Por que evangélicos pobres estavam ausentes nas manifestações bolsonaristas? – por Carlos Wagner
“A imprensa precisa começar a conversar com eles para saber o que pensam”
Como todo mundo, os evangélicos que apoiam o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), colocam gasolina nos seus carros, compram gás de cozinha, vão a supermercados, têm boletos para pagar e alguém na família procurando emprego.
Portanto, sabem que os preços estão subindo como um foguete devido à inflação – por exemplo, o botijão de gás de 13 quilos já custa mais de R$ 100. E que, além da inflação e do desemprego, também preocupa o ritmo conta-gotas da vacinação contra a Covid-19, que não é só uma ameaça para a vida como um dos fatores responsáveis pela paralisia na economia.
E o que os jornais estão noticiando sobre os evangélicos e Bolsonaro? Estão focados nos pastores, que pressionam o presidente pelo avanço das pautas de costumes. É sobre esse assunto que vamos conversar.
Realmente há pastores aliados a Bolsonaro preocupados com a lentidão com que avança a pauta dos costumes. Como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória, conhecido pelo discurso de ódio às minorias nas suas pregações na TV. E Edir Macedo, da Igreja Universal e também do Grupo Record (TVs, rádios e jornais).
Mas a grande massa de evangélicos, principalmente os neopentecostais, são trabalhadores de baixa renda, portanto se preocupam com os problemas que afligem a maioria dos brasileiros, como o desemprego. A imprensa precisa começar a conversar com eles para saber o que estão pensando da situação.
Na semana passada tive uma conversa longa com um pastor de uma igreja neopentecostal que conheço há duas décadas e alguns anos. A igreja dele fica em uma favela por onde faço um atalho para deixar a minha filha na escola, na zona sul de Porto Alegre (RS).
Nos últimos quatro meses notei que em vários casebres começaram a surgir canos de fogão de lenha. E pela manhã era possível ver a fumaça formar uma espécie de nuvem de baixa altitude, como ocorria antigamente, quando os fogões a gás eram raros por serem “coisa de rico”.
Ouvi do pastor que a maioria da juventude que mora entre os crentes está desempregada porque trabalhava no pequeno comércio, que fechou as portas. “A falta de trabalho para os jovens na vila (favela) é complicada porque os pais perdem o controle e eles começam a se envolver com o que não devem”, disse o pastor.
Também conversei com os meus colegas repórteres de outros estados sobre os evangélicos pobres que apoiam Bolsonaro. A ideia geral que temos é que os trabalhadores de baixa renda estão se afastando do presidente porque problemas como desemprego e inflação estão tornando complicada a vida deles.
Aqui vou fazer uma parada na história para acrescentar uma informação que considero importante. Vou citar uns números, de fontes oficiais, apenas para facilitar a conversa. Voltando à história. Vejamos: os organizadores das manifestações bolsonaristas do Dia da Independência acreditavam que conseguiram colocar 1 milhão de pessoas no ato em Brasília. Colocaram 400 mil, segundo a Polícia Militar. Em São Paulo, a previsão era 2 milhões de manifestantes. Foram 102 mil, informações da Polícia Militar.
O que aconteceu? Há muitas explicações. Mas uma delas diz respeito aos evangélicos, que correspondem a pelo menos 30% dos “apoiadores raiz” do presidente da República. Muitos não foram às manifestações porque não tinham dinheiro e também por não acreditarem que a presença deles mudaria alguma coisa em suas vidas, explicou um colega de São Paulo.
Tenho lido tudo que se publicou sobre a presença dos evangélicos na base de apoio do governo Bolsonaro. Lembro que faz parte do modo de agir das redações dos jornais o uso de uma única palavra para descrever uma situação como se ela fosse um fato único. Não é, na maioria das vezes. E essa maneira de informar acaba confundindo o leitor. Os evangélicos são divididos em denominações diferentes formadas de pessoas ricas, classe média e pobres.
Uma coisa é o andar de cima, onde estão Malafaia, Edir Macedo os ministros evangélicos do governo, que somam seis, entre eles a pastora pentecostal Damares Alves (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), o luterano Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência Social), Marcelo Álvaro Antônio, da Igreja Cristã Aranata (ex-ministro do Turismo), e André Mendonça, pastor presbiteriano (ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo e indicado pelo presidente à vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal). Outra coisa é o andar de baixo, onde estão os trabalhadores de baixa renda que são a grande massa dos evangélicos, principalmente entre os neopentecostais.
Conheço bem a questão dos evangélicos porque um dos focos da minha carreira de repórter foram os conflitos agrários e por conta disso sempre viajei muito pelos rincões do Brasil. Na década de 70 fiz muitas reportagens sobre a instalação das igrejas neopentecostais em regiões pobres do interior e nas favelas das cidades grandes.
No início, existia entre nós jornalistas a conversa de que eles haviam sido enviados ao Brasil pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos com a finalidade de combater os religiosos seguidores da Teologia da Libertação, que defendiam a luta pela terra e a organização popular.
Lembro-me que na época o mundo vivia a Guerra Fria, que tinha de um lado os Estados Unidos, capitalista, e do outro a União Soviética, socialista. E por conta disso as ditaduras militares proliferam na América do Sul. No Brasil, os militares governaram o país de 1964 a 1985.
A Guerra Fria acabou, as ditaduras militares desapareceram e os evangélicos, em especial os neopentecostais, se consolidaram e cresceram. Arrematando a nossa conversa. Uma coisa são os pastores evangélicos e os seus acordos com o governo Bolsonaro. Outra coisa são os trabalhadores de baixa renda que sofrem com o caos do governo como qualquer outro brasileiro.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
Por partes como diria Jack. Manifestação da Avenida Paulista não tinha 2 milhões, mas não tinha somente 102 mil. Cabem perto de 500 mil pessoas por lá (parada LGBT anuncia 3 milhões). Existem ruas laterais mas não aumenta tanto. Ou seja, a estimativa depende do que desejam que as outras pessoas pensem.
Segundo problema, como conseguiram declaração de renda de todos os evangélicos que participaram nas manifestações? Mais um daqueles truquezinhos. Conversa com um pastor de POA (real ou imaginário, dependendo do grau de confiança de quem le no autor) do qual não se sabe o nome e nem as convicções politicas leva a conclusões que são extrapoladas para todo o pais.
Agentes da CIA vermelhinhos por todo lado. Hilario foi ver alguns dando entrevista para a CNN na última eleição americana, davam risada, ‘falmaos mal do Trump e vemos que o pessoal da esquerda não nos chama mais de torturadores e assassinos de crianças’. Conveniencia politica do momento.
Conversa da ‘decada de 70’ é outro costume, inclusive aqui na aldeia. Tem gente que fala ter morado no Centro-Oeste e conta das fazendas gigantes que deveriam ir para reforma agrária, etc. Problema é que o mundo não parou na decada de 70, fazendas por lá (e no resto do pais) agora tem CNPJ (até por conta de planejamento tributário). Algumas tem ações listadas em bolsa. SLC que fabricava maquinas agricolas no RS tem 16 fazendas espalhadas no pais. Ou seja, apelo a autoridade onde a autoridade ‘soy yo’. Lembra a asneira do ‘lugar de fala’ que não para em pé, ‘inventada’ na USP por gente vermelhinha. Basta imaginar um debate com 4 pessoas na mesa. Tres homens e uma mulher. Mulher tem ‘lugar de fala’ para falar dos problemas femininos, opinião dela tem mais peso. Ou seja, tem procuração para falar em nome de 3,5 bilhões de pessoas, representa até as que discordam veementemente dela. Maravilhas da ideologia ‘esquentada’ nos bancos academicos.