O clima – por Orlando Fonseca
O cronista e a Conferência das Nações Unidas sobre a mudanças climáticas
Falar do tempo é uma fórmula de conversação, normalmente, ligada à ideia de “dizer por dizer”, “dizer sem nada dizer”. Em muitas dessas vezes, é apenas um modo de quebrar o gelo, fazer contato para minimizar o constrangimento do silêncio. Bem, mas nunca como agora é preciso falar do tempo, em termos meteorológicos, em termos globais, não apenas do dia, das próximas horas, mas dos próximos anos, das décadas futuras, nas quais nossos filhos e netos vão viver.
Assimilar o repórter do tempo na TV e revesti-lo de uma aura profética e falar nas condições climáticas que estão a nos indicar os perigos de uma temporada catastrófica, com as nuvens pesadas no horizonte. Se as Nações continuarem a “fazer de conta” que estão conversando sobre o tema e debatendo possíveis saídas para o aquecimento global, o papo vai esquentar e, com a Natureza, o papo é reto.
Para quebrar esse gelo, tem aí mais uma reunião de cúpula para falar do assunto e tomar medidas imediatas. Em Glasgow, na Escócia, os líderes mundiais estão reunidos na COP26, e durante duas semanas, discutem ações de combate à mudança climática e as providências para os próximos anos.
E não são apenas os cartazes de ativistas ambientais – jovens em sua maioria, como se pode ver – que estão a indicar o iminente perigo. Medidas relacionadas às condições climáticas ganharam senso de urgência depois dos mais recentes relatórios divulgados pela comunidade científica. Como se fossem notícias de última hora, agitaram a mídia e as assessorias governamentais para o assunto.
No entanto, notícias sobre desequilíbrio ambiental e falta de ações efetivas são pauta antiga, e o que temos visto nos últimos anos é que muito pouco do pactuado em reuniões anteriores foi posto em prática. Além do mais, o que se vê agora, é que os compromissos assumidos pelos 197 países, no acordo de Paris, ainda são insuficientes para manter o aquecimento global abaixo dos níveis acertados.
O caro leitor pode optar a ficar com o senso comum, muito em moda nestes tempos de fake news e toda sorte de bobagens que as autoridades instantâneas da WEB espalham. No entanto, eu prefiro aceitar como base para minha argumentação (e preocupação) o que apresenta o Relatório do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o que ainda falta para que as emissões de gases do efeito estufa sejam reduzidas.
Porque, do jeito como está, não se vai alcançar a meta de estabilizar o ar-condicionado global bem abaixo dos 2 graus e de aumento de 1.5 grau, comparando com níveis pré-industriais. O que deveria ter sido feito está lá, no tal do Acordo de Paris, de modo que nenhuma autoridade pode continuar com o Esquecimento Global, porque os efeitos desta amnésia coletiva oficial, como temos visto, são terríveis. Segundo os especialistas que assinam o Relatório, “nós já estamos num caminho de aumento de emissões, quando na verdade nós deveríamos estar reduzindo drasticamente nossas emissões”.
Isso quer dizer que, além de metas mais ambiciosas, outros temas centrais da COP26 não podem passar como bate-papo diplomático, pois são cruciais para que se anuncie melhora no tempo: o financiamento das medidas, a definição dos termos da justiça climática e o mercado global de carbono.
Aprovado em 12 de dezembro de 2015, o Acordo de Paris acendeu a esperança global, como um momento histórico: pela primeira vez, países do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul se reuniam para debater e propor metas para a interrupção de emissão de gases de efeito estufa. Com o que foi decidido, naquela ocasião, em substituição ao Protocolo de Kyoto, viu-se que era possível afastar o planeta dos cenários mais catastróficos.
Outra vez, e com o sinal de alerta ligado, os países estão reunidos. Não dá mais para perder a oportunidade e se esquivar do assunto, tratando-o como se fosse apenas preocupação de ativistas ambientais. Sem essa de jogar conversa fora sobre o tempo.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Nota do Editor: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução obtida na internet (AQUI).
Autor pode basear opinião no que quiser, não tem importancia. Erro importante cometido por muitos, emitir opinião sobre os grandes problemas da humanidade e esquecer a propria irrelevancia. Famosa sindrome do ‘bagrinho estrategico’. Problema das metas assumidas nestas conferencias é tirá-las do papel. Existem repercussões economicas, sociais e politicas. Canada não denunciou o Protocolo de Kioto porque o PM acordou de mau humor. India tem base energetica no carvão e grande parte da população utiliza carvão e lenha para cozinhar. Um ‘tranco’ na matriz energetica de uma pais com 1,4 bilhão de pessoas não é algo facil. Resumo da ópera: mesmo quem concorda que o problema (que é complexo) existe sabe que não existe solução fácil. Não é flatuar adormecido.
Problema é que o assunto foi tratado lá atrás como Deus fez a mandioca. O usual, ‘mundo vai acabar’, ‘urgencia’, apelos emocionais, tentativa de gerar panico. Sem falar nos vermelhinhos ‘temos que acabar com o capitalismo’, ‘ganancia’. Anos depois pré-fabricaram a Greta Thunberg, uma Malala climatica. Ou seja, ao inves de discussões serias partiram logo para a palhaçadinha, o que gera mais problemas e dificulta as soluções.