Afirmacionismo – por Orlando Fonseca
Que o oposto do negacionismo se fortaleça no ano que vem aí
Quando pensei sobre o tema desta despretensiosa coluna, afinal, trata-se da última crônica deste ano que finda, veio-me à mente o termo do título. Naturalmente, a palavra se refere a uma tentativa de se contrapor ao “negacionismo” que se espalhou como epidemia, pelo mundo, e se aclimatou muito bem no Brasil.
Este é um momento privilegiado em que fazemos de conta que o tempo é compartimentado, não é um contínuo e ininterrupto fluxo de algo que nos separa de épocas, aumenta nossa idade, levando-nos para um ponto que chamamos de futuro, pois não sabemos ao certo do que se trata, enfim.
Pois é, como desejamos que o ano novo seja isso mesmo, novo, uma das coisas que me ocorre para desejar é que o tal do negacionismo perca a sua força. Pois ele tem sido responsável (melhor qualificação seria irresponsável) por mazelas que ainda vão perdurar para muito além do ano que vai nascer.
Como faço, costumeiramente, fui dar uma pesquisada no mister-google, e me deparei com inúmeros artigos e matérias jornalísticas sobre isso: afirmacionismo. Se por um lado fiquei um tanto decepcionado, por não estar fazendo uma abordagem inédita, por outro, até fiquei feliz, pois não sou o único a me preocupar com o assunto.
Óbvio que a minha preocupação é muito mais anti-negacionista do que o interesse em levantar um manifesto pelo Afirmacionismo. Coisa que, aliás, um sujeito muito mais respeitável já o fez na forma de palestra (que virou artigo) em 2001, em Veneza, em uma conferência sobre o Terceiro Milênio que acabava de ser inaugurado.
Alain Badiou, embora um filósofo de reconhecida projeção, não imaginava o que viria logo naquele mesmo ano, o que colocaria em xeque tudo de bom que se pudesse augurar sobre aquele (este) novo tempo.
Bem, estamos aqui, iniciando a terceira década deste século, e não pretendo chegar tão fundo na questão como o fizeram Badiou e Deleuze, mas contra o negacionismo precisamos reagir, no mínimo com afirmacionismo.
E não estamos sós. Em agosto, ao lançar um trabalho realizado em pleno isolamento social, Marisa Monte declarou, em entrevista: “Num momento de negação, de negacionismo, eu quis fazer o de afirmacionismo. A gente já sabe o que a gente não quer. E o que a gente quer? A gente quer meio ambiente, quer a natureza, quer a educação, quer a arte, quer cultura, quer comunhão entre as pessoas, quer a coletividade harmônica”.
Eu não gostaria de outra coisa, como escritor, como agente cultural: promover uma coletividade harmônica, na qual predominassem as afirmações e não as negações. Bem entendido o que se pretende com isso.
Por vezes é preciso dizer não, como anunciado por Belchior no verso: “Enquanto houver espaço, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”, tendo em perspectiva o tempo histórico no qual o Bardo levantava a sua voz. O propósito aqui é reunir forças em torno do que se pode afirmar em favor do humano, minimizando o poder deletério do negacionismo.
No século XIX, em meio à difusão científica, a especialização da ciência em todos os campos (e talvez por causa disso mesmo), formou-se o movimento do “terraplanismo”, resgatado na atualidade, em pleno século XXI.
Daí para a negação de eficácia das vacinas, o descrédito nas pesquisas, nas instituições republicanas e democráticas, no voto, na urna eletrônica, no STF e na imprensa foi um salto. E tudo o que temos visto com olhos de ver, neste atraso a que estamos sendo jogados em nosso país, é resultado da ignorância travestida de um ativismo negacionista.
Um tipo de inteligência menor, egocêntrica, que estabelece: “o mundo deve concordar comigo, se não concorda, é porque o mundo está errado”. Por isso é preciso (re)afirmar o poder da ciência, da cultura e da arte, da democracia, como bens gerados há milhares de anos com o processo civilizatório.
Sob pena de perdermos mais vidas, de retrocedermos em nosso desenvolvimento e transformar a nossa grande Nação em pária no mundo. Se conseguirmos isso, já teremos um grande ano de recuperação da nossa dignidade.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
O brando (sempre obrando), este sim que é relevante… Diversão garantida.kuakuakua
Kuakuakuakua! De negacionismo os vermelhinhos entendem, são uma negação e vivem de negar tudo, até os negacionistas. Inteligencia menor, egocentrica? Quem vive repetindo a mesma cartilha há decadas? Marisa Monte é irrelevante, cantora com carreira em decadencia, não genio da raça. Belchior está morto e os velhos morrem para que o mundo vá adiante. E Badiou que vá tomar caju.