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Vão faltar tapumes para esconder as favelas na Copa 2014 – por Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

Coluna Além das 4 linhas, 9 de agosto de 2010 – por Dijair Brilhantes ([email protected]) & Bruno Lima Rocha ([email protected])  

Vão faltar tapumes

Nos dias atuais não há como falar de futebol no Brasil sem citar a copa de 2014. O problema é que até agora, só vimos projetos e maquetes de estádios. Ao que tudo indica, a corrida pela Copa do Mundo é a corrida rumo ao pote de ouro ao final do arco-íris regado a dinheiro público. O Pan do Rio que o diga.

A maior especulação, como não podia deixar de ser, é a loucura atrás de estádios padrão FIFA. Nem a terra da garoa escapa da pressão. São Paulo, a mais importante capital do país, a locomotiva do país segundo uma parte da paulicéia outrora desvairada, uma das doze sedes, até agora não definiu aonde vai realizar os jogos. Será feita uma reforma no Morumbi ou virá a construção de uma nova arena? O que teremos? Piritubão? Pietazão Guarulhense? Vão fazer um estádio no Rodoanel? Ou será que o Corinthians vai ganhar uma cancha nova na Barra Funda ou no Tatuapé? E o que falar de Manaus, (com todo respeito que merece o povo que habita aquela região) que o clube mais importante disputa a série D? Qual a utilidade de um estádio com capacidade mínima para 40 mil pessoas em um estado sem um grande time de futebol?  

Vale uma observação. Nós defendemos neste espaço que todos têm o direito de prestigiar o esporte bretão. De maneira alguma temos a intenção de discriminar qualquer estado, mas pensamos que o futebol não pode – e nem em pensamento – ser tratado como prioridade.

O problema é grave. O governo central aprovou através medida provisória, a desoneração de impostos (PIS/COFINS) para a importação de materiais e serviços para as obras da copa de 2014. O mesmo procedimento poderia ser usado para construção de hospitais, escolas, creches e outros necessários aparelhos sociais. Podem ter certeza, isso também traria enormes “ganhos”, em longo prazo e com menos holofotes, mas traria. Na onda de embonecar as cidades-sede e sub-sedes, nos fica uma dúvida cruel. Usará a FIFA tapumes para esconder as favela e pobrezas do Brasil assim como fez na Cidade do Cabo na África do Sul durante a copa de 2010? Se isso fizer, vão faltar tapumes podem ter certeza.

O México migrou para a América do Sul

O poder político no futebol parece não haver limites. A Conmebol mudou o mapa-mundi, e trouxe o México para a América do Sul. A Confederação Sulamericana de Futebol junto com a Fox TV, usa A Copa “Santander” Libertadores (antes Toyota) como mercadoria. Ao mesmo tempo em que a participação dos clubes mexicanos rende bons lucros na competição, a mesma perde em credibilidade.

O torneio mais árido e difícil do mundo (em nossa opinião), corre o risco de ter um clube de fora do continente campeão. Não se trata de ir contra o futebol mexicano nem qualquer outra bobagem parecida. O contra senso é que o time que ganhar pode não levar o pacote completo, simplesmente porque haveria uma dupla representação. É isso o que pode manchar uma história de mais de 50 anos. E, pela segunda vez um clube brasileiro pode se tornar Campeão do Mundo sem ter sido campeão da Copa Libertadores.

Depois do até hoje contestado título mundial do Corinthians em 2000, agora pode ser a vez do Internacional a bola da vez, ao disputar a final com o Chivas Guardalajara. O colorado pode vir a perder e mesmo assim já está garantido no mundial da FIFA em dezembro. Convenhamos, não precisava ser assim, podendo tranquilamente a representação da Conmebol ser do campeão do torneio organizado pela mui, nobre e valorosa organização comandada pelo paraguaio Nicolás Leoz Almirón, outro imperador que recebera seu cetro em 1º de maio de 1986!

E, preparemos nossos corações porque nem tudo o que não reluz não é ouro, com o perdão do trocadilho. Pelo segundo ano consecutivo, o Mundial de Blatter será disputado em Dubai, um dos sete emirados que compõe os Emirados Árabes Unidos. Trata-se da capital mundial da especulação imobiliária. Dubai forma uma mistura de bolha financeira sobre um tapete de petróleo e funcionando como lavanderia do mundo. E, como onde há dinheiro lá está a Velha Senhora Suíça, é para lá que estarão postas as esperanças de metade do Rio Grande e a secação da outra parte.

Debate presidencial x futebol

Tava na cara que isso iria acontecer. Na última quinta-feira dia 05 de agosto, a TV Bandeirantes organiza e transmite o primeiro debate presidencial em rede nacional. O pastiche da política televisiva contou com Serra, Dilma e Marina em banho-maria e Plínio tentando esquentar as coisas, mas não conseguindo. Logo ali ao lado, outra instituição “paulistocêntrica” recebia a convidados. No mesmo horário, também ao vivo e sendo transmitido pela Rede Globo, em rede nacional e aberta, jogavam pelas semi-finais da Copa Libertadores, São Paulo x Internacional. Basta de comparação, correto?

Não há necessidade de qualquer tipo de pesquisa para sabermos qual destes eventos proporcionou o maior número de audiência às emissoras. Na atualidade não existe possibilidade alguma da política nacional sobrepor o futebol. Nem mesmo os debates dos anos ’80, do reinício da democracia de tipo indireta e baseada na política profissional em nosso país conseguiriam bater um bom jogo. Hoje, na era da “mesmice twitada”, além de vermos um povo desacreditado na política atual, vivemos no país onde se “respira” futebol.

Não vamos nós aqui fazer críticas a quem assistiu o futebol ao invés do debate, mas achamos que de forma alguma dois eventos tão importantes para nós brasileiros poderiam concorrer no mesmo horário em TV aberta. Ou era interesse de alguém não assistirmos o debate? Ou será que o vale tudo concorrencial supera o direito a informação, mesmo que seja esta truncada e pasteurizada como o debate de 5ª dia 05 de agosto? 

Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo e Bruno Lima Rocha é editor do portal Estratégia & Análise (www.estrategiaeanalise.com.br)       

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