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“Guerra Civil”: disputa política é um desrespeito

Já morreram mais de 150 pessoas desde que, na sexta-feira, o crime organizado paulista, liderado por um tal de Marcola, do qual ninguém, fora das fronteiras de São Paulo, já havia ouvido falar, incendiou ônibus, rebelou presídios, atacou prédios públicos e agentes de segurança – e teve o troco em medida talvez até superior.

Passada uma semana, o que se vê? Além do desengavetamento apressado (como que, quase, uma resposta demagógica dos parlamentares federais, fossem eles deputados ou senadores) de projetos que dormitavam no Congresso, acusações de acordo entre criminosos e governo de São Paulo, compra de fita de vídeo de uma discussão que deveria ser secreta em CPI na Câmara e outras coisas, sobressai uma disputa política entre PT e PSDB. Um acusa o outro, e vice-versa, preocupando-se, basicamente, com o processo eleitoral em curso.

Trata-se, na disputa petista-tucana, de um verdadeiro desrespeito às vítimas – “agentes do Estado covardemente assassinados pelo PCC, civis inocentes confundidos com bandidos e criminosos executados por policiais sedentos de vingança”. Essa frase entre aspas foi escrita pelo jornalista Kennedy Alencar, em artigo que acaba (pouco depois da meia-noite) de ser divulgado pelo portal Folha Online e que, talvez, sintetize muito bem o que pensa a porção supostamente mais esclarecida, que, também ela, tenta entender o que está acontecendo no principal Estado do País.

Confira você mesmo, na íntegra, o texto que é igualmente publicado pelo jornal Folha de São Paulo, na sua edição desta sexta-feira:

”O jogo de empurra de PT e PSDB

O PT e o PSDB fazem jogo de empurra para dividir responsabilidades a respeito dos atentados do PCC em São Paulo. Os dois partidos comandam o país desde 1995. O tucano Fernando Henrique Cardoso foi presidente por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). Luiz Inácio Lula da Silva está no Palácio do Planalto desde 2003.

Tucanos administram o Estado de São Paulo desde 1995. O tucano Geraldo Alckmin entregou o governo paulista ao vice, Cláudio Lembo (PFL), no final de março para disputar a Presidência. E o PT governou a capital de 2001 a 2004 (gestão Marta Suplicy).

Os dois partidos tiveram, portanto, excelente oportunidade de melhorar a segurança pública no país, no Estado de São Paulo e na capital. Pela Constituição, a segurança pública é atribuição dos Estados. Mas a União e os municípios podem e devem ajudar a combater a violência.

Numa hora em que deviam unir forças contra o crime organizado, PT e PSDB preferem fazer guerra eleitoral. Petistas querem tirar uma casquinha de Alckmin, que fazia discurso triunfalista na área de segurança pública. Tucanos acusam o governo do PT de cortar verbas do Estado para dividir o problema com Lula.

Essa guerra política é um desrespeito às vítimas: agentes do Estado covardemente assassinados pelo PCC, civis inocentes confundidos com bandidos e criminosos executados por policiais sedentos de vingança.

Especialistas dizem que “o problema da violência” tem múltiplas causas, mas duas seriam as principais. A ausência do Estado e de seus serviços básicos (saúde, educação e lazer) nas periferias das grandes cidades. Nesse contexto, parcela dos jovens sem perspectiva de vida decente é seduzida por criminosos.

A segunda causa seria uma política equivocada de combate ao crime, na qual pura truculência é vista como “tolerância zero”. Essa é a linha executada pelo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.

Estudiosos dizer ser preciso que o Estado chegue de verdade aos mais pobres. E recomendam evitar soluções simplistas e reativas, como o Senado aprovar às pressas um pacote para endurecer a legislação penal.

É necessário reconhecer que não existe receita pronta. Tampouco é um problema de fácil solução num país pobre e com carências em áreas fundamentais, como saúde e educação. Mas PT e PSDB, que cobiçam o poder central, têm a obrigação de pelo menos apresentar um programa de governo com medidas de curto, médio e longo prazo para tentar evitar que o crime organizado tome conta do país.”


SE DESEJAR ler mais sobre a “guerra civil” paulista, há vários sites acompanhando bem de perto os acontecimentos. Sugiro quatro deles: Terra – http://noticias.terra.com.br/brasil/guerraurbana/; Folha Online – http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/, onde foi publicado originalmente o artigo acima; Ricardo Noblat – www.noblat.com.br; e Josias de Souza – http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/. Não são os únicos, por certo, mas, se lê-los, terá informação e opinião de qualidade. Recomendo!

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