos pontua que, na última década, o Brasil tem construído novas hidrelétricas para aumentar a capacidade de geração de energia, mas não tem investido, por outro lado, em construção de barragens para armazenar água em reservatórios — o que ele salienta que é algo que poderia ser discutido do ponto de vista ambiental. “Talvez o problema tenha sido a gente ter se sustentado muito em função desses reservatórios que estão associados à série histórica que mostra que vai chover. Aí não chove, o que a gente faz?”, questiona.

Gilberto Cervinski, mestre em Energia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), avalia que o risco de racionamento não é explicado pela falta de chuva. Ele defende que a crise do setor foi produzida por uma política energética equivocada do País.

“Se tu olhar os dados do sistema elétrico nacional, que estão DISPONÍVEIS no site do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), tu vai ver que a quantidade de água nos reservatórios tem só 29,5%. Na região sudeste, é 21%. Ou seja, é baixíssima a quantidade de água nos reservatórios. Isso significa que tem pouca água. E, ao mesmo tempo, esse esvaziamento não foi produzido agora, ele foi produzido no passado, inclusive no ano passado”, diz.

Cervinski destaca que é verdade, sim, que o Brasil enfrenta um ano de seca, mas pontua que ele sucede um 2020 que foi o quinto ano mais chuvoso das últimas décadas. Ao mesmo tempo, em razão da pandemia, foi um ano de queda no consumo de energia. No entanto, os reservatórios das usinas hidrelétricas já teriam iniciado 2021 com baixas quantidades de água armazenadas. Segundo Cervinski, isso ocorreu por uma política que permite às empresas que controlam as usinas maximizarem os lucros no curto prazo, uma vez que “água parada” nos reservatórios significaria perdas financeiras.

Além disso, já era previsto que 2021 seria um ano de seca, mas o sistema energético do País não estaria preparado. “O governo sabia que viria a seca. Então, o que aconteceu? Eles operaram de uma forma errada o funcionamento das usinas. Esvaziaram a água que tinha armazenada nos reservatórios e criaram um ambiente de escassez, que faz as tarifas de energia elétrica aumentarem muito. E, ao aumentar muito as tarifas, isso aumenta também o lucro das próprias empresas, porque elas são donas de termelétricas que o governo se obriga a acionar e são caríssimas. Então, essa situação não é momentânea, ela foi criada no último período, mas o governo joga que o grande problema dessa situação é culpa da falta de chuva e do povo que não sabe consumir educadamente a energia. Nós temos denunciado que não é culpa nem do clima, nem do povo, para esse caos do setor elétrico do País”, diz.

Na mesma linha, o diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina) Roberto D’Araújo avalia que o Brasil deveria estar preparado para a possibilidade de um ano de seca e que faltaram investimentos em novas hidrelétricas e aumentou muito a dependência de termelétricas, que têm um custo de produção de energia muito mais alto.

“Eu fiz um exame nos planos que a empresa de planejamento energético fez para 2021 há 10 anos, em 2011, que apontava a necessidade de muito mais hidrelétricas. Faltaram hidrelétricas e, no lugar, entraram termelétricas. Mais ou menos 30% de termelétricas entraram por fora do planejamento”, diz. “As termelétricas que entraram são muito caras, metade delas são acima de R$ 400 por mW/h. Então, o que o operador faz? É como se tu estivesse com a tua caixa d’água com 30%, aí a empresa de água não te entrega, vem uma pessoa e diz que vende um litro de água por R$ 50. O que vocês faz, você compra? Não, você vai continuar usando a caixa d’água até a hora que vai precisar usar o litro de água por R$ 50. Então, você tendo termelétricas caras, na verdade, você esvazia os reservatórios até decidir usá-las. Como o Brasil contratou térmicas muito caras, por isso que estamos nessa situação”, diz…”

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Um Comentário

  1. Não ter racionamento só com milagre.
    Embutido na materia está o motivo pelo qual os que optaram por energia solar tem que pagar alguma coisa. Alás, quem não tem bateria de armazenamento (que torna o sistema mais caro) vai ter dor de cabeça também.
    Gilberto Cervinski é agronomo. Especialista em economia politica e especialista em energia e sociedade no capitalismo contemporaneo. Brilhante observação, quiando o percentual de água na barragem é pequeno significa que tem pouca água.
    Estamos por entrar na segunda La Nina seguida a partir de outubro. Problema se arrasta desde o governo Efeaga é verdade. Quanto ao ‘era previsto’ bobagem, sai do La Nina, chuva não normalizou e entrou noutra. Meteorologistas erram até de uma semana para outra.

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