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Combustíveis fósseis com os dias contados? – por Marta Tocchetto

A articulista e outro dos temas importantes tratados pela COP 26, em Glasgow

Em 2020, as emissões totais decorrentes dos combustíveis fósseis caíram 5,4%, mas a expectativa para 2021 é que aumentem 4,9%, segundo o estudo do Global Carbon Project.

Os combustíveis fósseis, carvão e petróleo, alavancaram o desenvolvimento da indústria mundial. Há uma forte relação entre o crescimento do setor e a exploração, principalmente, de carvão mineral. Apesar da importância, ele é responsável pelo aumento de doenças respiratórias devido aos particulados e às emissões ácidas, em especial os óxidos de enxofre e de nitrogênio.

Estes compostos agem, igualmente, sobre o meio ambiente poluindo rios e outros corpos hídricos, também são tóxicos à fauna e à flora. A melhoria dos sistemas de filtração implantados nas chaminés, não garante a captura e o abatimento dos compostos resultantes da queima. A substituição do carvão pelo petróleo foi impulsionada pela versatilidade na obtenção de derivados, pelo alto poder calorífico e pela facilidade de exploração e de manuseio.

Se por um lado, as vantagens trouxeram mais desenvolvimento, por outro não amenizaram o problema da poluição. Não se pode esquecer, os grandes vazamentos nos oceanos que envenenam não apenas a água, mas são responsáveis pela morte de muitos animais e pela destruição do habitat marinho. Os combustíveis fósseis com o passar do tempo se tornaram os grandes vilões das mudanças climáticas.

A concentração dos gases de efeito estufa, principalmente gás carbônico e metano, aumentou tanto na atmosfera terrestre que ultrapassou a capacidade de depuração. A destruição das florestas e a poluição dos mares contribuem ainda mais para o agravamento do problema. O sistema de desenvolvimento centrado no lucro e o consumo insustentável se somam às causas da grave situação climática atual, a qual culmina com os colapsos energético e hídrico.

Muitos países que reduziram o uso do carvão, atualmente, têm retomado a este combustível, em virtude da crise energética mundial. Apesar da evidência, o presidente da COP 26, Alok Sharma, previu: “o fim do carvão está próximo”. A tributação do carbono e o incentivo às fontes de energias mais limpas, ao lado de políticas ambientais mais rígidas devem contribuir para uma virada em relação não apenas ao carvão, mas aos demais combustíveis fósseis.

Na ausência do governo federal nas principais discussões da cúpula climática, governadores e prefeitos do Brasil tomam à frente. O Rio de Janeiro, uma das cidades ameaçadas pela elevação do nível dos oceanos, assinou compromisso para reduzir à metade as emissões de carbono até 2030.

Também foi a primeira cidade da América Latina a assinar a declaração para a redução dos investimentos públicos em combustíveis fósseis, como carvão mineral, gás natural e petróleo. Eduardo Cavaliere, Secretário Municipal de Meio Ambiente do RJ e coordenador do CB 27 que reúne todas as capitais brasileiras, disse: “A questão climática é de vida ou morte. Se nós não agirmos agora, quem vai sofrer é a população como um todo, mas principalmente os mais pobres”.

A cruzada contra os combustíveis fósseis continua, 20 países concordaram em suspender, fora de seus territórios, os financiamentos públicos de projetos com combustíveis fósseis, até 2022. Em outro anúncio, em torno de 40 países se comprometeram com a transição de carvão para energia limpa. Não estão na lista Brasil, Austrália, China, Índia, Estados Unidos, Japão e Rússia.

O plano ficou aquém do previsto pela presidência da Conferência da ONU. A transição que pretende ser justa, ou seja, não deixar ninguém para trás, busca encontrar soluções para aqueles que vivem do carvão. O Rio Grande do Sul, que concentra 88% das reservas de carvão mineral do Brasil e até então, evidenciou pretensões de alavancar a exploração carbonífera no estado, segundo Eduardo Leite que participa da conferência do clima, estuda como fazer esta transição.

Recentemente, o estado teve impedido o prosseguimento do projeto de exploração de carvão por falta de comprovação de sustentabilidade. O cenário atual mundial mostra crescimento das emissões totais decorrentes dos combustíveis fósseis.

Em 2020, caíram 5,4%, mas a expectativa para 2021 é que aumentem 4,9%, segundo o estudo do Global Carbon Project. Uma das coautoras afirma: “O relatório é um balde de água fria”. Ela ainda acrescentou: “Mostra o que acontece no mundo real, enquanto aqui em Glasgow falamos sobre como lidar com as ameaças climáticas”.

Distante do palco das discussões da COP 26, a esperança em resultados oficiais efetivos se rarefaz, enquanto os riscos do agravamento de uma catástrofe climática aumentam. Por outro lado, cresce a mobilização popular, especialmente, de jovens, povos tradicionais e da sociedade civil. Talvez seja este o resultado mais importante da Conferência Mundial do Clima e que traz esperança ao futuro da humanidade.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feira

Nota do Editor: a Arte (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é uma reprodução do portal italiano Startmag (AQUI)

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2 Comentários

  1. Até setembro o estado do RJ tinha arrecadado 5,3 bilhões de reais em royalties do petroleo. Só a cidade do RJ 191 milhões. Alás, cariocas estavam tentando anos atrás jogar o dinheiro dos royalties para financiar a previdencia dos servidores. O que poderia dar errado? Emissões cairam em 2020, aumentam em 2021 mas partem de uma base menor. Obvio. Jovens, povos tradicionais e ‘sociedade civil’ (um bando de parasitas pendurados em ONG’s) podem ir se catar, se a China (que não deu muita bola para a conferencia) e os EUA não fizeram contribuições importantes para redução das emissões nada se altera. Slow Joe convidou montadoras tempos atrás para ir na Casa Branca. Assunto carros eletricos. Convidou Ford, GM e a Stellantis (uniao da Peugeot e Fiat Chrysler). Todas utilizam mão de obra representada por um sindicato que apoiou a eleição do atual presidente americano. Alás, o presidente do sindicato também estava presente. Deixou de fora Elon Musk da Tesla. Missão da empresa é ‘acelerar a transição mundial para energia sustentável’. Empresário (que tem seus defeitos, óbvio) abriu mão das patentes da cia para carros eletricos (tecnologia tem que ser utilizada para carros eletricos, não para outras aplicações). Resumo da ópera, não é na conferencia que se decidem as coisas. Aparencias enganam.

  2. Muito simples, tirar carbono preso debaixo da terra e jogar na atmosfera dá problema. ‘O sistema de desenvolvimento centrado no lucro e o consumo […]’, o bom e velho ‘para salvar o planeta temos que acabar com o capitalismo’. Vindo de servidora publica não é surpresa. Orçamento da UFSM é maná que cai do céu, não vem da iniciativa privada capitalista. Alás, a esquerda lá fora, com muitas teorias da conspiração, abraça a ideia do fim do capitalismo e a transição para um tecnofeudalismo digital. Presidente da COP é contador, burocrata, que se tornou politico profissional. Ex-funcionário da Delloite, uma das Big Four. Tributação do carbono pode ter consequencias politicas importantes. França incorporou um componente na taxação dos cumbustiveis em 2014. Incrementos sucessivos da parcela foram um dos motivos para os ‘gilets jaunes’. Medida também altera o comportamento dos paises produtores de petroleo, que ninguém se engane.

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