MEMÓRIA. Santa Maria perde um de seus grandes. Aos 83 anos, morre empresário Guido Cechela Isaia
Além disso, era também um grande animador e incentivador cultural da cidade
Por Marilice Daronco / Assessoria de Comunicação das Casas Eny e da Fundação Eny
Faleceu nesta terça-feira, dia 21 de setembro, em Santa Maria, o empresário Guido Cechella Isaia, um dos diretores da Eny Calçados e presidente da Fundação Eny. Guido Isaia foi um incentivador cultural da cidade, orgulhava-se de ter incentivado muitos artistas e autores santa-marienses e projetos locais por meio da Fundação Eny, que ajudou a criar e presidiu até a sua morte. Foi o homenageado da Feira do Livro de 2020, diretor da Rádio Imembuí, da Orquestra Sinfônica, fotografou diversos espetáculos da escola de Teatro Leopoldo Froes e orgulhava-se de ser um grande empreendedor. Era um homem de 83 anos com um currículo extenso, mas que ele gostava de resumir com seu sentimento de amor por Santa Maria, sua gente, sua cultura e sua história.
Guido foi um dos sete filhos de Salvador Isaia e Edith Cechella Isaia. Além dele, o casal teve os filhos Yolanda, Salvador Junior, Suzana, Geraldo, Inês e Rafael. Mesmo conhecendo a maioria dos países, orgulhava-se de ter morado a vida toda na mesma casa onde nasceu, pelas mãos de uma parteira, na Rua Silva Jardim.
Guido teve a infância da maioria dos meninos do seu tempo. Lembrava que, quando criança, gostava de jogar bola na rua, buscar calcário no depósito de subsistência para jogar cinco marias, e brincar de bodoque na Rua dos Carrapichos.
Em conversa com esta jornalista e a arquivista Luiza Haesbaert, em projeto da Fundação Eny, contou: “lá em casa sabiam que tinham que estar de olho em mim, porque eu era danado e gostava de aplicar aquele meu super poder ‘da curiosidade’, que volta e meia me colocava em alguma encrenca” brincou sobre as suas peripécias da infância.
Fora as brincadeiras na rua, existiam outros passatempos: “era uma época maravilhosa, de tomar Cirilinha, buscar laranjas descadas lá na fábrica, no Itararé, e de pular o muro para assistir o circo do Bidico, que se instalava perto de casa, na Floriano com a Silva Jardim. Quanta saudade dos meus tempos de moleque!”.
Quando nasceu, seu pai já era dono de uma ainda modesta loja de calçados, que deu origem à Eny Calçados. Tinha apenas 15 anos quando Salvador Isaia o chamou para ajudar na Eny. Seu trabalho inicial era ir com o carroceiro buscar as caixas de madeira que chegavam de trem na Gare, carregadas de calçados. Depois, tornou-se um grande parceiro de seu pai nos negócios. “Estive ao seu lado em decisões como construir a Galeria do Comércio… meu pai era um empreendedor, um visionário, não é à toa que até o calçadão hoje leva o nome dele. Vi o número de lojas aumentarem. Chegamos a cinco. Ele diria que não se abriria mais do que isso pois gostava de ficar de olho em tudo. Hoje, temos sete lojas, imagino o orgulho de meu pai” contava.
Mas com Salvador Isaia não aprendeu apenas sobre os negócios, também teve importantes lições sobre solidariedade e integração com a comunidade. Foi assim que surgiu a fundação Eny, em 1994.
Com o avô Luiz Cechella, um italiano que era marceneiro, aprendeu a trabalhar com a serra, entalhando madeira. O outro avô, José Isaia, um fotógrafo italiano, fez o possível para manter a sua curiosidade distante dos seus equipamentos fotográficos, mas “na verdade, ele só alimentou a minha vontade de conhecer mais as câmeras”.
Com seu avô José e com seu pai, transformou a curiosidade pela fotografia em uma paixão. Passou a registrar a cidade em diferentes épocas. “Fiz fotos de todo jeito, até lá do céu, aprendi até a pilotar. Ás vezes fazíamos umas manobras que não podíamos, mas se não fossem elas, algumas fotos de Santa Maria hoje não existiriam” contava.
Ele e seu pai também fizeram registros fílmicos de Santa Maria e da família Isaia. Em 2017, eles foram digitalizados por meio de um projeto da Fundação Eny e disponibilizados no Youtube da Eny Calçados.
Quanto aos estudos, começaram no Colégio Franciscano Sant’Anna, onde teve aulas iniciais de música e começou a estudar piano e acordeom. “Era divertido em casa, porque cada um aprendeu um instrumento, então todo mundo gostava de música, nem que fosse pra um assoviar enquanto o outro tocava” contava.
No Colégio Marista Santa Maria, onde cursou o Científico e, depois, o Ginásio. No Científico, se formou contador em 1955. Sua turma realizou vários encontros e, volta e meia, algum amigo aparecia no escritório da Eny Calçados para visitá-lo.
Mesmo quando deixou de estudar no Sant’Anna, volta e meia, seu olhar ia para aqueles lados, afinal, eram lá que estudavam as meninas, na verdade, uma em especial: Norma Beatriz da Fonseca Isaia, com quem foi casado por 57 anos. “A Norma não foi só meu amor de adolescência. Aqueles olhares que trocamos as primeiras vezes já me renderam um casamento, dois filhos, o Guido Junior e a Beatriz, e quatro netos, a Guida, o Simon, o Miguel e o Franco. O meu amor de escola é um amor para a vida inteira” orgulhava-se Guido Isaia.
Guido Isaia deixa não apenas uma história de amor com Santa Maria e, em especial com a Eny Calçados, empresa a qual dedicou toda a sua vida. Seu legado é o de um homem que conseguiu olhar a frente do seu tempo e ainda assim, compreender e ajudar a preservar o passado da cidade. É com o coração cheio de saudade e com as melhores lembranças sobre ele na memória que hoje comunicamos o seu falecimento.
ACRÉSCIMO DO EDITOR: Guido Isaia estava internado no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo desde 16 de setembro e morreu às 22h58 desta terça-feira, 21. Ele nasceu em 10 de junho de 1938.
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