O novo, o velho, o normal – por Orlando Fonseca
O cronista, os tempos de retomada pós-pandêmica e o nosso comportamento
Há quem não goste muito da expressão que aponta para um tempo vindouro, agora muito próximo: o novo normal. Confesso que ainda não decidi sobre minha definição de gosto, no caso. Tirando o aspecto de que estou ansioso por retomar muitas das atividades que eu realizava antes de março do ano passado, preciso relativizar tudo o que está para vir.
De um lado, estou quase certo de que não será a mesma coisa, de outro, porém, e quase de modo paradoxal, desejo que seja o mesmo que já vivenciei com tanto prazer. No final de semana em que dois dos grandes eventos culturais de nossa cidade retornam ao calendário de eventos, a Feira do Livro e o Brique da Vila Belga, fui obrigado a pensar sobre o assunto, e estou quase pendendo a achar que é tudo uma novidade, depois de um ano e meio de distanciamento social.
No meio da semana, nosso grupo de amigos retomou o antigo hábito de se encontrar em um bar da cidade, para falar dos livros que lemos e planejar novos livros. Rir também na mesma frequência, lembrar e fortalecer os laços que só os velhos confrades costumam atar.
Ainda não conseguimos reunir todos, pois são tempos de cautela, no entanto, tendo cumpridos os protocolos, sentados ao redor de mesas em espaço aberto, foi um recomeço, um gostinho de novidade em uma rotina que pretendemos retomada.
Essa, eu diria, para tomar meu lado na questão inicial, é a sensação de um normal com ares de novidade. É como reavivar uma alegria há muito agasalhada em retiro, em parcerias compartilhadas pela interface das mídias sociais. Ao ar livre, é outra coisa – sim, a velha coisa, mas experimentada outra vez, é nova.
Em uma reunião presencial, sexta-feira passada, na qual retomamos projetos comunitários discutidos ao longo de 18 meses pelo Google Meet, ao me sentar à mesa, senti como se minhas mãos estivessem formigando. Então me dei conta de que não havia passado álcool gel.
A sensação de normalidade, no caso atual, vai nos cobrando prudência, e não ter seguido um dos itens dos cuidados sanitários, é como se estivéssemos cometendo uma gafe. Assim como, ao entrar na portaria da academia, fones de ouvidos com uma música animada, fico sem entender o que a recepcionista está a me dizer, movimentando o mão à frente do rosto, como se falasse em Libras comigo. Quando tiro os fones, ouço a sua reprimenda: e a sua máscara? Então me retiro envergonhado, pois a havia esquecido no carro. Voltei ao estacionamento para buscar, coberto pelo vexame.
Muitos que já participavam de aglomerações ao longo dos últimos meses, por certo, não têm a mesma expectativa que eu. Portanto, para esses o normal não terá outra novidade que não a ausência de risco para aqueles com quem convivem. Os jovens costumam se achar superpoderosos – não apenas os desta geração, com certeza, também o fomos.
No entanto, nesta pandemia, que não conhecemos em outros tempos, uniu a sensação de poder com o negacionismo. E isso foi uma bomba que produziu muitas baixas. Minha expectativa, nesse caso, é que o normal que se aproxima continue a alimentar os arroubos da juventude, mas que esta o equilibre com a necessária alteridade, pois os desafios que estão à frente exigem ideias e atitudes arrojadas, porém consequentes e responsáveis.
O novo será a manutenção de cuidados e protocolos do período atual – gostaria de que a humanidade tivesse aprendido algo com a pandemia, por isso vou apostar que o novo normal será uma oportunidade para isso. Novo, velho ou o normal de sempre, que o efeito colateral da Covid-19 seja o maior afeto, o solidário cuidado de uns com os outros.
Perdemos gente querida demais neste trecho da caminhada, agora é reunir todo mundo e viver, celebrando nos mínimos detalhes a vida, cuidando com carinho da única casa que temos. Talvez não seja novo, talvez não passe de sonho, o velho sonho de paz e amor, mas já será alguma coisa com se envolver humanamente. Acima de tudo, que a fraternidade seja o normal.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Humanidade não serve e nunca serviu para atender as expectativas de individuos (do latim individuus; todos vem de totus, totum; nem ‘o’, nem ‘a’). Há quem não tenha a noção da propria insignificancia. Não falta quem larque um ‘é inadmissivel’ ou ‘é inaceitavel’ por aí. Podem ficar ‘inaceitando’ e ‘inadmitindo’, nada muda porque ficam ‘brabinhos(as)’. É até engraçado!
Sociologia de farmácia, natureza humana muda devagar, grupos humanos se organizam de maneira cada vez mais complexa, coordenação é cada vez mais dificil. Não é a toa que os vermelhinhos adoram coisas consideradas primitivas. Finalmente não faltam as palavras ‘olha só como sou legal’, alteridade, afeto, solidariedade, paz, amor, fraternidade, ‘humanidade pollyannica’.
‘desafios que estão à frente exigem ideias e atitudes arrojadas, porém consequentes e responsáveis’. Vindo dos vermelhinhos é prenuncio de c4g4d4, ideias que nunca funcionaram em lugar nenhum apresentadas como novas. Argentina não fechou acordo com FMI, congelaram preços de mil produtos e ameaçam com cadeia quem não cumprir, `a lá Sarney. Prenuncio de mercado negro e desabastecimento. Simples assim. Prometem o céu e entregam o inferno.
Esquecer a mascara é normal. Quem nunca? Alcool tem pouco efeito contra o Covid, é um virus respiratorio. Goticulas têm que ficar depositadas numa superficie (efeito varia se for porosa ou lisa), não pode ter sol, ar não pode estar muito seco, o numero de particulas virais tem que estar acima de um determinado patamar, etc. Além disto é Brasil, há que se desconfiar do alcool.
Jovens tem mais exacerbada a noção, comum na população, de que coisas ruins só acontecem com os outros. Cortex pré-frontal não maduro o suficiente talvez. Negacionismo é mais um chavão inventado pelos vermelhinhos e pela imprensa cabeça de bagre para impedir o contraditório. Catando milho, os absurdos, para servir de ‘exemplo’. Velho truque do rótulo, ‘não ouça o que a criatura diz porque é coxinha, fascista, reaça, negacionista’. ‘Não pode falar porque é coxinha, fascista, reaça, negacionista’. Negócio é colocar toda a oposição no mesmo balaio e silenciá-la. Lenin dizia que a única moral aceitável era a que servia os objetivos da causa. Lenin também dizia que não existia moral em politica, um canalha era útil justamente por sua canalhice.
O que se viu na pandemia, em certa medida, foi o resultado do marxismo no ensino de historia. Praticamente só luta de classes e economia, tudo muito simplificado. Os detalhes, o comportamento humano nos diversos periodos historicos se perdeu. Dai que o ‘muitas lições ficarão para o futuro’ não passa de balela. ‘Muitas pandemias virão’, chute sobre o futuro. Feira do Livro? Reduzida, pessoal de fora não veio. LP&M não estava lá, ao menos quando por lá passei. A Calle Corrientes de POA idem. Lançamentos de livros? Escritores que lutam para alcançar a linha da mediocridade não falharam. Todos ‘incriveis, fantásticos, extraordinarios e famigerados’ segundo os amigos e a imprensa local. Tipica mentalidade de cidade interiorana. Por quê? Porque o mesmo acontece em muitas cidades Brasil afora. De Sobradinho a Santa Cruz do Sul. Nesta hora entram as estatisticas para tornar a feira da aldeia ‘melhor’. ‘Maior a céu aberto’. ‘Maior numero de lançamentos’. Ou o marxista ‘da quantidade sai a qualidade’, outra asneira. Paulo Leminski teve um livro relançado em 2012, poesia, autor falecido, vendeu mais que best-seller ianque. Resumo? Enganem-se como queiram, só não tentem enganar os outros.
‘Novo Normal’ foi a tentativa de alguns de utilizar novilingua de forma publicitaria para ‘dourar a pilula’ de medidas restritivas. Alás, nos EUA começou a ser utilizado o neologismo, mais comumente na comunidade ‘nerd’, ‘normies’. Gente cujos gostos, hábitos e estilo de vida são ‘mainstream’. Obvio que o termo é, muitas vezes pejorativo e outras ironico. Logo ‘normal’ não é necessariamente positivo. Há quem tenha orgulho de ser diferente.