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Bolsonaro ressuscita e radicaliza o negacionismo sobre o poder da Covid – por Carlos Wagner

Para o presidente, o negacionismo é bandeira importante na disputa eleitoral

Presidente Jair Bolsonaro agora resolveu complicar a vacinação das crianças autorizada pela Anvisa (Foto Reprodução)

Toda a confusão armada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), por ocasião da determinação ou não da exigência de passaporte da vacina dos estrangeiros que chegam ao Brasil, teve um único objetivo: lembrar aos seus adversários políticos, ao povo e principalmente à imprensa que ele foi, é e continuará sendo negacionista em relação ao poder de contágio e letalidade da Covid-19.

Foi contra o isolamento social indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), logo no começo da pandemia. Contesta a eficiência das vacinas contra o vírus. Defende o uso de medicamentos apontados pela ciência como ineficientes contra a Covid, como a cloroquina.

E também está se lixando para o relatório de mais de 1,3 mil páginas feito pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 do Senado, a CPI da Covid, que encontrou as digitais dele e de seus ministros no caos provocado pelo vírus que causou mais de 600​mil mortes no país e cenas dramáticas como os óbitos por asfixia devido a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus (AM) e do interior do Pará.

A imprensa tem que se convencer que o presidente acredita realmente no que fala sobre o vírus. E transformou essa sua crença em uma marca na disputa política.

Por conta do avanço da vacinação que está determinando o retorno à normalidade na vida do brasileiro, o negacionismo de Bolsonaro havia desaparecido das manchetes dos jornais. Voltou com a história do passaporte da vacina para estrangeiros devido o surgimento de uma nova variante da Covid na África do Sul, a ômicron.

No sábado, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a exigência do passaporte da vacina para estrangeiros que chegam ao Brasil – reportagens na internet sobre o assunto. Na avaliação do presidente e das pessoas que gravitam ao redor dele, o negacionismo é uma bandeira importante na disputa eleitoral de 2022.

Hoje o principal adversário político do presidente é o ex-juiz federal Sergio Moro (Podemos), que foi seu ministro da Justiça e Segurança Pública. Nas últimas semanas, centenas de eleitores de Bolsonaro têm migrado para o lado do ex-juiz. Moro tem reforçado a sua divergência com o presidente recomendando que todos tomem a vacina.

A pergunta que os bolsonaristas se fazem é a seguinte: Moro não vai precisar dos votos dos negacionistas que apoiam o presidente? Por outro lado, se o ex-juiz apoiar os negacionistas perde muitos votos entre a maioria dos eleitores que defendem a vacina e as recomendações da OMS. Para que lado Moro vai correr?

Moro não vai correr para o lado do bolsonarista raiz, porque ele nunca votará nele. Mas quantos eles representam? Ninguém sabe. Só se sabe de concreto que são barulhentos. Ficará navegando na periferia dos votos do presidente, onde estão aquelas pessoas que votaram em Bolsonaro, mas não defendem os valores do presidente, como o seu negacionismo.

Hoje (13/12), pelos números das pesquisas de intenção de votos para a eleição presidencial de 2022, Bolsonaro e Moro disputam a vaga para concorrer no segundo turno com o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Moro não é o único problema de Bolsonaro. O presidente é apoiado pelos parlamentares do Centrão. São parlamentares, em sua maioria, cascudos na arte de sobrevivência dos seus mandatos. Não precisa ser um gênio em ciência política para saber que a grande maioria dos brasileiros não é negacionista em relação ao vírus.

Muito pelo contrário. Defende a ciência e a vacina. E uma boa parte tem um parente, um conhecido ou um amigo que foi vítima do vírus. Portanto, tem motivos de sobra para não votar em quem é aliado de um negacionista, porque significa colocar em risco a sua reeleição. Bolsonaro renunciaria ao seu negacionismo em nome da aliança política com o Centrão? Ou seja, no atual momento, existem muito mais perguntas do que respostas.

Para arrematar a nossa conversa. Há um papo entre os jornalistas de que o negacionismo de Bolsonaro é a sua ligação com a extrema direita no mundo. Essa ligação é operada pelos três filhos parlamentares do presidente: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo.

A principal bandeira da extrema direita no mundo hoje é ser contra a vacina da Covid. Governos de países europeus como a França e a Inglaterra estão jogando pesado contra as campanhas antivacinação. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden (democrata) também vem apertando o cerco sobre aqueles que se recusam a fazer a vacina.

Durante a confusão da exigência ou não do passaporte da vacina, o ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, lembrou uma frase de Bolsonaro dita na defesa de quem não quer se vacinar: “Melhor perder a vida que a liberdade”. Uma frase que mais parece um delírio.

Tenho dito a respeito do governo de Bolsonaro que ele se parece a uma montanha-russa. Tal a velocidade com que as coisas acontecem. Olhando o governo de fora, a ideia que se tem é de uma baita confusão, onde todos correm para lados diferentes. E onde, por menor importância que tenha o fato, tudo só acontece depois de passar pelo crivo do presidente. Ou dos seus filhos parlamentares. Em um país da dimensão do Brasil e da complexidade da administração federal, só pode dar problemas. Aliás, muitos problemas.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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