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Glasgow: a última esperança – Marta Tocchetto

“A conferência do clima não pode falhar. Não há mais tempo para blá,blá,blá”

A conferência do clima não pode falhar. Não há mais tempo para blá,blá,blá. Os países precisam se comprometer com medidas efetivas que garantam a vida no planeta.

O mundo se volta para a Escócia para salvar a humanidade das mudanças climáticas. Viram as costas para as preocupações globais, os presidentes da China, do Brasil e da Rússia. Bolsonaro preferiu ficar turistando na Itália. O medo, a falta de explicações e a ausência de estratégias eficientes são responsáveis pelo plano de retirada do presidente.

No mundo paralelo instituído pelo governo brasileiro não há espaço para meio ambiente, proteção das florestas, bioeconomia, economia de baixo carbono, sustentabilidade, combustíveis limpos, justiça e resiliência climáticas.

No mundo paralelo instituído por Bolsonaro, fazendo jus aos memes que o denominaram de Bolsonero, só há espaço para queimadas, destruição da floresta, petróleo, carvão, gás natural, desmatamento, grilagem, agrotóxicos, injustiça climática, devastação, extermínio de indígenas e quilombolas, preconceitos, fome, garimpo ilegal, maquiagem verde, mentiras, negacionismo, desigualdade social e todo o tipo de ódio e de destruição.

O mundo o vê desta forma, basta ver as manchetes dos principais jornais internacionais. O Brasil, até o Acordo de Paris, gozava de credibilidade e de reconhecimento mundiais pelas iniciativas voltadas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, em especial, proteção a Amazonia. Hoje, o mundo olha com desconfiança e descrédito.

Inúmeros são os exemplos de uma caminhada em marcha ré. Enquanto o mundo estabelece prazos para a eliminação dos combustíveis fósseis rumo a era dos combustíveis limpos, o país realiza leilões para a exploração de petróleo em áreas de preservação ambiental – santuários da biodiversidade.

O fracasso da iniciativa demonstra que o próprio setor evitou colocar sua cabeça a prêmio. Licenciar empreendimentos nestas áreas assemelha-se a erguer arranha-céus em locais movediços. A indústria mundial automobilística e de transporte prevê a não fabricação de veículos à gasolina em curto espaço de tempo. Enquanto isso, no Brasil, os carros e caminhões elétricos possuem os impostos mais caros, um nítido desestímulo à mudança.

A crise energética em decorrência da crise hídrica, reflexo do aquecimento global, é enfrentada com termoelétricas, em vez de a adoção de políticas que incentivem a produção de energia sustentável. O negacionismo às mudanças climáticas acirrará ainda mais a desigualdade social provocada pela pandemia da Covid 19. São os mais pobres que sofrerão mais com o fenômeno.

É de suma importância políticas públicas que contemplem ações voltadas à resiliência e à justiça climáticas, além do direcionamento dos investimentos para medidas de controle da temperatura do planeta para que esta não ultrapasse 1,5 oC da era pré-industrial, até 2030.

Projetos voltados ao controle das transformações irreversíveis decorrentes das consequências sobre o clima são essenciais e devem ser prioridade para o enfrentamento, como restauração de áreas devastadas; recuperação de biomas; proteção da biodiversidade, de mananciais de água doce, dos mares e dos oceanos; novo modelo de desenvolvimento com o fim da era dos combustíveis fósseis; proteção de países e de populações mais vulneráveis, dentre outras que surgirão nas discussões da COP 26.

A conferência do clima não pode falhar. Não há mais tempo para blá,blá,blá. Os países precisam se comprometer com medidas efetivas que garantam a vida no planeta. As medidas envolvem também cada um de nós – reduzir a produção de resíduos; destinar adequadamente os diferentes tipos; separar corretamente os recicláveis; repensar o modo de consumo; dispensar o uso de plástico; priorizar produtos retornáveis; consumir menos carne; economizar água e energia; substituir energia fóssil por fontes mais limpas; escolher governantes que trabalhem em prol do meio ambiente, da justiça social e da biodiversidade; consumir produtos de empresas que demonstrem preocupações socioambientais.

As atitudes em direção às transformações necessárias são muitas e é preciso começar. Que seja hoje! Ao mesmo tempo que não há momento a perder, dá um desânimo quando se vê a Câmara de Vereadores de Santa Maria dispendendo oportunidade, energia e recursos públicos contestando a vacina, a vacinação contra a Covid 19 e o passaporte sanitário com uma crise climática planetária, ameaçadora e devastadora arrombando a porta. Lembro da Rita Lee – estamos no tempo dos Flintstones, enquanto a necessidade é o tempo dos Jetsons.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.

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2 Comentários

  1. Casarão é o Casarão. Edis ganham 9 contos por mês para ficar de palhaçadinha. Se abrisse um buraco no Universo e engolisse o Casarão com todo mundo dentro teriamos um grande problema. De onde teria saido um buraco no Universo?

  2. Putin não foi à Escócia. Xi Jinping (que é engenheiro quimico; Margaret Thatcher era quimica) mandou um pronunciamento escrito. Participa do G20 por teleconferencia, continua em Beijing. Mercado de carbono que vem de Kioto e passou por Paris nunca decolou. Transferencia de grana dos paises desenvolvidos para o Terceiro Mundo também não. Promessas de redução de emissões de metano. Promessa de zero emissão na média de carbono. Promessa de zerar o desflorestamento por muitos paises, inclusive Brasil. Republica Democratica (???) do Congo também prometeu, Pais, como muitos outros da Africa, teve epidemia de sarampo em 2019 que deixou algo como 5 mil mortos. Alás, Guiné teve golpe de estado este ano. Sudão teve golpe de estado no mes passado. Resumo da ópera: o que pode dar errado?

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